Foi por entre selfies (três), abraços (com máscara pelo meio) e gritos de simpatia (“A Catarina é pequenina como eu, é daí que saem as mulheres grandes”) que Catarina Martins avançou pelo meio da feira da N ossa Senhora da Hora, em Matosinhos, este sábado. Ainda precisou de lidar com um palhaço que a meio do caminho insistiu em oferecer-lhe um balão em forma de coração — e dar-lhe “os parabéns pela mulher que é” — para acabar os cumprimentos e chegar à política, depois de ouvir vários recados de pensionistas descontentes.

Ora se o fim dos duplos cortes em algumas pensões (não se aplicam à maior parte dos pensionistas que pedem a reforma atualmente) é uma das propostas em que o BE insiste e que Costa diz ser o principal motivo para a esquerda não ter chegado a acordo no Orçamento, por supostamente pôr em perigo a sustentabilidade da Segurança Social, Catarina voltou à carga. “Já acabou para quase toda a gente, mas algumas pessoas ainda vivem com esse corte. Portugal não pode tratar assim quem trabalha. É tão importante que avancemos com esta justiça básica”, argumentou.

Até em nome do legado da geringonça: “Fizemos muito caminho entre 2015 e 2019 mas temos um sistema de pensões que ainda tem injustiças relativas muito grandes. Agora o PS parece querer impor, de uma forma intransigente e inexplicável, que algumas das pensões mantenham os cortes. Um sistema simples é o passo que falta no caminho”.

Pelas contas do Bloco, isto implicaria acabar com os cortes apenas para os 42 mil pensionistas “apanhados” pela mudança das regras entre 2014 e 2018 e para um em cada dez dos que pedem a reforma atualmente. E será isto uma condição obrigatória para um acordo à esquerda? “É uma condição de justiça para o país. Este entendimento não podemos ultrapassar”.

O problema é que Costa continua a virar as costas à esquerda, concentrando-se apenas em duas soluções para governar: ter maioria absoluta ou governar “à Guterres”, fazendo entendimentos caso a caso com os vários partidos — incluindo o PSD. Questionada pelos jornalistas sobre se será importante os partidos de esquerda darem sinais de estarem disponíveis para chegarem a acordo até às eleições, a líder bloquista aproveitou para passar a bola a Costa: “O único partido que não dá sinais é o PS, portanto talvez seja bom fazerem essa pergunta a António Costa. Tenho respondido com toda a clareza todos os dias sobre os compromissos que o Bloco está disposto a assumir depois das eleições”.

Na feira houve quem pressionasse para ver isso mesmo acontecer: “Vou dar-lhe um voto de confiança. Não gostei da história do Orçamento, mas vou dar-lhe esse voto de confiança”, sentenciava um dos clientes das bancas. Mas, até ver, não há sinais de fumo branco do lado do PS.

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