O número de vagas abertas pelo Ministério da Saúde foi superior ao número de alunos que acabaram a especialização, como aliás tem sido norma nos últimos concursos, mas cerca de um terço dos lugares para médico de família ficou por ocupar. De entre o total de 235 vagas disponíveis (sendo que, na segunda época de 2021, foram 91 os alunos que terminaram a especialidade de medicina geral e familiar), foram preenchidas apenas 160, revelou esta terça-feira o gabinete de Marta Temido. “Estima-se que o recrutamento destes 160 médicos permita que cerca de 300 mil utentes tenham acesso a médico de família”, pode ler-se em comunicado.

De entre as 160 vagas ocupadas, revela ainda o mesmo documento, 93 foram na Administração Regional de Saúde (ARS) do Norte, 32 na ARS de Lisboa e Vale do Tejo, 27 na ARS do Centro, 6 na ARS do Algarve e 2 na ARS do Alentejo. Significa que, na região de Lisboa, por sinal a mais carenciada, metade das vagas não tiveram candidatos e ficaram assim por ocupar. No Norte, das 98 vagas disponibilizadas, só cinco ficaram por ocupar.

Este foi o segundo concurso aberto para os recém-licenciados de 2021 e, tal como o primeiro, em agosto do ano passado, em que 167 de 459 lugares não tiveram candidatos, cerca de um terço das vagas ficaram em branco. Para colmatar esta carência — no fim de 2021 mais de 1,1 milhões pessoas não tinham médico de família, 783 mil delas na região de Lisboa e Vale do Tejo — o Ministério da Saúde informou ainda que, pela primeira vez, as Unidades Locais de Saúde vão ter autorização para recrutar médicos e as Administrações Regionais de Saúde vão poder abrir novos concursos para preencher as vagas que não tiveram candidatos.

“Foi uma grande vitória. Só havia 91 recém-especialistas e foi possível recrutar 160. Ou seja, foi-se buscar ao privado 69 médicos”, disse ao Público desta quarta-feira João Rodrigues, coordenador para a área de cuidados de saúde primários do Grupo de Apoio Técnico à Implementação das Políticas de Saúde. Ainda assim, continua a não ser suficiente e, defendeu ao mesmo jornal André Biscaia, presidente da Associação Nacional das Unidades de Saúde Familiares, para o SNS conseguir cativar mais profissionais “é preciso melhorar as condições de trabalho, requalificar equipamentos e instalações, e oferecer perspetivas de futuro”. Sem que isso aconteça, acrescentou ainda, muitos médicos vão continuar a preferir “arranjar soluções temporárias — como trabalhar à tarefa, fazer urgências, ir para o sector privado ou emigrar — do que ficar em locais em condições muito precárias, com uma pressão enorme porque há milhares de pessoas sem médico de família”.

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