Se a noite na Sérvia está a ser marcada pela indignação, a manhã na Austrália adensou ainda mais a trama em torno de Nova Djokovic: à semelhança do que tinha acontecido no final da última semana, o número 1 do ranking mundial ATP vai aguardar pela presença no Tribunal Federal num centro de detenções para imigrantes, esperando nesse local por uma audiência marcada para horas antes daquela que poderia ser a estreia no primeiro Grand Slam do ano – e que parece ser cada vez mais um cenário em risco.

Como explica a CNN, a detenção ocorreu esta manhã de sábado em Melbourne (final da noite em Portugal) e foi justificada pela decisão de revogar o visto do jogador pelo ministro da Imigração, Alex Hawke. O sérvio é acusado de fornecer informações falsas às autoridades australianas no pedido do visto, quando disse que não tinha feito qualquer viagem nos 14 dias que antecederam a chegada à Austrália – algo que o próprio jogador assumiu que estava errado, sublinhando que se tratava de um equívoco “humano”. Novak Djokovic foi ouvido pelas autoridades fronteiriças australianas às 8h da manhã locais (21h em Portugal), ficando acordado por todas as partes que o local onde ficaria detido seria segredo para “evitar circos”.

O jornal The Age acaba também de anunciar uma decisão do Tribunal Federal em relação a este processo: a audiência que em princípio funcionará como ponto final de toda a novela está marcada para as 9h30 de domingo na Austrália, 22h30 de sábado em Portugal. A hora foi aceite em comum acordo com as duas partes, havendo apenas divergências em relação à possibilidade de haver a decisão de apenas um juiz ou do conselho constituído pelos três juízes – uma decisão importante em termos processuais, na medida em que, caso não seja decidido apenas por um juiz, Alex Hawke perderá depois a possibilidade de recurso.

Depois da decisão tomada pelo ministro da Imigração na última madrugada, a Sérvia tomou esta sexta-feira uma posição de força a vários níveis mas até entre essa unanimidade houve uma voz que não soou da mesma forma: Zoran Gojkovic, secretário e oficial de saúde sérvio, garantiu à CNN que o jogador recebeu o resultado do teste PCR no dia 16, conforme está no certificado entregue como prova na Austrália, pelo que não consegue justificar as declarações de Djokovic quando disse que tinha sabido ao final do dia 17.

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“Têm de perguntar a Novak Djokovic quando é que viu a sua caixa de correio e abriu o email. A única coisa que posso dizer é que foi gerado um documento válido e que foi entregue logo nesse dia. Se diz que recebeu apenas no dia seguinte, tem de ser uma pergunta feita ao próprio”, disse Gojkovic. “Não existe nenhuma hipótese de não ter recebido a notificação nem existe nenhuma hipótese de poder ter chegado atrasada”, acrescentou ao mesmo órgão um porta-voz da primeira-ministra sérvia. A CNN acrescenta um outro dado: um produtor do canal fez um teste em Belgrado e recebeu o resultado por email dois minutos depois de o mesmo ter sido apurado, embora nem sempre seja assim e o tempo possa sofrer variações.

“Quando a tirania mostra a sua pior face, é nosso dever falar. Muitos não vão reconhecer que estamos a ir por um caminho perigoso porque a tirania tem uma maneira astuta de se disfarçar como um ato de bem e quem se manifesta é frequentemente recebido com reprovação e indignação, como acontece com o nosso irmão Novak Djokovic. Na nossa sociedade moderna podemos andar distraídos e facilmente esquecemos lições da história. Quando a liberdade individual é comprometida, isso é errado em termos morais e em termos constitucionais. Devemos proteger a soberania individual ou podemos perder tudo”, escreveram num comunicado o príncipe Filipe, filho de Aleksandar Karadjordjevic, e a mulher, Danica.

“Costumam pregar sobre o estado de direito mas conseguem imaginar se um ministro da Sérvia anulasse decisões judiciais? Eles mostraram como poder judicial é independente mas também irrelevante porque o poder está todo no executivo. Se era para proibir Novak de ganhar o troféu [Open da Austrália], porque não o deportaram de imediato? Porque não disseram que era impossível obter um visto? Porque têm de maltratar e assediar a ele, à família e a uma nação livre e orgulhosa? Vale tudo para ganhar eleições e agradar às pessoas (…) Vamos lutar por Novak e o facto de que o assediarem por um, dois ou cinco dias não mudará a nossa opinião. Podem escrever centenas de milhares de artigos maus sobre ele mas continuará a ser o melhor tenista de todos os tempos”, frisou Aleksandar Vucic, presidente da Sérvia.

“O novo cancelamento de visto, que aconteceu devido a pressões políticas, levou a um novo arrastamento não só do sérvio mas também de uma referência do desporto mundial para os tribunais e para a detenção. Ainda não sabemos o final mas acreditamos que alguém que conseguiu ganhar tudo o que havia para ganhar e que merece o título de melhor tenista de todos os tempos só pode triunfar na Austrália”, salientou a Federação Sérvia de Ténis, pedindo a todas as instituições mundiais para que defendam “a integridade do ténis”. “Este não é apenas um ataque a Novak Djokovic”, acrescentou o órgão.