Acabou esta segunda-feira sem uma decisão final a primeira ronda de votações para a eleição do futuro Presidente de Itália, devendo o complexo processo estender-se ao longo da semana, com o objetivo de escolher a figura que sucederá a Sergio Mattarella e ocupará o Palácio do Quirinal nos próximos sete anos. A maioria dos votos do colégio eleitoral contados esta segunda-feira foram em branco, o que impediu que uma maioria de dois terços fosse alcançada e um novo Presidente fosse eleito. “Fumo negro”, diz a imprensa italiana.

A escolha final poderá vir a recair sobre Mario Draghi, o antigo presidente do Banco Central Europeu (BCE) que atualmente ocupa o cargo de primeiro-ministro de Itália e que quer continuar a influenciar os destinos da política italiana nos próximos anos, mas se Draghi será ou não escolhido dependerá da capacidade que as várias forças políticas tiverem para chegar a um entendimento final.

Isto porque, ao contrário do que sucede em Portugal, o Presidente da República italiano não é escolhido por sufrágio universal, mas por um colégio eleitoral composto por 1.009 grandes eleitores. Como explica o jornal italiano Corriere della Sera, o processo de escolha do futuro Presidente inicia-se um mês antes do término do mandato do Presidente em curso e passa pela convocação de uma sessão conjunta das duas câmaras do Parlamento italiano, a que se juntam os delegados enviados pelas várias regiões que compõem o país, para uma votação sobre o sucessor do chefe de Estado.

Eleições em Itália. Pode Draghi continuar a ser o “Super Mario” na presidência?

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Têm direito a voto um total de 321 senadores, 630 deputados e 58 delegados regionais, totalizando 1.009 grandes eleitores. As contas do Corriere della Sera mostram um colégio eleitoral bastante dividido entre o centro-direita e o centro-esquerda — e Draghi é o denominador comum na esfera política italiana, liderando atualmente um governo composto por uma enorme coligação que foi capaz de serenar os ânimos na sequência da crise política que marcou o país em 2021. Os partidos políticos chegaram ao primeiro dia de votações ainda sem um nome final em cima da mesa, pelo que a demora na escolha do sucessor de Mattarella já era expectável, sobretudo tendo em conta que nas primeiras três rondas é necessária uma maioria de dois terços para eleger o Presidente (ou seja, 673 votos). A partir da quarta ronda, basta uma maioria simples (505 votos) para definir um vencedor.

O processo de votação passa por um ritual parecido ao conclave papal, em que os 1.009 grandes eleitores entram, um a um, numa cabine de voto dentro da câmara parlamentar, escrevem num boletim de voto o nome do candidato que pretendem eleger e colocam-no numa das urnas colocadas no centro da câmara. Esta votação é realizada por uma ordem protocolar: primeiro os senadores, depois os deputados e por fim os delegados regionais. O quórum tem de ser repetido duas vezes em cada votação para assegurar a presença de todos os eleitores. Este ano, excecionalmente, devido à pandemia da Covid-19, foi instalada uma urna adicional no exterior do Parlamento — numa espécie de drive-through em que os eleitores atualmente positivos ao coronavírus podem votar, transportados de ambulância ou no seu carro particular.

Antecipando que o primeiro dia de votações terminaria sem uma decisão final, estão já agendados vários dias de votação. Terça-feira, o processo eleitoral é retomado às 15h locais (14h em Lisboa). A partir de quarta-feira, os dias de votação começam às 11h (10h em Lisboa).

Esta segunda-feira, já se estimava que a maioria dos votos fossem colocados nas urnas ainda em branco, uma vez que as forças políticas se têm multiplicado em negociações paralelas sobre que candidato apoiar. Mario Draghi, o atual primeiro-ministro, é o candidato de topo e está disponível para mudar de funções — mas entre os partidos políticos há o medo de que a saída de Draghi do governo coloque a estabilidade italiana em causa, uma vez que só com Draghi foi possível pôr fim à crise do ano passado. Silvio Berlusconi, que até à semana passada também se assumia como candidato, retirou-se da corrida. Durante o dia, vários nomes foram postos em cima da mesa, incluindo a possibilidade de uma reeleição de Sergio Mattarella (que, aos 80 anos, já deixou sinais de que pretendia dar por terminada a sua atividade política à frente do Estado italiano).

Matteo Salvini, líder da Liga, um dos partidos que suportam a atual coligação governativa, disse que o partido estava a preparar uma lista de possíveis nomes a apoiar — lista em que não se inclui Mario Draghi, uma vez que Salvini não pretende o fim da atual solução governativa. Os líderes dos principais partidos que sustentam o atual governo (Giuseppe Conte, do Movimento 5 Estrelas; Matteo Salvini, da Liga; Enrico Letta, do Partido Democrático; Antonio Tajani, do Forza Italia; e Matteo Renzi, do Italia Viva), multiplicaram-se esta segunda-feira em reuniões bilaterais e Salvini terminou o dia assegurando que nas próximas horas seria apresentada uma lista com figuras de “centro-direita” e “alto perfil institucional e cultural” que possam ser consensualizados nas próximas rondas de votação.

A eleição presidencial italiana prossegue na terça-feira e ao longo desta semana até ser encontrado o sucessor de Sergio Mattarella, que conclui o seu atual mandato como Presidente da República no dia 3 de fevereiro.