O cardeal-patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, em resposta enviada à agência Lusa, afirma-se “preocupado” com a segurança na zona dos claustros da Sé de Lisboa, sublinhando ser acompanhado por outras entidades, como o Ministério da Cultura.

Questionado pela Lusa, o Patriarcado, através da sua assessoria, informa, em comunicado, que “o cardeal-patriarca, o Cabido [da Sé], a Direção-Geral do Património Cultural (DGPC), os deputados da Assembleia da República [e] a ministra da Cultura estão preocupados com a segurança da zona dos claustros”, recordando porém que a intervenção arquitetónica prevista “tem também como objetivo consolidar e reforçar a segurança, quer dos claustros, quer da cabeceira do deambulatório, ‘descalços'” há trinta anos, como resultado das escavações.

Neste comunicado, o Patriarcado de Lisboa justifica o silêncio do deão da Sé, Francisco José Tito, na conferência de imprensa de apresentação da revisão do projeto inicial, pois “no tempo dedicado às perguntas não foram dirigidas ao Deão quaisquer perguntas”.

A assessoria do Patriarcado recorda ainda que, nessa apresentação do projeto para a Sé de Lisboa, ocorrida no passado mês de novembro, “não estavam previstas outras intervenções além da do arquiteto João Carlos Santos [diretor-geral do Património Cultural], no contexto do processo que, desde finais dos anos 1980, decorria nos claustros da Sé, e as do arquiteto Adalberto Dias”, coordenador geral do projeto, tendo estado também presente o engenheiro Aníbal Costa, coordenador dos projetos de especialidade, que não interveio.

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A rematar, o Patriarca realça que a “aprovação de qualquer projeto nos monumentos nacionais é da competência da DGPC [e] as adaptações feitas ao projeto para integrar os achados, entretanto encontrados, teve a aprovação prévia do Conselho Nacional da Cultura, na Secção do Património Arquitetónico e Arqueológico”, sem referir qualquer a data

Quanto à estabilidade da obra, o Patriarcado afirma que “a zona onde decorrem os trabalhos tem sido monitorizada” e, até ao momento, não “parece apresentar ranhuras”.

Na passada segunda-feira, historiadores e arqueólogos reuniram-se e criticaram a ação da DGPC na intervenção no claustro da Sé de Lisboa, e prometeram não baixar os braços para evitar um “erro crasso”.

Os participantes na mesa-redonda “As Obras do Claustro da Sé: Património e Projeto” criticaram o facto de o Estado destruir “património autêntico e raro”, criticando a DGPC por não proteger o património, como é sua missão, e promover a sua destruição em favor do betão, como afirmaram.

O painel de onze especialistas, entre os quais o arqueólogo Carlos Fabião, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, e as arqueólogas Ana Gomes e Alexandra Gaspar, diretoras científicas das escavações, alertou para a necessidade de se proteger os vestígios arqueológicos encontrados, num espaço que apontaram como “de grande centralidade da Lisboa medieval”.

Os especialistas prometeram não parar a sua luta em defesa dos vestígios arqueológicos e está previsto um encontro científico sobre a problemática histórica da Se Patriarcal.

Em novembro passado, em conferência de imprensa para a apresentação do projeto revisto, o diretor-geral do Património Cultural, João Carlos Santos, disse que as obras se iniciariam este mês, para terminarem no final do ano.

No passado dia 07, a agência Lusa questionou a DGPC sobre a data para o anunciado início de obras, não tendo ainda recebido resposta. Hoje, a arqueóloga Ana Gomes, embora não disponha de dados oficiais, admitiu que “talvez [começassem] nas primeiras semanas de fevereiro”.

As obras são comparticipadas pela Conferência Episcopal Portuguesa, com quem o Ministério da Cultura assinou um acordo de cooperação em 2009, e contam com apoio europeu através do programa “Portugal 2020” – uma questão que está a ser revista pela Comissão de Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo, devido aos prazos já ultrapassados.

O ‘programa-base’ para a recuperação da Sé Catedral de Lisboa foi estabelecido em 2012, integrado na Rota das Catedrais, e previa a construção de uma “cripta arqueológica para o percurso de visita ao monumento e ao núcleo de escavações arqueológicas, e ainda a reposição do jardim central dos claustros e a requalificação das suas capelas.

O atual projeto sucede ao pedido da DGPC de um estudo alternativo à exumação dos achados, prevista anteriormente, de modo a “garantir a estabilidade das estruturas a edificar” na Sé de Lisboa, “no sentido de minimizar a afetação dos vestígios arqueológicos” encontrados.

As obras nos claustros da Sé estão suspensas desde fevereiro do ano passado, estando prevista a retoma dos trabalhos no início deste ano.