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“Ozark”. Perto do fim, os Byrde podem já não ter redenção (e isso, para nós, são boas notícias)

Este artigo tem mais de 2 anos

A primeira parte do fim da série está na Netflix e a tensão acumula-se para explodir nos últimos sete episódios. Marty parece um ninja a escapar da quase morte e Wendy perdeu todos os valores morais.

Jason Bateman é Marty, o indiferente cidadão urbano transformado em mestre da falsidade
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Jason Bateman é Marty, o indiferente cidadão urbano transformado em mestre da falsidade

GUY D'ALEMA/NETFLIX

Jason Bateman é Marty, o indiferente cidadão urbano transformado em mestre da falsidade

GUY D'ALEMA/NETFLIX

“Estou atrasado para o meu próprio crime. Até logo.” Sarcasmo e naturalidade passeiam de mãos dadas nas palavras de Marty Byrde (Jason Bateman), aquele financeiro que parecia um tótó acomodado na sua vida de Chicago e que virou mestre do desaparecimento de cadáveres e da lavagem de dinheiro lá nos confins de Ozarks. Esta frase, dita num dos episódios da nova temporada da série — cuja primeira parte, com sete episódios, já está disponível na Netflix —, espelha na perfeição aquilo em que esta personagem se tornou. Byrde parece um ninja a desviar-se da sua morte iminente (há vários momentos em que a coisa não se dá por segundos apenas), safa-se das situações com uma inteligência que está sempre dois passos à frente de quem está do outro lado, tanto negoceia com o FBI como com barões da droga — enquanto isso, anda de drama em drama num carro que já está a dever horas à sucata e veste camisas xadrez às quais só faltam um crachá a dizer qualquer coisa como “cidadão exemplar”.

É nestas subtilezas que “Ozark” se destaca e, após três temporadas, já não estamos perante pessoas boas a fazerem coisas más. Essa linha foi ultrapassada e é muito difícil imaginar um cenário em que os Byrde consigam redimir-se da destruição que vão deixando à sua volta.

A quarta temporada, que é também a última, está dividida em dois. O primeiro lote tem sete episódios, disponíveis desde 21 de janeiro. Os restantes deverão chegar lá para o final do ano, ainda sem data anunciada. Comecemos então pelo início. Chama-se “The Beginning of the End (O Princípio do Fim)” o capítulo que retoma a história que estava parada desde março de 2020. Marty e Wendy (Laura Linney) limpam das respetivas caras e cabelos os restos de cérebro de Helen Pierce (Janet McTeer), a advogada despachada por Omar Navarro (Felix Solis) num desenvolvimento inesperado do final da terceira temporada. É que o mexicano quer largar a vida do crime em troca de imunidade dos EUA. E quem é que tem de fazer isso acontecer? Os Byrde, claro.

[o trailer da primeira parte da última temporada de “Ozark”:]

Podíamos dizer “coitados dos Byrde, engolidos por este ciclo vicioso de traficantes e assassinos do qual não conseguem libertar-se” mas não é bem assim. Tiveram oportunidade de sair, de fugir, e escolheram ficar. Há uma certa adrenalina neste mundo obscuro da qual estão dependentes e, mesmo que não o digam com todas as letras, de que gostam. Na teoria o plano é conseguir a imunidade a Navarro e regressar a Chicago, em família, para retomarem a antiga vida e praticarem o bem (embora com o dinheiro do lado negro da força). Mas a figura que mais tenta desesperadamente unir o clã para regressar é, na verdade, aquela que menos salvação parece ter. Wendy é uma estratega que sabe fazer política (em qualquer área), mas que perdeu qualquer noção de correto ou incorreto. Depois de deixar que o próprio irmão fosse morto porque podia colocar em risco os seus esquemas, decide que a melhor forma de recuperar o filho — Jonah muda-se para o lado de Darlene, mas já lá iremos — é fazer com que ele seja apanhado pelas autoridades a lavar dinheiro. Tal como Marty, a fachada de Wendy engana bem. Porém, deste lado, já sabemos que aquele sorriso que se estende até aos olhos brilhantes e a voz calma são, na verdade, arrepiantes porque neste ponto nem dá para prever aquilo de que Wendy é capaz.

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Ainda no início do primeiro episódio deste ano, os Byrde seguem no seu carro familiar ao som de “A Change is Gonna Come”, de Sam Cooke. De imediato pensei em “Redemption Road”, não propriamente na história do filme de 2010 que nada tem a ver com a narrativa de “Ozark”, mas no conceito de estrada da redenção. Marty, Wendy e os filhos olham em frente, felizes, leves e unidos, em direção a uma vida nova. Para trás ficam um par de anos tão surreais que um dia parecerão um sonho estranho e sinistro, impossível de encaixar na vivência pacata de uma família norte-americana de classe média. Só que aquilo que parece um desfecho idílico rapidamente é abalroado por um camião — literalmente. O carro capota e ficamos sem saber o resultado. A cena fica congelada no tempo, já que é claramente um flash forward da série, e para já restam-nos as dúvidas: foi um acidente? Foi uma vingança? Quem quer matar os Byrde? Há algum sobrevivente?

As respostas só chegarão na segunda parte da quarta temporada. Até lá, o que a primeira parte faz na perfeição é ir aumentando a tensão. Quando parece que Marty ou Wendy dão um passinho para resolver as suas vidas e evitar, por exemplo, serem todos estraçalhados pelos traficantes mexicanos, chega um twist discreto que baralha o jogo de repente — e de forma mais eficiente do que acontece no casino bastante decrépito que serve de fachada à lavagem de dinheiro.

Resumindo a situação dos protagonistas, Marty é um bom tipo que se meteu numa confusão demasiado grande e continua a tentar sair dela, quase sempre de forma diplomática; Wendy está embriagada pelo poder que consegue exercer neste mundo à parte, fascinada q.b. com Navarro e é tão imprevisível que chega a assustar a própria família. Sobram os filhos. Charlotte (Sofia Hublitz) está empenhadíssima nos negócios da família, já consegue gerir as coisas de forma independente e nunca questiona os motivos da mãe. Com Jonah (Skylar Gaertner) a conversa é outra. Revoltado com o que aconteceu a Ben, o tio, resolve passar-se para o lado de Ruth (Julia Garner), sobretudo para fazer frente à mãe, e lavar dinheiro como gente grande. Também já tem 14 anos. É mais ou menos aquilo que qualquer um de nós fazia com essa idade, não? Isso e comer Bollycao.

Após três temporadas, já não estamos perante pessoas boas a fazerem coisas más. Essa linha foi ultrapassada e é muito difícil imaginar um cenário em que os Byrde consigam redimir-se da destruição que vão deixando à sua volta

COURTESY OF NETFLIX

Passemos a Ruth, a loira white trash que está sempre capaz de dar uma sova a quem lhe aparecer à frente mas que, apesar de estar de costas voltadas com Marty, volta a ele constantemente e é-lhe mais leal do que a qualquer outra pessoa. Apesar disso, a rapariga — cujo ponto alto está sem dúvida a caminho — tem de se fazer à vida e forma uma aliança com Darlene (Lisa Emery). Lembram-se da psicopata que, em vez de beber um copo de vinho quando está aborrecida, recorre a uma caçadeira para fazer explodir cérebros e testículos? Essa. A mulher é uma bomba-relógio, não sei como é que Wyatt (Charlie Tahan), o miúdo de 20 com cara de 13 que agora é namorado dela, dorme descansado todas as noites. Portanto, Darlene era a rainha do pedaço lá na sua quinta cheia de papoilas e com heroína a jorrar. Tinha na mão o xerife local, que fechava os olhos ao que por ali se passava. Só que o xerife esfumou-se entretanto no crematório dos Byrde (se é para serem agentes do crime, ao menos que tenham onde fazer desaparecer os corpos, muito bem pensado) e Darlene tem cada vez menos poder para fazer face aos Byrde. O seu comportamento errático e o olhar tresloucado continuam a proporcionar alguns dos melhores momentos de “Ozark”.

A esta gente toda, que já conhecíamos, junta-se Javi (Alfonso Herrera), o sobrinho de Navarro que acha que está acima de quaisquer consequências. Desconfiado, precipitado e pouco inteligente, chega aos Ozarks para controlar os Byrde e deixar uns cadáveres pelo caminho. Além disso, é perigoso e é ele que pode deitar a perder tudo o que os outros elementos desta história têm estado a elaborar. Falta ainda falar da agente Maya Miller (Jessica Frances Dukes). Chega para apanhar Marty Byrde, cria uma empatia e uma aliança com ele e acaba por ter um papel inesperado no desfecho das negociações com Navarro quando vê que a organização a que pertence, o FBI, consegue ser mais corrupta do que qualquer cartel de droga.

Por aqui me fico, antes que me fuja a boca para mais spoilers. Faltam sete episódios para “Ozark” terminar e só nessa altura se perceberá (ou será que não?) se a letra do tema de Sam Cooke esconde algum presságio: “Oh, there’ve been times that I thought I couldn’t last for long. But now I think I’m able to carry on (Oh, houve momentos em que pensei que não duraria muito. Mas agora penso que sou capaz de continuar)”.

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