Se a manhã em terreno alentejano ficou a cargo da prata da casa, com João Oliveira a fazer as honras, o primeiro comício em tempo oficial de campanha ficou nas mãos de João Ferreira que assegurará as restantes ações de campanha até ao previsível regresso do secretário-geral Jerónimo de Sousa. O discurso está bem ensaiado e é claro: evitar um voto útil no PS que poderia levar a um hipotético bloco central e mostrar que a culpa do chumbo do Orçamento do Estado é dos socialistas socialistas.

Com António Costa a dizer que tanto PCP como BE foram “irresponsáveis” no momento do chumbo que precipitou eleições legislativas antecipadas, os comunistas aproveitam o palco para devolver a acusação. “António Costa vai ter que perceber que esta é uma acusação [de irresponsabilidade] que faz ricochete na realidade e o atinge e cheio. Foi uma irresponsabilidade recusar o que a CDU propôs”, apontou João Ferreira acrescentando já um recado para o futuro: “É uma irresponsabilidade também continuar a recusar essas medidas”.

Hostilizando o PS e usando o estado do Serviço Nacional de Saúde, João Ferreira aponta a “sobranceria de quem pede maioria absoluta” e as falhas de Costa que “a primeira coisa que vai fazer é apresentar a proposta de orçamento que sabe que não tem as soluções necessárias para o SNS”.

De olhos no dia 30, o candidato a deputado — embora em lugar não elegível por Lisboa — alerta para aquilo que foi a solução “à Guterres”: “É bom lembrar o que significa. Foram anos em que o PS aprovou orçamentos viabilizados pelo PSD ou antes ainda pelo CDS. Avançaram privatizações de importantes empresas públicas como a PT, a Brisa, a Cimpor ou a Tabaqueira que davam recursos que podiam ser canalizados para o que hoje dizem não ter dinheiro”.

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João Ferreira, com um estilo mais discreto no púlpito queJerónimo de Sousa, ainda conseguiu arrancar uma gargalhada ao bem composto auditório Bocage em Setúbal, quando mencionou a “grande preocupação demonstrada pelo PS em relação aos baixos salários”. Riram-se os comunistas na sala, com Ferreira a aproveitar para lembrar que “empurram tudo lá para o fim da legislatura” como fizeram quando governaram com maioria absoluta.

“Não nos esqueçamos que o PS quando teve maioria absoluta tinha feito acordo com sindicatos para fixar salário mínimo nacional em 500 euros em 2011, agora falam em mil euros lá para 2026, mas é aqui e agora que vivem os trabalhadores”, disse embalado pelas palmas e cartazes levantados pelos comunistas à medida que foi tocando os temas da saúde, educação e cultura.

Com a caravana comunista entregue nos próximos dias a João Ferreira, a CDU andará nos distritos de Lisboa, Santarém, Coimbra e Aveiro a tentar capitalizar votos mesmo de quem “até hoje não esteve com a CDU”. “Mudámos, em 2015, o curso da história que alguns estavam a escrever, fechámos a porta à direita e permitimos avanços concretos na vida das pessoas”, disse Ferreira começando já o apelo ao voto até porque importa lembrar que milhares de portugueses votam já daqui a uma semana: “Ninguém pode ficar em casa dia 30, só os que lá forem dia 23”.