Antigo ministro das Finanças socialista diz que houve “razões políticas” por trás da incapacidade de dar uma resposta que o país precisava e que fosse “capaz de convencer os mercados”. Na Grande Entrevista da RTP, na quarta-feira, Teixeira dos Santos diz que “houve sempre muita relutância em tomar medidas que pudessem ser suficientemente fortes e ousadas para enfrentar a crise”.

“Reconheço que a nossa resposta foi insuficiente. Não foi capaz de convencer os mercados. […] Por razões políticas que também aqui refiro. Tinha custos políticos. Houve sempre muita relutância em tomar medidas que pudessem ser suficientemente fortes e ousadas para enfrentar crise”, disse Teixeira dos Santos notando que Portugal precisava “de uma bazuca internacional como a que existiu agora”.

Teixeira dos Santos disse ainda que Sócrates “foi empurrando o problema para a frente” mesmo depois do alerta do responsável pelas Finanças quando a Irlanda pediu ajuda externa: “Disse ao primeiro-ministro que a seguir íamos nós, o primeiro-ministro quis adiar, esperar por Espanha, foi empurrando o problema para a frente”.

Sobre a intervenção da troika, Teixeira dos Santos considera que “o país ficou mais robusto” e que desde 2013 o país “está numa situação de equilíbrio externo”. “Em 2015 ainda não estava corrigida inteiramente a situação do défice, mas as finanças públicas estavam numa trajetória de correção e melhoria. Desde 2013 que Portugal está numa situação de equilíbrio externo, em que as importações não são superiores às exportações. É a primeira vez desde o século XIX que isto acontece”, notou.

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O antigo ministro disse ainda ter pedido a demissão a José Sócrates, depois da negociação “difícil” do PEC4. Ainda que Sócrates tenha aceitado a demissão de Teixeira dos Santos, com a queda do governo na sequência do chumbo do novo PEC a saída do ministro acabou por não acontecer.

“A negociação do PEC 4 foi muito difícil, vi que a relação entre o governo e a bancada do Partido Socialista foi muito difícil por minha causa e pedi a demissão. O primeiro-ministro compreendeu e aceitou o pedido de demissão, mas acabou por não se concretizar porque o programa não foi aceite e o próprio primeiro-ministro pediu a demissão”, disse ainda na entrevista.

Sobre a situação atual do país, Teixeira dos Santos destacou ainda que o principal desafio para Portugal é “o desafio da produtividade” e que o país “precisa de mais investimento”.

Analisando a carga fiscal sobre os portugueses, diz o antigo ministro das Finanças que “o peso dos impostos está abaixo da média da área do euro”, mas que “sendo Portugal um país que está na cauda europeia em termos de rendimento o ónus [dos impostos] é mais significativo”, defendendo “todo o esforço que seja possível fazer para aliviar essa carga fiscal”.