O sindicato de jornalistas da Guiné-Bissau está preocupado com o aumento de assédio sexual às profissionais do sexo feminino, um fenómeno que a organização estima afetar cerca de 98% das jovens jornalistas.

Segundo a presidente do Sindicato de Jornalistas e Técnicos da Comunicação Social (Sinjotecs) da Guiné-Bissau, Indirá Correia Baldé, o assédio sexual constitui “um verdadeiro problema” entre os jornalistas.

A questão é que as vítimas dessas práticas degradantes têm medo de denunciar aquelas situações para que não sejam demitidas. Os autores de tais práticas são, geralmente, jornalistas com posição de chefia, pessoas já batidas na profissão, que tentam, de todas as formas assediar as novas jornalistas na profissão, observou a presidente do Sinjotecs.

O assunto “é muito sério”, ao ponto de o sindicato ter organizado na segunda e terça-feira, um seminário que juntou cerca de duas dezenas de jornalistas do sexo feminino, na Casa dos Direitos, em Bissau, para falar da “segurança de mulheres jornalistas e igualdade de género na comunicação social”.

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Durante os dois dias do seminário, Indira Correia Baldé disse ter ficado “arrepiada e triste” com relatos de casos concretos de situações de assédio moral e sexual por parte de jornalistas que “chegam ao ponto de condicionar a efetivação de uma estagiária em troca de favores sexuais”.

Maimuna Bari, jornalista da rádio Capital FM de Bissau e membro da direção do Sinjotecs, disse que corrobora a preocupação da Indira Correia Baldé e aponta que cerca de 98% de jornalistas do sexo feminino que tentam entrar para a profissão são vítimas de assédio por parte de colegas ou dos chefes.

Há 12 anos na profissão, sempre ligada às rádios de Bissau, Bari pede às colegas para “não terem medo” de denunciar os agressores e ainda pede ao Estado que reforce a legislação que criminalize aquelas práticas que disse serem “deveras constrangedoras”.

Sadjo Jenny Diouf, jornalista na Agência Noticiosa da Guiné (ANG), desde 2012 relatou à Lusa uma situação em que se viu envolvida numa “quase polémica pública” com um superior hierárquico que a assediava.

“Mandava-me mensagens por telemóvel todos os dias a propor coisas inaceitáveis para mim. Tive que tomar uma atitude. Ameacei-o de que ia apresentar publicamente, perante os colegas, aquelas mensagens”, contou a jornalista.

Antes de tomar aquela atitude, Jenny Diouf e o superior hierárquico passaram por momentos de relações “muito tensas” e até de “troca de palavras azedas na redação”, situações só ultrapassadas quando o “agressor” pediu desculpas a sós à “vitima”.