Às 14h30 tudo pronto no largo do Intendente. O destino era o largo da Graça onde a CDU tinha montado arraiais para o comício deste domingo. Centenas de militantes da juventude comunista e do PEV saem do ponto de encontro em direção à Almirante Reis. Seria só mais uma arruada da campanha, mas a falta dos agentes da PSP para cortar o trânsito, e garantir a segurança de participantes e condutores, era notória.

Os jovens militantes da JCP, à vez e organizados, foram pedindo aos carros que parassem para deixar passar a arruada. Daí a poucos metros um carro patrulha identificava um dos militantes comunistas. Sem informação sobre a arruada, à PSP chegaram queixas diretamente da Carris, a empresa municipal que viu a sua normal operação afetada este domingo.

Os comunistas garantem que seguiram todos os requisitos e que enviaram à autarquia o percurso do “desfile” com respetivo horário. O mapa e cronograma foi enviado na quinta-feira e os elementos do PCP que acompanham a arruada tinham-no no bolso para mostrar.

Cópia do documento que o PCP diz ter enviado na quinta-feira à CM Lisboa

João Oliveira juntou-se à arruada conforme planeado para pedir que o executivo de Moedas e a Polícia de Segurança Pública “apurem responsabilidades”. Em declarações aos jornalistas ainda a arruada ia a meio, João Oliveira disse que o “esclarecimento” sobre a falta da Polícia de Segurança Pública e o porquê da desafinação tinha que ser “obtido entre a Câmara Municipal e a PSP”.

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“A comunicação foi feita às autoridades competentes que nessas matérias têm responsabilidade. Essa questão tem de ser esclarecida entre a Câmara e a PSP, para perceber qual foi o problema que houve”, disse o homem que por estes dias faz as vezes de Jerónimo de Sousa nas ações de campanha.

Segundo João Oliveira foi dada à autarquia a informação necessária para “garantir que o desfile decorria com todas as regras cumpridas e da melhor forma, como estava previsto”, frisando que foi o que aconteceu.

Certo é que a passagem da PSP foi breve, cumpriu a função de identificar o militante da JCP e nenhuma ajuda deu na delimitação do percurso da arruada para garantir a segurança de quem nela participava e salvaguardar as questões de trânsito.

CDU vive “jornada de confiança” este domingo e sobe nas críticas à direita atacando “autêntica pilhagem liberal”

Animado com a participada arruada dos jovens, João Oliveira aproveitou para constatar o óbvio e responder “aos que dizem que na CDU não há jovens”. “Não há jovens? Então digam lá como é que a CDU avança”, desafiou e teve a resposta que queria:A CDU avança, com toda a confiança; A CDU avança com toda a confiança”.

Admitindo que o domingo foi uma “jornada de confiança”, João Oliveira acolheu o boost de energia dos mais jovens e canalizou-o para atacar como até aqui não tinha feito a direita. O discurso da CDU subiu mais um degrau — e grande — este domingo.

À entrada para a última semana da campanha, João Oliveira dedicou grande parte do discurso desta tarde a atacar aquilo a que chamou “autêntica pilhagem liberal”. Frente a centenas de jovens da CDU pediu que na ida às urnas se desse “uma lição à boçalidade e arrogância dos sucedâneos de PSD e CDS”.

E se é pouco habitual ouvir além de “sucedâneos de PSD e CDS”, esta tarde João Oliveira pronunciou os nomes proibidos (e poucas vezes ditos) na boca dos comunistas: “Iniciativa Liberal e Chega”.

O secretário-geral em funções provisórias diz que “é preciso combater a autêntica pilhagem liberal que PSD, CDS, Iniciativa Liberal e Chega” estão a tentar fazer e, aproveita o ataque para atingir também o PS (que está constantemente na mira das críticas comunistas).

João Oliveira acusa o PS de “dar a mão ao PSD, CDS, Iniciativa Liberal e Chega quando admite governar lei a lei com o PSD”.

Mesmo antes do início das intervenções no comício e já depois do desfile pelas ruas de Lisboa, nas cadeiras havia quem conversasse: Em Leiria a Iniciativa Liberal tentou falar com a minha irmã, ela respondeu que era da JCP. Sem saber, João Oliveira acabaria por falar precisamente neste ponto no discurso. Falou para os militantes da JCP e   confirmou aquilo que já sabiam: os “discursos modernaços” não aqui não colam.

O discurso foi tão carregado de críticas, esta tarde em pleno centro da cidade de Lisboa, que João Oliveira precisou de dois copos de água. Lembrou que nos “discursos modernaços” não se ouve “nem uma palavra sobre habitação” e questiona se que “a solução milagrosa do funcionamento dos mercados” não é “uma bomba que lhes rebenta nas mãos”.