Foi para “aquecer” que, quando ainda não eram 10h30, Francisco Rodrigues dos Santos bebeu uma ginjinha. E para “dar energia” que, no espaço de cinco minutos, tomou dois cafés em estabelecimentos diferentes do Mercado do Livramento em Setúbal — um deles da gama “belíssimo”, “que é o que nós precisamos: um resultado belíssimo”.

O duplo café é para aguentar o dia que se espera longo? Não, responde, mas um hábito que vem de trás e que está no sangue do partido. “O café é uma forma de encontrar um elemento para conviver com as pessoas. Estou habituado a beber muitos cafés, sabe que já é uma tradição, os líderes do CDS bebem muitos cafés. O Paulo Portas bebia mais cafés do que eu, e tinha bons resultados eleitorais, talvez o segredo esteja no café.

Francisco Rodrigues dos Santos bebeu dois cafés no espaço de cinco minutos, mas recusa que seja pelo “cansaço”

Em cerca de meia hora, o líder do CDS falou com comerciantes do mercado, entregou canetas (muitas, com o lema “Pelas mesmas razões de sempre”) e até dançou — pela primeira vez, frisou — ao ritmo do hino do CDS, a par com outra comerciante, “conterrânea” de Rodrigues dos Santos que está “dia sim, dia não” no Livramento. Para ela, outra caneta, e para a “netinha Sofia” também.

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Pelo meio da visita ainda conheceu Alegria, depois Esperança, que lhe ofereceu um dos cafés, mas com um aviso — “Você quando tiver as eleições vem cá beber um cafézinho comigo”. Francisco Rodrigues dos Santos tem recusado comentar sondagens, que apontam para uma perda de terreno do CDS e o discurso tem sido otimista. “A esperança é a última a morrer, mas também não me tem faltado esperança. Ainda bem que a conheci hoje. Já conheci uma pessoa chamada Alegria, agora Esperança, são tudo sinais de que as coisas vão correr bem no dia 30.”

Mas não passou muito tempo até Francisco Rodrigues dos Santos voltar à carga com o PS, com quem garante nunca fazer nenhum “arranjinho”. Foi quando alguém lhe confessou que está “farto de António Costa pelos cabelos” que prometeu “libertar o país do António Costa e do PS”. E acompanhado pela cabeça de lista do CDS por Setúbal, Cecília Anacoreta Correia, renovou os apelos ao voto que, assegura, não serão “desperdiçados” nos democratas-cristãos para tirar a esquerda do Governo. Francisco Rodrigues dos Santos quer ainda recuperar o deputado que o CDS perdeu pelo círculo de Setúbal nas eleições de 2019.

Líder do CDS esteve cerca de meia hora no mercado

“Nenhum voto no CDS é desperdiçado. Nós de certeza que não fazemos arranjinhos com a esquerda e António Costa. O CDS diz isto claramente, não tenha receio de votar no CDS, nunca será um voto desperdiçado”, respondeu-lhe. E até ouviu dizerem que quando era Paulo Portas líder do partido “votava sempre nele”. “Agora tem de votar em mim também”. Se Rodrigues dos Santos conseguiu convencer a eleitora é uma incógnita. O que para ela parece certo é que o democrata-cristão é “diferente da televisão”. “Na televisão parece que é mais gordo”.

“Muda o ministro, mas as trapalhadas mantêm-se”, diz Rodrigues dos Santos sobre adiamento da conferência de imprensa do MAI

Em declarações aos jornalistas, Francisco Rodrigues dos Santos criticou esta quarta-feira o Governo por “correr atrás do prejuízo” e saltar de “trapalhada em trapalhada” quanto ao possível voto dos infetados e confinados nas próximas eleições.

Depois de o Governo ter adiado uma conferência de imprensa que chegou a estar marcada sobre o tema porque, afinal, ainda não tinha recebido o parecer da PGR, Rodrigues dos Santos atira: “Muda o ministro, mas as trapalhadas mantêm-se e a incompetência continua a ser a pedra de toque infelizmente”, disse.

O líder dos centristas voltou a defender que o Governo poderia ter alterado a lei eleitoral permitindo que as eleições se realizassem em dois dias: dia 29 para isolados e infetados, dia 30 para a população em geral. “Devia estar em aberto possibilidade de a comissão permanente no Parlamento reunir para procurar respaldo constitucional que permitisse alterar a lei eleitoral, porque a solução ótima era realizar as eleições em dois dias”, frisou.

Além disso, argumenta, deveria ter emitido uma resolução em conselho de ministros para “excecionar regras de confinamento”, de forma a permitir que os infetados e confinados votassem “numa janela de horário informando a população em geral que naquele período poderiam estar a votar infetados e confinados”.

Rodrigues dos Santos deixou ainda críticas à própria ministra da Justiça, que herdou a pasta do MAI após a demissão de Eduardo Cabrita. “Esta ministra da Justiça não tem pautado mandatos pelo denodo e profissionalismo e competência”.