O presidente da Iniciativa Liberal terminou este domingo o seu dia de campanha eleitoral — que arrancou de manhã num mercado, em Setúbal — com uma caminhada pelas Docas de Alcântara, em Lisboa. Foi já aí que, questionado pelos jornalistas, assumiu que a estratégia de confronto do CDS-PP, que tem feito questão de sublinhar as diferenças que tem com a Iniciativa Liberal em matérias sociais, pode trazer dificuldades adicionais às negociações sobre um futuro Governo, se for caso disso.

Em declarações aos jornalistas durante o passeio, Cotrim Figueiredo começou por voltar a defender que à direita do PS a Iniciativa Liberal é a melhor opção para pôr “Portugal a crescer”. Apontou o candidato: “Não vejo ninguém que à direita do PS esteja a oferecer tantas alternativas, tão testadas e que funcionam tão bem noutros países como a IL. E espero que isso signifique muita confiança de muitos portugueses no dia 30”.

Voltando a insistir aos indecisos para não se deixarem cair na tentação do voto útil, o candidato liberal começou por ser questionado sobre declarações de André Ventura, que acusou a IL de querer uma “privatização selvagem da TAP”. E respondeu assim: “Declarações do Chega prefiro só comentar depois de algum tempo porque é natural que daqui a dois dias Chega faça declarações no sentido contrário às de hoje e vou estar sempre a comentar coisas diferentes. Prefiro esperar”.

Aproveitando que o tema era a TAP, Cotrim voltou a lembrar que a IL foi “o primeiro partido” a defender que “não devia ser investido um euro na TAP sem uma ideia clara de como se iria sair [como o Estado iria sair]” da empresa. A companhia aérea deve ser “entregue”, isto é vendida, “a quem saiba tratar de aviação comercial”, acrescentou Cotrim. Esse alguém “não é certamente o ministro Pedro Nuno Santos”.

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Já sobre as acusações ao partido feitas pelo CDS — que tem dito que a IL é “de esquerda em tudo menos na economia” —, Cotrim respondeu: “Temos claro na nossa cabeça quem é o adversário político e estratégico nesta eleição: é o Partido Socialista e a visão estatista da sociedade. Portanto não desviamos desse foco, não vamos apagar fogos aqui e acolá”.

Lembrando também que os centristas fazem parte de um partido conservador e a IL é “um partido verdadeiramente liberal”, Cotrim acrescentou: “Não precisamos de estar a responder a cada malabarismo tático por parte do CDS”. Mas as diferenças entre os dois partidos não poderão ser um problema para um futuro Governo?

Pode ser um problema. Veremos à mesa das negociações, no caso de uma aritmética eleitoral que permita que haja essas conversas. Estar a pôr em cima da mesa desde já coisas de princípio que são clivagens entre os partidos que podem constituir uma alternativa é no mínimo pouco inteligente“, considerou.

O encontro de Costa e Rui Moreira. “Em política raramente acreditamos em coincidências…”

O presidente da Iniciativa Liberal terminou o dia a comentar também o encontro de Rui Moreira com António Costa este domingo, no Porto.

Os dois políticos decidiram exercer o direito ao voto antecipado, encontraram-se durante esse momento e tal foi descrito como uma “coincidência”. Inquirido sobre se o partido acreditava em coincidências, João Cotrim Figueiredo respondeu: “Em política raramente acreditamos em coincidências. Mas apetece-me agora não desfocar da campanha que estamos a fazer e vamos dizer: foi uma coincidência”.

Questionado sobre se a IL perdeu a confiança em Rui Moreira, que o partido apoiou para a câmara do Porto, o candidato liberal respondeu: “Não, não tem nada a ver. Acabámos de sair de autárquicas em poucos meses, temos confiança em Rui Moreira e temos sobretudo confiança no projeto que ele apresentou para o Porto e que foi sufragado pelos portuenses”. O tema foi, no entanto, tratado por Cotrim Figueiredo como um “fait diver”. O líder político liberal diz “não se desviar” da sua prioridade: “pôr Portugal a crescer”.

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João Cotrim Figueiredo foi ainda inquirido sobre quem são os “partidos do sistema”, que dissera este sábado em comício terem perdido o “ímpeto reformista” para mudar o país. E clarificou: “São sobretudo PS e PSD, por motivos que se compreendem olhando para a história democrática portuguesa”.

Para Cotrim, “não só deixámos ao longo destes 47 anos que o aparelho de Estado se tornasse uma coisa incrivelmente pesada como esses partidos deixaram que os seus próprios aparelhos se tornassem uma central de interesses particulares”. Se normalmente já existe “resistência à mudança”, com esses vícios a resistência torna-se “muito maior”, acrescentou o político.

Quando se pretende transformar algo profundamente e dar ao país uma configuração completamente diferente, é certo que vamos ferir muitos interesses. Para além dos interesses económicos e interesses particulares de alguns setores, no caso desses partidos iremos ferir os interesses dos aparelhos”, disse mesmo.

O candidato aproveitou ainda para descrever o ato eleitoral de 30 de janeiro como “uma oportunidade importante para podermos acabar com um estado de estagnação e desesperança que acho que afeta demasiados portugueses”.