Na Liga dos Campeões de 2019/20, aquela que teve de parar em março e terminar em agosto devido à pandemia, a Atalanta chegou aos quartos de final e só caiu nos descontos com o PSG. Mas antes de a Covid-19 congelar o mundo, numa eliminatória que ficou conhecida como a “bomba biológica” que provocou uma explosão de contágios em Bérgamo, Ilicic foi o herói que marcou cinco vezes ao Valencia em dois jogos e que atirou os italianos para lá dos oitavos. O problema foi tudo o que veio depois.

Com a pandemia, a interrupção das competições desportivas, o isolamento e a particularidade de viver numa região de Itália que foi das mais afetadas pela Covid-19 no mundo inteiro, Ilicic caiu numa depressão profunda. Quando a Serie A recomeçou, já em junho de 2020, o avançado só participou em cinco jogos, não tendo sido titular em nenhum, e não voltou a marcar. No início de agosto e na última jornada do Campeonato, numa assunção clara de que algo se passava com o esloveno, todos os jogadores da Atalanta entraram em campo contra o Inter Milão com o nome de Ilicic nas costas. Na altura da final eight da Liga dos Campeões, disputada em Lisboa e à medida das exigências da pandemia, já nem estava integrado no plantel e beneficiava de uma licença para recuperar. Algo que nunca o impediu de continuar a estar presente.

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“Vou ligar ao Ilicic antes e depois do jogo, como se também ele o jogasse. Espero vê-lo em campo na próxima temporada. Na verdade, acredito que vou ver”, disse Antonio Percassi, o dono da Atalanta, na antecâmara da partida decisiva contra o PSG em que os italianos acabaram por ser eliminados da competição europeia. Percassi tinha razão: Ilicic recuperou e voltou, ainda que abaixo do rendimento habitual, e marcou sete golos ao longo de 38 jogos numa época em que a Atalanta terminou no terceiro lugar da Serie A. Este ano, o avançado esloveno já marcou quatro vezes em 23 partidas — mas a escuridão teimou em voltar.

Depois de o avançado ficar de fora das últimas três convocatórias, para os jogos contra Veneza, Inter Milão e Lazio, o treinador Gian Piero Gasperini confirmou que Ilicic está novamente a lutar contra uma depressão. “Não sabemos quando poderá regressar. Não é fácil, para mim, falar desta situação. Vamos estar sempre ao lado do Josip, é algo que vai para lá do futebol. A nossa mente é uma selva, é tudo muito imprevisível e delicado. Já trabalhei com ele em Palermo e nunca o vi trabalhar como agora. É uma pessoa positiva mas é difícil, mesmo para os psicólogos e psiquiatras, perceber o que se está a passar. Espero que possa regressar e reencontrar o prazer de jogar futebol. Vamos esperar por ele enquanto pessoa, como jogador de futebol é imprevisível. Os médicos não nos dão respostas e eu também não consigo dar. Não vou voltar a falar sobre isto. É um assunto muito delicado”, explicou o técnico.

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É expectável que Ilicic, que tem 33 anos e que em Itália também já representou Palermo e Fiorentina, passe as próximas semanas na Eslovénia, assim como aconteceu no verão de 2020. Contudo, e tal como Gasperini antecipou, o regresso de Ilicic enquanto jogador de futebol profissional começa a tornar-se cada vez distante e improvável. Ilicic, no panorama desportivo, é um dos exemplos paradigmáticos dos efeitos prolongados e não imediatos de uma pandemia que continua a provocar vítimas que não estão infetadas.