O antigo presidente da Comissão Europeia disse esta segunda-feira que o mundo vive um “momento difícil” nas relações internacionais e alertou para o risco de “desglobalização” por causa dos nacionalismos, que disse continuam a “minar” a ordem internacional.

Esse nacionalismo continua a minar a ordem internacional e é um risco decorrente para uma ordem internacional baseada na paz e na estabilidade”, alertou José Manuel Durão Barroso, numa intervenção, por videoconferência a partir de Lisboa, na abertura da primeira Conferência Anual da Política Externa (CAPE), realizada por Cabo Verde, através de um ato presencial na cidade da Praia.

Esclarecendo que o nacionalismo de que se fala tem a ver com o desprezo ou pensar ser-se superior aos outros, que é diferente de patriotismo, o antigo primeiro-ministro de Portugal e atual presidente da Aliança Global para as Vacinas (GAVI) notou uma “tensão cada vez maior” entre os Estados Unidos da América e a China e preocupações em fronteiras europeias.

“Se há uma coisa que o mundo não precisa agora — na realidade não precisa nunca — é de guerras entre potências”, salientou, apelando para a paz, paciência e negociação, mas ao mesmo tempo chamando atenção para as “guerras híbridas“, com ciberataques e “soldados não identificados”.

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“Ou seja, estamos numa situação de grande imprevisibilidade e de grande instabilidade e isso nos preocupa”, prosseguiu o antigo dirigente, insistindo na necessidade de “cooperação sincera e forte” em bens públicos globais, como a saúde pública, luta contra as alterações climáticas, estabilidade financeira, luta contra o terrorismo, e mantendo os interesses de cada um dos países.

“Em todos os domínios, devia-se evitar que a competição, que é natural, se transforme em confrontação”, apelou Barroso, alertando para o risco de uma “desglobalização”, com um mundo fracionado, generalização dos conflitos, pessoas mais inseguras e mais ameaças ao progresso económico e social.

É muito cedo para dizer que chegamos ao fim da globalização. A verdade é que o comércio e o investimento internacional têm mostrado grande resiliência, apesar de todas as dificuldades, mas também é verdade que há essas ameaças que vem do tal nacionalismo extremo e de conflitualidades de tipo novo que assistimos atualmente, constatou a mesma fonte.

Durão Barroso foi um dos oradores convidados da Conferência Anual da Política Externa (CAPE), que o Governo cabo-verdiano instituiu para discutir questões pertinentes à política externa e à diplomacia do país, e é organizada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, Cooperação e Integração Regional do país.

A conferência inaugural, que acontece em formato híbrido (presencial e virtual), teve a abertura do Presidente da República de Cabo Verde, José Maria Neves, enquanto o encerramento na terça-feira caberá ao primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva.

Os “Desafios da diplomacia cabo-verdiana face à pandemia de Covid-19” é o tema do evento, que teve ainda como orador convidado Courtenay Ratray, subsecretário-geral da ONU e Alto Representante para os Países Menos Avançados, Encravados e Pequenos Estados insulares em Desenvolvimento.

A conferência vai contar ainda com intervenções de diplomatas, políticos, o presidente da Plataforma das Organizações não-governamentais (ONG) e investigadores do país e da diáspora.