A igreja do Convento de São Francisco, em Bragança, foi esta terça-feira arrematada por perto de 218 mil euros, desconhecendo-se ainda o comprador do espaço classificado como Monumento de Interesse Público.

A igreja e o adro de um dos mais emblemáticos edifícios de Bragança foram penhorados por uma dívida a um empreiteiro e leiloados ‘online’ com um valor base de 137 mil euros, ultrapassado pelas licitações que triplicaram sobretudo nos últimos minutos, fazendo prolongar por uma hora o leilão que estava previsto encerrar às 11:00.

A igreja e o adro leiloados pertencem à ordem terceira franciscana, uma organização de leigos, e está integrada no convento de São Francisco, este último atualmente sob administração direta do Estado, onde está instalado o Arquivo Distrital de Bragança.

O conjunto do edifício medieval, datado do século XIII, situado junto ao castelo de Bragança, já foi convento, hospital militar e asilo.

As dificuldades financeiras da ordem proprietária do local de culto são conhecidas há cerca de 30 anos, quando começaram a ser feitas obras de restauro com apoios do Estado, através de organismos e programas ligados à cultura, e da Câmara de Bragança, que chegaram a perto de 1,5 milhões de euros.

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Uma dívida de uma empreitada está na origem do processo judicial que levou à penhora e leilão desta que é a maior igreja da cidade de Bragança e onde em tempos se faziam os grandes eventos religiosos.

Um representante da ordem terceira franciscana anunciou que prestará no dia de hoje esclarecimentos sobre o processo que levou ao leilão.

O presidente da Câmara de Bragança, Hernâni Dias, disse que “o município está a acompanhar o processo” e que “a disponibilidade vai até ao ponto de impedir que o imóvel passe para a mão de um privado”.

De acordo com as publicações que têm sido feitas sobre o monumento, a igreja de São Francisco apresenta uma das mais ricas coleções de arte sacra e os restauros que têm sido feitos nos últimos anos têm levado a novas descobertas de património. Os frescos medievais na parte interior da abóbada e polvilhados pelo templo são também elementos distintivos deste imóvel.

O conjunto do edifício medieval, datado do século XIII, situado junto ao castelo de Bragança, já foi convento, hospital militar, asilo e ali funciona atualmente o Arquivo Distrital de Bragança, na parte do convento, sob a administração direta do Estado.

Esta é a maior igreja de Bragança, onde em tempos se faziam os grandes eventos religiosos, mas não é pertença da diocese, como explicou o pároco Octávio Sobrinho Alves, que exerce várias funções na diocese de Bragança-Miranda. A Lusa tentou falar com o bispo José Cordeiro, sem sucesso, e foi o pároco, que já teve também a cargo a paróquia de Santa Maria, onde se localiza o edifício, que explicou que a ordem proprietária do espaço é composta por leigos e “tem a cúpula máxima no Porto”.

“Só posso culpar a ordem porque nem faz, nem desiste daquilo”, afirmou, lembrando que já há mais de 30 anos que o então bispo António Rafael tentou que esta igreja passasse para a diocese”.

O pároco estranha este processo porque, segundo disse, as igrejas não podem ser penhoradas, mas o processo foi avante com o argumento do empreiteiro que reclama a dívida de que já não tinha culto.

Sobrinho Alves garantiu que ele próprio celebrou e continua a celebrar quando lhe pedem naquele espaço, nomeadamente em datas como as de São Francisco e Santa Luzia.

A única pessoa ligada à ordem com quem a Lusa conseguiu falar foi Augusta Miranda, que, desde 2010, tem a chave da igreja e é uma espécie de zeladora, com o contacto pessoal afixado na porta para quem quiser visitar. Quando chegou o processo da dívida já estava em andamento e que acabou por ficar “sozinha”, sem saber o que fazer, mesmo quando foi chamada como testemunho a tribunal.

“É triste estarmos nesta circunstância”, disse o presidente da Câmara de Bragança, Hernâni Dias, adiantando que “o município está a acompanhar o processo” e que “a disponibilidade vai até ao ponto de impedir que o imóvel passe para a mão de um privado”. O autarca considerou que “não havia necessidade de chegar ao ponto de o imóvel chegar a leilão”. “Se calhar, podia resolver-se de outra forma”, afirmou.