Enquanto esteve em Portugal, ao serviço do Benfica, Bruno Lage habituou-nos a conferências de imprensa sui generis. Nunca se limitou a dizer o expectável, explicava os sistemas táticos que aplicava com um detalhe que não deixava de ser entusiasmante e lembrava os pais, a mulher, os filhos e os amigos, recordando tantas vezes que o futebol era apenas a coisa mais importante das menos importantes da vida. Agora, já em Inglaterra, Bruno Lage não mudou.
Depois de ter falado sobre o computador ZX Spectrum na antevisão da partida da Taça de Inglaterra contra o Sheffield United, o treinador português aproveitou a antecâmara da receção ao Southampton para explicar a origem dos bons resultados que tem alcançado na Premier League. “Estou muito feliz, desde o primeiro dia. Estes seis meses deram-nos muito tempo para trabalhar com consistência e foi isso que fizemos nos últimos jogos, o que é muito importante para uma equipa. Não podemos ter medo de ter a bola, de entrar com personalidade. Com o talento que temos aqui, podemos crescer como equipa. Analisamos tudo através de três palavras: consistência, personalidade e o talento dos jogadores”, indicou Lage.
Smiling as we get set for the Saints!
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— Wolves (@Wolves) January 14, 2022
Palavras à parte, importavam os factos: o Wolverhampton chegava a esta jornada enquanto a segunda melhor defesa da Premier League (só atrás do Manchester City), com quatro jogos seguidos sem sofrer qualquer golo, sem perder há mais de um mês e no 9.º lugar da classificação com dois encontros ainda em atraso. A equipa de Bruno Lage está a atravessar o melhor momento da temporada e era nesse contexto que recebia o Southampton — um conjunto que também não sofria qualquer derrota desde a mesma altura, o início de dezembro, e que tinha apenas menos quatro pontos na tabela.
Sem Rúben Neves, que testou positivo à Covid-19 nos últimos dias, Lage lançava João Moutinho e Dendoncker no meio-campo e colocava Podence e Trincão em conjunto com Raúl Jiménez no ataque. A maior surpresa, porém, surgia na defesa: Toti Gomes, defesa português de 22 anos que passou pelo Estoril, era titular no trio de centrais do Wolverhampton e engordava a armada portuguesa no clube. Gomes foi contratado pelos ingleses na época passada, tendo sido emprestado aos suíços do Grasshopper quase de imediato, e regressou à Premier League já durante o atual mercado de inverno. No banco, para além de Adama Traoré, apareciam Bruno Jordão e Fábio Silva.
A Wolves debut this afternoon.
Good luck, Toti ???? pic.twitter.com/ZRJ2gH7VNS
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Na primeira parte, o Wolverhampton começou por ter mais bola mas o Southampton demonstrava maior facilidade na hora de chegar a zonas de finalização. José Sá evitou o primeiro golo ao defender um remate de Perraud (20′) e só a partir daí é que a equipa de Bruno Lage soube responder ofensivamente, com Podence a forçar Fraser Forster a uma intervenção atenta (27′). Foi neste período que acabou por surgir o momento decisivo do primeiro tempo: Bednarek fez falta sobre Aït-Nouri dentro da grande área e o árbitro assinalou grande penalidade depois de analisar as imagens do VAR, com Raúl Jiménez a abrir o marcador na conversão do penálti (35′). Os saints reagiram muito bem à desvantagem e poderiam ter chegado rapidamente ao empate, através de um cabeceamento de Salisu que Sá defendeu (41′) e uma enorme perdida de Tella (42′), mas o Wolves conseguiu mesmo ir para o intervalo a ganhar pela margem mínima.
No segundo tempo, Ralph Hasenhüttl decidiu mexer de imediato e tirou Ibrahima Diallo para lançar Ché Adams. O Southampton continuava a apresentar um futebol positivo e que nunca ficava sem ideias, com aproximações ao último terço adversário e uma solidez interessante na faixa intermédia, mas voltou a ser traído pela eficácia do Wolverhampton. Já depois de ter um golo anulado por fora de jogo (56′), Coady aproveitou um ressalto na sequência de um cabeceamento de Kilman ao poste e encostou para aumentar a vantagem (59′), agarrando com as duas mãos a terceira vitória consecutiva da equipa.
Até ao fim, com alguma emoção e muita indefinição à mistura, Ward-Prowse ainda reduziu a desvantagem de livre direto (84′) e os saints ficaram à beira do empate através de Perraud, que acertou no poste (90′). Nos descontos, porém, Adama Traoré fechou as contas com um remate cruzado na sequência de um contra-ataque e fez xeque-mate (90+1′).
Com a vitória frente ao Southampton e ainda que se tenha sentido a falta de Rúben Neves no meio-campo, o Wolverhampton somou o terceiro resultado positivo consecutivo, cimentando-se no 8.º lugar da liga inglesa e ainda com dois encontros em atraso, apesar de ter sofrido um golo quatro encontros depois — ainda que de bola parada. Bruno Lage voltou a ganhar, voltou a sorrir e ainda teve tempo de oferecer um dia feliz a Toti Gomes, o novo menino português a brilhar na Premier League.
Three goals. Three points. ???? #WOLSOU
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