Normalmente, quando um treinador assume o comando técnico de uma das principais equipas europeias, os objetivos claros estão relacionados com a conquista do Campeonato, a eventual conquista da Liga dos Campeões ou o prolongamento de uma campanha europeia e a conquista das restantes competições internas para alcançar a hegemonia interna. No caso do Tottenham, porém, o objetivo claro de todos os treinadores que assumam o comando técnico é apenas um: conquistar um troféu, seja ele qual for.

O jejum de títulos dos spurs já leva 14 anos, desde a Taça da Liga de 2007/08 que Juande Ramos conseguiu ganhar ao Chelsea de Avram Grant graças a um golo de Jonathan Woodgate já no prolongamento, e todos os treinadores que se seguiram ao espanhol tiveram como principal desígnio esse objetivo de voltar a levantar um troféu. E todos falharam — Harry Redknapp, André Villas-Boas, Tim Sherwood, Mauricio Pochettino, José Mourinho e Nuno Espírito Santo chegaram e saíram sem palmarés e Antonio Conte foi o nome mais recente a aceitar o desafio de acabar com a maldição do Tottenham.

Esta quarta-feira, os spurs recebiam o Chelsea na segunda mão das meias-finais da Taça da Liga: ou seja, ficavam a saber se continuavam em duas frentes ou se viam a temporada ficar reduzida à Taça de Inglaterra, já que já foram eliminados da Conference League e os 20 pontos que os separam da liderança do Manchester City na Premier League são esclarecedores. Na primeira mão, em Stamford Bridge, o Tottenham havia perdido por dois golos sem resposta e precisava agora de dar a volta à eliminatória para alcançar o passaporte para a final. Conte, porém, não podia contar com Eric Dier, Son Heung-min, Bergwijn e Cristian Romero, todos lesionados, e a apostava em Lucas Moura — que está a viver um dos melhores momentos desde que chegou a Inglaterra.

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“Mudei de posição, estou a jogar no meio. Esta minha mudança de posição aconteceu porque tinha este grande desejo de voltar a jogar na posição em que fui formado, no São Paulo. Na formação, joguei sempre mais centralizado, na criação das jogadas, a aparecer com a bola dominada. Tinha a certeza de que iria contribuir muito mais para a equipa numa posição em que me sinto muito à vontade. Participo mais no jogo e posso ser mais eficaz. Sinto que estou no melhor momento da carreira, em todos os aspetos”, disse o avançado brasileiro, que leva cinco golos e quatro assistências em 13 jogos com Antonio Conte, esta semana.

Do outro lado, aparecia então um Chelsea em vantagem clara na eliminatória mas num momento descendente de forma: os blues venceram apenas um dos últimos cinco jogos na Premier League, estão já a 10 pontos do Manchester City e Thomas Tuchel não escondia que o fantasma da final da Taça de Inglaterra da época passada, perdida para o Leicester, era a gasolina a empurrar a equipa também na Taça da Liga. “Somos muito competitivos e queremos estar na final. Pessoalmente, eu quero estar lá. Quando chegas tão perto como uma meia-final começas a ver e a sentir Wembley no horizonte. Atualmente, é um grande, grande, grande objetivo”, explicou o treinador alemão.

Assim, o Tottenham apresentava-se com Lucas Moura, Harry Kane e Lo Celso no ataque, com Winks e Højbjerg a serem os responsáveis pelo meio-campo, e o Chelsea jogava com Werner, Lukaku e Mason Mount no setor mais ofensivo, deixando a faixa intermédia entregue a Jorginho e Kovacic e usufruindo de um banco de luxo que contava com Thiago Silva, Marcos Alonso, Kanté, Pulisic, Havertz e Ziyech. Numa primeira parte que teve praticamente um único sentido, o Chelsea saiu com uma clara vantagem e desceu ao intervalo com mais do que um pé e meio na final da Taça da Liga.

Lukaku foi o primeiro a ficar perto de abrir o marcador, num lance em que atirou rasteiro para uma defesa de Pierluigi Gollini depois de um passe longo vindo da defesa (11′), mas a equipa de Thomas Tuchel pouco mais esperou para ficar em vantagem. Na sequência de um canto cobrado na esquerda, o mesmo Gollini saiu em falso e não conseguiu agarrar a bola, permitindo um desvio de Rüdiger com as costas que deixou a tarefa do Tottenham ainda mais hercúlea (18′). O Chelsea dominou o primeiro tempo por completo e só permitiu duas ocasiões quase consecutivas aos spurs, com Højbjerg a atirar por cima (31′) e Kane a ficar muito perto de encostar ao segundo poste no canto consequente (32′). No fim da primeira parte, os blues estavam a ganhar de forma clara, demonstrando toda a superioridade que têm nesta altura para o conjunto de Antonio Conte e deixando claro que não pretendiam arriscar o apuramento para a final.

Na segunda parte, a lógica manteve-se. O Tottenham ainda viu o árbitro da partida assinalar uma grande penalidade de Kepa sobre Lucas Moura mas a decisão foi revertida após consulta do VAR — sendo que, já no primeiro tempo, o mesmo árbitro tinha marcado um penálti de Rüdiger sobre Højbjerg que acabou anulado pelo mesmo VAR. O vídeoárbitro voltou a ser a cara do azar dos spurs já depois da hora de jogo, quando Kane acertou na baliza mas não escapou ao fora de jogo (65′), e Conte foi o primeiro a mexer ao trocar Matt Doherty por Sessegnon. Tuchel respondeu com Thiago Silva, Alonso e Ziyech e o relógio avançou tranquilamente até ao apito final e sem qualquer obstáculo ou solavanco ao apuramento e à superioridade dos blues.

O Chelsea voltou a vencer o Tottenham e apurou-se para a final da Taça da Liga inglesa, onde vai defrontar Arsenal ou Liverpool, que só disputam a primeira mão da respetiva meia-final esta quinta-feira. Já os spurs, mais uma vez, voltam a ver as esperanças de uma temporada inteira reduzidas a uma única competição. O que separa uns e outros, nesta altura, é um autêntico mar — e prende-se com o horizonte de títulos que Tuchel tem e um horizonte que Conte nem sequer vê.