O presidente da Aliança Global para as Vacinas (GAVI) pediu esta segunda-feira solidariedade aos doadores e transparência aos fabricantes, assinalando a marca de mil milhões de doses de vacinas contra a Covid-19 distribuídas em 144 países.

Nós, juntamente com a União Europeia, a AIDVAX e outros parceiros, estamos empenhados em garantir um acesso rápido e equitativo às vacinas de Covid-19, ajudando os países a cumprir as suas metas nacionais de vacinação. Mas para atingir essas metas, nomeadamente à luz do surgimento da variante Ómicron, é necessário que os parceiros também nos ajudem, pediu José Manuel Durão Barroso.

O presidente da GAVI intervinha, por videoconferência a partir de Lisboa, na abertura da primeira Conferência Anual da Política Externa (CAPE), realizada por Cabo Verde, através de um ato presencial na cidade da Praia.

No sábado, Durão Barroso anunciou, na rede social Twitter, que o mecanismo internacional de partilha de vacinas para a Covid-19 Covax atingiu os mil milhões de doses distribuídas em 144 países.

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O mesmo responsável voltou a sublinhar esses números, considerando que é fruto de um “esforço notável” dos doadores, apesar de várias dificuldades, mas defendeu que se pode fazer mais.

Nós podíamos ter distribuído muito mais vacinas se tivesse havido uma maior ajuda por parte de alguns dos nossos parceiros. Os doadores devem observar os princípios da nossa intervenção conjunta sobre doações de doses, em particular garantir que as doações tenham pelo menos 10 semanas de vida útil, e venham com acessórios como seringas, diluente e também custos de frete incluídos, sugeriu.

Quanto aos fabricantes das vacinas, disse que devem observar a transparência nos cronogramas de entrega e priorizar a Covax sobre negócios bilaterais, garantindo um fornecimento estável e previsível.

Durão Barroso deixou ainda uma mensagem também para os países beneficiários, afirmando que devem preparar-se para a implementação em larga escala, fazendo uso de todo o financiamento e apoio disponíveis, incluindo do Banco Mundial ou outros bancos multilaterais de desenvolvimento.

Para o presidente da GAVI, os países devem evitar “toda a complacência”, alertando que a pandemia da covid-19, que já provocou a morte de mais de cinco milhões de pessoas em todo o mundo, ainda não acabou.

“A palavra de ordem é evitar complacência, não diminuir a vigilância – ninguém está a salvo até todos estarmos a salvo — não baixar a guarda, ainda há muito que fazer ao nível nacional e global”, afirmou, alertando para a possibilidade de haver novas variantes da infeção.

Durão Barroso voltou a destacar a “resposta rápida” com a produção de vacinas, mas também a criticar a “resposta desigual” no acesso às mesmas, predominando a “injustiça”, com muitas vacinas a chegarem a países mais ricos, mas não ao mesmo nível a países vulneráveis.

O mecanismo internacional de acesso equitativo à vacina Covax é coliderado pela GAVI, pela Organização Mundial da Saúde e pela Coligação para a Inovação na Preparação para Epidemias. O sistema Covax foi criado numa tentativa de impedir que os países ricos monopolizassem o acesso às vacinas, que ainda estão a ser produzidas em quantidades demasiado pequenas para satisfazer a procura global.

O Governo cabo-verdiano instituiu a Conferência Anual da Política Externa (CAPE) para discutir questões pertinentes à política externa e à diplomacia do país.

A conferência inaugural, que acontece em formato híbrido (presencial e virtual), teve a abertura do Presidente da República de Cabo Verde, José Maria Neves, enquanto o encerramento, na terça-feira, caberá ao primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva.

Os “Desafios da diplomacia cabo-verdiana face à pandemia de Covid-19” é o tema do evento, que teve ainda como orador convidado Courtenay Ratray, subsecretário-geral da ONU e Alto Representante para os Países Menos Avançados, Encravados e Pequenos Estados insulares em Desenvolvimento.

A conferência vai contar ainda com intervenções de diplomatas, políticos, o presidente da Plataforma das Organizações não-governamentais (ONG) e investigadores do país e da diáspora.

Durão Barroso insta Europa a ter “papel mais construtivo” face à pandemia

O antigo presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, instou esta segunda-feira a Europa a ter um “papel mais construtivo” face à pandemia da Covid-19 e elogiou a decisão da UE de avançar para a mutualização da dívida.

Numa intervenção, por videoconferência a partir de Lisboa, na abertura da primeira Conferência Anual da Política Externa (CAPE), realizada por Cabo Verde, através de um ato presencial na cidade da Praia, o antigo primeiro-ministro de Portugal sublinhou que a União Europeia tem vindo a afirmar progressivamente aquilo que é conhecido como autonomia estratégica.

“Quando vemos potências mais assertivas, mais agressivas ou mais imprevisíveis, os europeus têm tido a tendência para entenderem que têm que defender os seus interesses de forma mais política e não apenas técnica”, constatou, dizendo que isso está agora na agenda da atual presidência da União Europeia, que é exercida pela França.

E penso que a União Europeia pode aí ter um papel mais construtivo. A União Europeia tem, de facto, quando os países que a compõem estão unidos, um papel e um peso maiores do que aquilo que normalmente se reconhece”, salientou o atual presidente da Aliança Global para as Vacinas (GAVI), para quem a UE continua a ser um bloco económico global de grande influência.

O mesmo responsável recordou que quando foi da crise financeira, apesar dos apelos para que houvesse uma mutualização da dívida, isso não foi possível, mas perante a emergência da pandemia da Covid-19, disse que essa questão voltou a ser aceite pelos Governos, com levantando de mais de 750 mil milhões de euros no mercado global para fazer face à pandemia.

“Eu penso que isso é um aspeto positivo”, avaliou Durão Barroso, que elogiou a “excelência” da diplomacia cabo-verdiana, dizendo que tem “gente muito preparara, com grande interesse de sentido nacional, que mostra flexibilidade e inteligência”.

“Cabo Verde é um país que tem ganho respeito, precisamente pela sabedoria, pela prudência, pelo bom senso, pelo sentido de equilíbrio que tem dado à sua intervenção externa”, completou, dizendo que o país tem consolidando a sua opção por uma abertura.