Jane Goodall é considerada a maior especialista do mundo em chimpanzés. Durante 60 anos levou a cabo um estudo sobre as interações sociais destes animais no Parque Natural de Gombe Stream, na Tanzânia, e concluiu que os chimpanzés são capazes de comportamentos muito semelhantes aos dos humanos. Mas, apesar dessas semelhanças, a primatóloga considera que não faz sentido querer direitos iguais para humanos e animais — o que não significa maltratar animais, como mantê-los encarcerados.

“Há quem peça os mesmos direitos para animais e humanos. Isso é ridículo”, afirmou a especialista numa entrevista ao El País, publicada esta quarta-feira a propósito do lançamento de O Livro da Esperança (ed. Nascente) em Espanha. “Mas é importante não esquecer a responsabilidade humana e tentar encontrar uma forma adequada de tratar os animais.”

A primatóloga norte-americana considera que manter animais fechados é uma forma de abuso que não deve ser permitida, defendendo que “os animais devem estar livres na natureza”. “Todas as religiões do planeta têm uma norma de ouro: ‘Trata os outros como gostasses que te tratassem a ti’. Devíamos tratar os animais como queremos que nos tratem”, afirmou Goodall.

Sublinhando que a questão dos direitos dos animais não deve ser encarada como uma questão “a preto e branco”, Jane Goodall defendeu que a agricultura intensiva deve ser combatida, mas de forma incremental: “Não podemos fechar de um dia para o outro todas as explorações agrícolas de grande escala, mas podemos trabalhar para que as condições de vida dos animais que estão nelas melhorem.”

Goodall, que através do seu estudo dos chimpanzés desmentiu cientificamente a ideia de que só os humanos são capazes de usar ferramentas, destaca ainda que 98,6% do ADN de humanos e chimpanzés é idêntico. E deixa claro que elementos partilhamos com essa espécie: “Os nossos gestos, beijos, abraços, palmadinhas, a habilidade de fazer e usar ferramentas, a relação entre membros da mesma família, a relação entre irmãos, a evolução das crias [e o facto de que] também têm o nosso lado obscuro, a brutalidade, a capacidade de entrar em luta. E também o amor e a compaixão. Todo o espectro.”

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