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British Medical Journal critica falta de acesso a dados brutos de testes a vacinas

Este artigo tem mais de 2 anos

O British Medical Journal diz que falta transparência na informação sobre os testes às vacinas contra a Covid. A revista aponta o dedo à Pfizer e já entrou em guerra com o Facebook por causa disso.

NHS Wales Starts Covid-19 Vaccination Campaign
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A polémica foi gerada por denúncias de falhas nos ensaios clínicos da vacina da Pfizer

Getty Images

A polémica foi gerada por denúncias de falhas nos ensaios clínicos da vacina da Pfizer

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A revista científica British Medical Journal (BMJ) diz que pouco foi feito na última década para aumentar a transparência dos ensaios clínicos de vacinas e medicamentos.

“Hoje, apesar da distribuição global de vacinas e tratamentos contra a Covid-19, os dados de participantes anónimos que alimentam os testes destes novos produtos, continuam inacessíveis a médicos, investigadores e ao público — e o mais provável é que se mantenham assim nos próximos anos. Isto é moralmente indefensável para todos os ensaios, mas especialmente para os que envolvem grandes intervenções de saúde pública”, escreve a publicação, num artigo publicado a 19 de janeiro.

O BMJ foca-se, em particular, nos testes feitos pela Pfizer que, diz, juntamente com outra organização contratada pela ajudar com a investigação, controla todos os dados obtidos. Só em 2025, 24 meses depois de o estudo principal ter terminado, é que a farmacêutica vai começar a receber pedidos de acesso aos dados. A Moderna diz que o vai fazer em finais de 2022.

Obter dados relacionados com terapêuticas para a Covid-19 é igualmente difícil. O BMJ dá como exemplo os relatórios sobre os ensaios clínicos da fase III do medicamento Regeneron, onde se lê que “os dados sobre os participantes não vão ser disponibilizados”.

“Isto é preocupante para participantes em testes, investigadores, clínicos, editores de publicações, decisores políticos, e para o público (…) Os dados anónimos sobre participantes individuais têm de ser disponibilizados para escrutínio independente”, escreve o BMJ.

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A revista científica apela também a mais transparência nos processos de decisão: “Os reguladores e órgãos de saúde pública podem divulgar pormenores, como o motivo por que os ensaios [clínicos] das vacinas não foram desenhados para testar a eficácia contra a infeção e contágio do  SARS-CoV-2. Se os reguladores tivessem insistido nesta questão, os países teriam percebido mais cedo qual é o efeito das vacinas na transmissão, e seriam capazes de planear de forma mais adequada”.

O artigo aponta também o dedo aos fabricantes, “a indústria menos confiável”, dizendo que pelo menos três empresas que produzem vacinas contra a Covid-19 fizeram acordos extrajudiciais que lhes custaram “milhares de milhões de dólares”.

Com a contínua distribuição de vacinas contra a Covid-19 em todo o mundo, “não é justificável, ou no interesse supremo dos pacientes e do público, que nos reste apenas confiar no sistema, com a ténue esperança que os dados brutos possam ser disponibilizados para escrutínio independente nalgum momento no futuro”, diz o BMJ.

A revista britânica sublinha que só com a divulgação dos dados brutos, ao mesmo tempo que são publicados os resultados dos ensaios clínicos, é que possível responder às “legítimas questões das pessoas sobre a eficácia e segurança de vacinas e tratamentos”, e só deste modo se conseguem delinear boas políticas de saúde pública.

BMJ em guerra contra os ‘fact checks’ do Facebook

Esta não é a primeira vez que o BMJ aponta baterias aos fabricantes de vacinas. No ano passado, a publicação envolveu-se num aceso conflito com o Facebook — que tem uma rede de fact checking à qual o Observador pertence —, na sequência de um artigo sobre falhas nos ensaios clínicos da Pfizer.

O BMJ não aceitou uma classificação de “falta de contexto” aplicada por um dos órgãos de fact checking que pertence à rede  a um artigo seu, e acusa a rede social de estar a “censurar jornalismo absolutamente rigoroso.”

A polémica tem origem num artigo de novembro de 2021, com uma denúncia grave: a revista científica alertou que uma empresa responsável por vários estudos sobre a vacina da Pfizer, contra a Covid-19, podia ter falsificado dados e distorcido resultados.

A denúncia foi feita ao BMJ pela diretora regional da empresa em causa, a Ventavia, que revelou casos de dados falsificados, pacientes que sabiam se estavam a tomar a vacina ou o placebo (contrariando as regras dos ensaios clínicos), vacinadores sem formação adequada e lentidão a acompanhar reações adversas nos testes da fase III da vacina da Pfizer.

“O pessoal que fazia as verificações de controlo de qualidade estava assoberbado com o volume de problemas que encontrou”, escreveu a BMJ, em novembro, num artigo intitulado “Covid-19: Investigador denuncia problemas de integridade de dados em teste à vacina da Pfizer”.

Após notificarem repetidamente a Ventavia acerca destes problemas, a diretora regional, Brook Jackson, enviou um email ao regulador norte-americano do medicamento (FDA, Food and Drug Administration). Brook foi despedida pela Ventavia no mesmo dia, diz o BMJ, a quem a responsável entregou dezenas de documentos internos da empresa.

Mas a história não ficou por aqui: nos dias seguintes, os leitores do BMJ começaram a dar conta de dificuldades na partilha do artigo no Facebook, recebendo alertas de que continha informação falsa. Este foi o resultado a verificação feita pelo portal Lead Stories, uma de dez empresas de ‘Fact Check’ contratadas pelo Facebook nos Estados Unidos.

O BMJ contactou o Lead Stories, que manteve a classificação de “falta de contexto” que tinha dado ao artigo. Em resposta, a publicação científica escreveu uma carta aberta a Mark Zuckerberg, pedindo que permitisse a partilha do artigo sem dificuldades e alertas. Estava aberta uma guerra.

Não foi o Facebook que respondeu ao BMJ, mas sim o Lead Stories, também em carta aberta. O portal alicerçou a sua posição em dois pontos: em primeiro lugar considerou que o título, e algumas partes relevantes do artigo, exagerava os perigos e desqualificava de forma injusta os dados obtidos nos testes da Pfizer; em segundo, pôs em causa a credibilidade da denunciante, indicando que noutras circunstâncias manifestou dúvidas sobre as vacinas contra a Covid-19 em redes sociais. O Lead Stories considerou que o artigo estava a ser usado em campanhas para desacreditar a eficácia das vacinas.

Venezuela Declares Coronavirus Emergency

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A Ventavia, sublinhou a Lead Stories, geria apenas três de 153 locais onde decorreram testes à vacina. “A Pfizer e a FDA foram informadas as alegações sobre a empresa em 2020. Especialistas médicos garantem que as alegações não são graves o suficiente para desacreditar os dados obtidos nos ensaios clínicos, uma conclusão partilhada pela Pfizer e pela FDA”, escreve o portal, que entrevistou cientistas e o regulador do medicamento sobre a matéria.

O portal de ‘Fact Checking’ falou ainda com a Pfizer, que confirmou ter recebido uma queixa anónima em 2020, acerca de um único local, no Texas, onde estavam a fazer testes. “Fizemos uma investigação aprofundada às questões colocadas (…) Ações foram tomadas para corrigir e remediar o que fosse necessário. A investigação da Pfizer não identificou problemas ou preocupações que possam invalidar os dados ou prejudicar a integridade do estudo”, explicou a farmacêutica.

Mas a história não ficou por aqui e foi recuperada agora, em janeiro de 2022. O BMJ não aceita as justificações e publicou agora um novo artigo em que sublinha que a história original foi alicerçada em dezenas de documentos originais e de confiança, e que também eles contactaram a Ventavia, a Pfizer e a FDA para clarificar a dimensão do problema e as medidas tomadas para o corrigir. À altura da publicação, não conseguiram obter todas as respostas.

Acima de tudo, o BMJ questiona a validade do sistema de verificação de factos implementado pelo Facebook, com recurso a publicações como a Lead Stories, que impede os leitores de aceder ao conteúdo, sem grande possibilidade de desafiar estas classificações.

“Devemos todos ficar muito preocupados que o Facebook, uma empresa multimilionária, esteja efetivamente a censurar jornalismo absolutamente rigoroso, que levanta questões legítimas sobre a conduta de ensaios clínicos”, escreve Kamran Abbasi, o diretor do BMJ.

“As ações do Facebook não vão impedir o BMJ se fazer o que está certo, mas a grande questão é: porque é que o Facebook está agir assim? O que está a impulsionar a sua visão do mundo? É ideologia? São interesses comerciais? É incompetência? Os utilizadores deviam estar preocupados que, apesar de se apresentar como uma plataforma de rede social neutra, o Facebook está a tentar controlar como as pessoas pensam, sob o pretexto da verificação de factos”, concluiu.

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