A Associação Conquistas da Revolução quer criar um monumento para recordar a vida e obra do general Vasco Gonçalves (1921-2005), projeto cuja elaboração foi aceite pelo arquiteto Álvaro Siza e que vai ser apresentado à Câmara Municipal de Lisboa.

Contactado esta segunda-feira pela agência Lusa, Manuel Begonha, presidente da associação criada em 2012 para preservar a memória, vida e obra do militar e político que foi primeiro-ministro durante quatro governos provisórios a seguir à Revolução do 25 de Abril, indicou que na quinta-feira, em Lisboa, vai realizar-se uma reunião para preparar o processo a entregar ao presidente da autarquia, Carlos Moedas.

As celebrações do centenário do nascimento já estão a decorrer desde 2021, com várias iniciativas, mas a criação do monumento ao pensamento relevante deste homem seria o ponto alto, e muito importante, para avivar a memória de um exemplo, sobretudo para os jovens, sublinhou o responsável da associação.

Sobre o convite feito ao arquiteto Álvaro Siza, Begonha disse: “Já falámos com ele e mostrou-se muito satisfeito por ter sido escolhido para desenhar o monumento, até porque ele era amigo de Vasco Gonçalves”.

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Da comissão de honra das comemorações, que tem como lema “a moral e a política vão de par e não se podem dissociar”, fazem parte militares e civis que estiveram em lados diferentes da Revolução do Cravos.

A lista, composta por uma centena de pessoas, desde a área da cultura, militar e política, inclui, além de Álvaro Siza, Dinis de Almeida, Duran Clemente ou Mário Tomé, mas também militares do lado do “grupo dos nove”, como Vasco Lourenço, presidente da Associação 25 de Abril.

O historiador António Borges Coelho, o arqueólogo Cláudio Torres, dirigentes políticos como Carlos Carvalhas e Jerónimo de Sousa, do PCP, Heloísa Apolónia (PEV), a atriz Maria do Céu Guerra, Manuela Cruzeiro e Pilar del Rio também integram esta comissão.

Questionado sobre as razões pelas quais a cidade deveria acolher um monumento a Vasco Gonçalves, o presidente da Associação Conquistas da Revolução apontou várias: “Foi do grupo dos que constituíram o MFA [Movimento das Forças Armadas, movimento militar responsável pela Revolução do 25 de Abril de 1974], era o oficial mais graduado, ocupou todas as funções públicas que na altura era possível ter, até chegar a primeiro-ministro de quatro governos provisórios”. Além disso, “deu cumprimento ao programa do MFA, teve projeção internacional, e com ele se fizeram as grandes transformações do país, parte das quais ainda estão na Constituição Portuguesa”.

Manuel Begonha sustentou ainda que, “face à atual ascensão das forças de extrema-direita, entende a associação que as ideias de Vasco Gonçalves devem ser preservadas”.

A serpente foi apenas queimada, não foi morta. Ela permanece, portanto. Nós não queremos voltar ao passado”, comentou, referindo-se à “difusão de ideias de teor fascista”.

Na sua opinião, “há um contributo relevante para a sociedade que ainda pode ser dado pela história” do general Vasco dos Santos Gonçalves, nascido em Lisboa, a 3 de maio de 1921, e que morreu em Almancil, a 11 de junho de 2005.

Vasco Gonçalves foi chefe dos Governos Provisórios entre 18 de julho de 1974 e 10 de setembro de 1975, e o seu nome era aclamado nas manifestações e comícios durante o PREC em slogans como “força, força, companheiro Vasco, nós seremos a muralha de aço”, de uma canção interpretada por Maria do Amparo e Carlos Alberto Moniz.

O período em que chefiou o governo ficou conhecido por “gonçalvismo” e ficou marcado principalmente pelo combate aos monopólios e aos latifúndios.

A nacionalização da banca e dos seguros, a par da aceleração da Reforma Agrária, foram decisões emblemáticas do “gonçalvismo”, ainda hoje sinónimo de extremismo de esquerda para as forças de direita.

Na próxima quinta-feira, a associação vai reunir a sua comissão executiva criada para dar seguimento ao projeto do monumento, e eleger uma delegação que irá pedir audiência ao presidente da CML para entregar a proposta.

Questionado pela Lusa sobre quem irá custear a construção do monumento, o presidente da associação disse: “Não sabemos. Por isso estamos na expectativa desta reunião com a câmara de Lisboa”.