O Banco de Portugal definiu como prioridades na sua estratégia de sustentabilidade integrar os riscos climáticos nas suas missões, reforçar a sustentabilidade ambiental, social e de governação (ESG) na gestão interna e promover a consciência ESG dos trabalhadores e interlocutores.

Segundo o documento “Agir pela Sustentabilidade”, publicado esta quinta-feira pelo Banco de Portugal (BdP), estas são “a visão e as prioridades” do banco central para os próximos quatro anos na promoção da sustentabilidade ambiental, social e de governação (ESG, na sigla inglesa), “enquanto matérias que relevam para o desempenho da sua missão na salvaguarda da estabilidade financeira e na manutenção da estabilidade de preços”.

Este documento vem dar continuidade e aprofundar o “Compromisso do Banco de Portugal com a Sustentabilidade e o Financiamento Sustentável”, divulgado em março de 2020 e que abrangeu o período 2020-2021.

No documento, o BdP faz um balanço dos trabalhos que desenvolveu ao nível da sustentabilidade ESG e descreve a abordagem seguida pela comunidade de bancos centrais.

“No Banco de Portugal, os trabalhos desenvolvidos têm privilegiado as preocupações ambientais, uma vez que estes fenómenos – e, em particular, as alterações climáticas – constituem uma importante fonte de risco para o balanço das instituições financeiras e têm implicações macroeconómicas potencialmente relevantes para a condução da política monetária”, salienta.

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“O documento agora publicado – acrescenta – reconhece igualmente a relevância dos restantes dois pilares: o social e o de governação”.

Para traduzir esta ambição, o BdP adotará o lema “Agir pela sustentabilidade”, com o qual diz pretender “refletir o espírito que deve animar a ação diária dos trabalhadores em todos os domínios de atuação do Banco de Portugal”.

Assim, no âmbito do primeiro eixo definido, de “integrar os riscos climáticos nas missões do Banco de Portugal”, o BdP pretende, entre outras iniciativas, criar bases de dados que permitam identificar e quantificar impactos dos riscos climáticos sobre a estabilidade financeira e avaliar a exposição e a resiliência do sistema bancário português aos riscos relacionados com o clima, promovendo, para o efeito, a realização de testes de esforço.

Estão em curso trabalhos de avaliação da sensibilidade das exposições dos bancos a um imposto sobre o carbono e de modelação de risco de crédito das sociedades não financeiras com base em cenários disponibilizados pela NGFS [Network for Greening the Financial System], nomeadamente considerando a incorporação de projeções de valor acrescentado bruto (VAB) setorial e diferenciação, ao nível da empresa, em função do respetivo nível de emissões”, explica.

Já ao abrigo do eixo 2, focado em “reforçar a sustentabilidade ESG na gestão interna”, o BdP, como responsável pela gestão de ativos de investimento próprios, “reforçará gradualmente os princípios de investimento sustentável e responsável, prevendo-se, no horizonte do Plano Estratégico 2021-25, a transição de parte das carteiras existentes para investimentos responsáveis”.

“Possivelmente, numa segunda fase”, o BdP admite “a constituição de carteiras dedicadas a investimentos sustentáveis” e “o reforço de exposição às obrigações de empresas com a incorporação de considerações de sustentabilidade ESG”.

Ainda previsto neste eixo está a publicação, este ano, de uma carta de investimento responsável e a divulgação, a partir do primeiro trimestre de 2023, de informação relacionada com as métricas de caráter ambiental referentes à carteira de ativos de investimento, em linha com os objetivos anunciados pelo Eurosistema em fevereiro de 2021.

O Banco de Portugal também publicará, em 2023, um roteiro para reduzir a sua pegada ecológica enquanto organização e alinhar as suas atividades de gestão interna com a trajetória de aumento máximo da temperatura média global de 1,5 graus centígrados, preconizada no Acordo de Paris, e com os objetivos de neutralidade climática definidos pela União Europeia e pelo Estado português.

No plano da governação, entre outras iniciativas, o BdP irá rever a prestação de contas sobre sustentabilidade ESG e incluirá o reporte sobre sustentabilidade ESG no relatório anual do Conselho de Administração a divulgar em 2022.

Finalmente, no âmbito do eixo 3 – “promover a consciência ESG dos trabalhadores e interlocutores externos” – o banco central lançará, ainda este ano, uma secção dedicada à sustentabilidade ESG no seu site institucional, promoverá ações de consciencialização dirigidas aos seus interlocutores externos (com destaque para o setor bancário) e aos seus trabalhadores, e incorporará as preocupações relacionadas com o clima nas suas iniciativas de literacia económica e financeira.