Dois dias, três cidades diferentes, um bastião (Braga), duas autarquias roubadas ao PS (Barcelos e Lisboa). Mais uma voltinha no carrossel, mais uma demonstração de força e de capacidade de mobilização. Rui Rio desceu a Avenida da Igreja e, tal como tinha acontecido na véspera em Barcelos, voltou a ser perseguido por um mar de gente.
“Já fiz muitas campanhas, como tenho dito, sou quase um profissional de eleições, sei que no fim aparecem sempre mais pessoas, mas o facto de aparecerem no início é significativo”, assumia um surpreendido Rio no final de uma arruada caótica, onde valeu quase tudo menos arrancar olhos e onde ficou mais uma vez evidente que existe preocupação do aparelho social-democrata em criar um efeito cénico impactante.
Nem tudo é encenação, ainda assim. Parte da massa humana que se juntou à campanha nestes primeiros dois dias fê-lo, de facto, de forma espontânea. Isso foi evidente me Barcelos e voltou a repetir-se esta terça-feira, em Lisboa. Em 2019, Rui Rio até teve tempo e espaço para engraxar os sapatos; desta vez, era praticamente impossível chegar perto do líder social-democrata. A campanha do PSD tem uma dinâmica diferente e há um fator em particular que faz a direção de Rui Rio acreditar: Carlos Moedas, que não faltou à chamada do líder social-democrata.
[Ouça aqui a reportagem da Rádio Observador na campanha do PSD, em Lisboa]
“Sinto na rua o que já sentia como candidato à Câmara de Lisboa: que as pessoas querem essa mudança, e sobretudo o projeto para o país que o PSD tem. É por isso que estou aqui a apoiar Rui Rio e o PSD, temos de mudar”, afirmou o agora presidente da Câmara Municipal de Lisboa, que se juntou à bolha onde seguia Rio a meio da arruada – onde já antes estavam Suzana Garcia, Isabel Meirelles e Ricardo Batista Leite, por exemplo.
A vitória surpreendente de Carlos Moedas foi o bater de asas que está a marcar o arranque da corrida eleitoral de Rui Rio. Quanto à mensagem política, para lá de todo o carnaval típico de campanha, foi a mesma: se Costa insiste em colar o PSD à direita, insistindo nos papões da prisão perpétua ou na privatização da Segurança Social e do SNS, algo que o líder do PSD já esclareceu exaustivamente que não pretende, Rio exige “elevação” e verdade.
“Se António Costa insistir neste pingue pongue vai ficar a falar sozinho. O que o PS tem feito não é apresentar as suas propostas, é procurar dizer que nós propomos o que não propomos. Hoje recuperou a ladainha da prisão perpétua, se for assim vai ficar naturalmente a falar sozinho. Espero que a campanha ganhe elevação”, atirou Rui Rio.
O núcleo duro do líder social-democrata está perfeitamente consciente de que a estratégia de António Costa é tentar colar Rui Rio à direita liberal e à agenda do Chega para assustar o eleitorado mais moderado – precisamente aquele que Rio luta desesperadamente para conquistar. Daí a insistência do presidente do PSD em repetir a mensagem: um voto no PSD é um voto seguro. “António Costa está a tentar meter medo aos portugueses. Vem aí o papão de direita. O PSD nem sequer é direita, estou farto de dizer. O PSD é de centro”.
Parte do resultado eleitoral será definido por quem conseguir impor a narrativa aos eleitores. Para já, e num dia com uma agenda mais limitada em virtude do debate entre todos os candidatos marcado para as 21 horas, Rio saiu da freguesia de Alvalade com o embalo de mais uma missão cumprida. Voltará à capital apenas no último de campanha e novamente ao lado do amuleto chamado Carlos Moedas.
Nota ainda para um tema que invadiu a campanha: o Ministério Público pediu a condenação do secretário-geral do partido, José Silvano, e da deputada Emília Cerqueira pelo crime de falsidade informática no âmbito do caso das presenças-fantasma. Rio desvalorizou o caso, Silvano acabou a dizer que vai ser ser absolvido. Resta saber se o caso vai ou não contaminar o resto da disputa eleitoral.