Uma professora acusada de tratar dois alunos de doutoramento como escravos recebeu 15.000 libras (cerca de 18.000 euros) de indemnização, já que as denúncias não foram comprovadas. Entre elas, os estudantes alegaram que foram obrigados a cortar as árvores do jardim, a mover móveis pesados, a deitar fora o lixo e a comprar roupa interior, noticia o The Telegraph.

Quando iam comprar roupa interior, Shuang Cang “gritava em público” e, entre as exigências, estaria “ajudar a despir e dar uma opinião”, menciona o relatório. Ter-lhes-á ainda exigido que tivessem 12 horas do dia disponíveis para realizar tarefas para si.

Depois de os estudantes garantirem que eram “apenas criados”, a professora da Universidade de Northumbria, no Reino Unido, começou a ser investigada pela polícia por crimes de escravatura moderna. Quando foi presa, Cang ficou “visivelmente chocada”, porque achava ter uma boa relação com os estudantes e via-os “como filhos”. Acrescentou ainda que só se recorda de lhes ter pedido para lavar a loiça e engomar durante meia hora.

Os alunos, ambos chineses, admitiram recear não acabar o doutoramento se não cumprissem as ordens da professora de 59 anos. Um deles referiu até que faz parte da cultura chinesa “obedecer ao que os professores mandam”.

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Durante a longa investigação policial, Shuang Cang negou as acusações e insistiu que eram exageradas no que considerou ter sido um “ataque colaborativo” contra ela. Mesmo assim, acabou por ser demitida da universidade por má conduta.

Agora, o tribunal decidiu que Cang foi injustamente demitida, já que não havia forma de provar que as acusações eram verdadeiras. No veredito final, um dos estudantes, um homem de 34 anos de Xangai, é identificado como “ZW”, enquanto o outro aluno, “DC”, é uma mulher casada de 30 anos.

Existem enormes lacunas no interrogatório dos alunos e há áreas que precisavam de ser mais bem investigadas para procurar corroboração real ou a falta dela.

O juiz mostrou-se ainda desagradado, com base no que sabe agora, “e com as óbvias lacunas no interrogatório de ZW e DC”, com o facto de “a universidade ter tirado partido das sérias alegações contra a professora Cang, que provavelmente nem acontecerem”, mencionou o juiz Tudor Garnon, citado pelo mesmo jornal.

O tribunal considera existirem “sérias preocupações” de que ZW tenha cometido plágio e não podia nem queria ser descoberto, enquanto DC pode ter tido um “motivo para mentir ou exagerar” para prolongar o tempo concedido para estudar no Reino Unido.

A professora Cang ganhou 14.884 libras (cerca de 17.720 euros) por demissão injusta, 2.234 libras (cerca de 2.674 euros) pela licença anual e 30,34 libras (cerca de 35 euros) por despesas não pagas. Terá de pagar 1.000 libras (aproximadamente 1.197 euros) à universidade por alegações de discriminação e assédio.