O balão foi enchendo — e nunca esteve tão cheio. João Cotrim Figueiredo discursou esta noite, num jantar com apoiantes no Porto, e elevou as expectativas para o resultado de domingo: quer agora o terceiro lugar nas eleições.
O candidato já tinha afirmado há dias que algumas sondagens o “divertiam” por parecer que “afinal há mais partidos a lutar pelo terceiro lugar” do que se previa. Mas nunca fora tão taxativo relativamente à hipótese da IL se tornar a terceira força política.
Reagindo, no restaurante e fábrica de cerveja Nortada, a “tudo o que soubemos hoje” — as duas sondagens que colocam (ambas) a IL com 6% nas intenções de voto — e ao “crescimento da onda liberal que se sente”, fez “um apelo aos portugueses, de todos os partidos”.
Se querem que a evolução não passe por partidos extremistas, votem IL. Votem em forças reformistas, modernas e com profundo amor à liberdade”, referiu.
Foi então que Cotrim elevou as expectativas e pediu aos apoiantes: “Se querem que o terceiro lugar das próximas eleições” seja da IL, “votem Iniciativa Liberal”, pediu.
O candidato assumiu o desejo de “pôr a Iniciativa Liberal em terceiro lugar”, deixando para trás “forças do passado, inimigos do progresso e forças extremistas”. Referia-se a Bloco de Esquerda, CDU e Chega.
O objetivo assumido pela Iniciativa Liberal para estas eleições era eleger cinco deputados e conseguir 4,5% dos votos. Porém, as sondagens parecem fazer os liberais acreditarem em algo mais e na hipótese de ultrapassar CDU, BE e Chega.
Críticas ao Rio e à campanha PSD: “Falta de coragem”
De manhã, Cotrim Figueiredo estivera no Aeroporto Francisco Sá Carneiro, no Porto. Aí, considerara em declarações aos jornalistas que o PSD de Rui Rio tem feito uma campanha com “demasiado ceticismo, falta de determinação e coragem” para “afrontar interesses” e reformar o país.
O candidato deslocou-se ao aeroporto para criticar a injeção de dinheiros públicos — 3,2 mil milhões de euros — na TAP. Foi a segunda ida a um aeroporto na campanha para reivindicar a defesa da privatização da companhia aérea, já que PSD e CDS-PP não a apoiaram na discussão do Orçamento do Estado de 2020, tendo-se abstido numa proposta feita nesse sentido pela IL (os restantes partidos votaram contra).
Desafiado a comentar a mudança de opinião de Rui Rio sobre a TAP, Cotrim Figueiredo apontou: “Já não é a primeira posição ambígua que assume nesta campanha, que acho que tem sido feita sobretudo a não criar grandes polémicas, a não ofender muitos interesses, a não afetar muitas corporações”.
É também por isso que dizemos que se não for a IL a trazer a uma eventual alternativa ao PS a determinação e coragem de adotar as medidas mais difíceis, menos populares, um Governo do PSD sem IL corre o risco de ser igual a um Governo do PS”, apontou.
Vai exigir a privatização da TAP a Rio? Cotrim não garante
Cotrim Figueiredo não garante, porém, que a Iniciativa Liberal vá exigir a privatização da TAP para viabilizar um Governo do PSD se Rui Rio vencer as eleições. Questionado sobre isso, apontou: “Não vou em conferência de imprensa fazer um ensaio do que será uma negociação. Mas para haver uma IL num Governo tem de haver um conjunto de medidas assumidas, programadas e escritas, de suficiente pendor liberal para nos sentirmos confortáveis que não só há essa intenção como há determinação em as realizar”.
As exigências ao PSD, em caso de vitória de Rio e de formação de um Governo à direita, podem passar por “um conjunto de coisas”, já que “há muitas coisas em que Portugal precisa de ser liberalizado”, diz Cotrim. O candidato alerta, porém:
Se estivermos não no Governo mas a viabilizar no Parlamento, o tipo de exigências pode ser diferente e provavelmente não teremos tantas medidas das quais faremos insistência”, reconheceu o candidato.
João Cotrim Figueiredo reiterou no entanto a posição do partido sobre a TAP: “Um Estado como o português, que não é um Estado rico, estar investido na TAP não faz qualquer sentido. Quando estivermos à mesa das negociações, se a aritmética eleitoral na noite de dia 30 permitir que isso aconteça — espero que sim —, vai haver um conjunto de medidas em cima da mesa para falarmos mas vou estar sobretudo preocupado em perceber se o PSD está verdadeiramente interessado em levar as reformas avante”.
Linhas vermelhas: “Há várias, em matéria de costumes”
Ainda no Aeroporto Francisco Sá Carneiro, no Porto, o presidente da Iniciativa Liberal foi questionado sobre se o partido não tem “linhas vermelhas” de exigência para participar numa solução governativa e respondeu:
Há várias linhas vermelhas. Não podemos voltar atrás numa série de medidas que já foram tomadas no passado, nomeadamente no que diz respeito aos costumes. Não nos passa pela cabeça reabrir dossiês como a interrupção voluntária da gravidez [aborto], o casamento homossexual ou a adoção por homossexuais”, referiu.
Ainda no Aeroporto Francisco Sá Carneiro, no Porto, o presidente da Iniciativa Liberal criticou a ideia de que ter a TAP como empresa pública contribui para a coesão territorial: “Desafio-vos a chegar lá dentro e encontrar um voo direto do Porto para Faro, não há. E um voo direto do Porto para Madrid, da TAP, sem fazer escala em Lisboa”.
Para Cotrim, “ou se tem uma companhia gerida por critérios de rentabilidade e melhor aproveitamento da frota, e aí o Estado não está a fazer nada, ou temos uma companhia que é suposto servir a coesão territorial e a diáspora, coisa que não faz”. O Estado, “quando se mete em negócios que não percebe, acaba a torrar, desperdiçar e a perder o dinheiro dos contribuintes que tanta falta faz”.
A TAP, diz, “tem de ser uma solução”. E se houver um Governo alternativo ao PS, “podemos estar a discutir se demora 3 meses ou se demora 12, não pode é demorar 2 anos”. Questionado sobre se os eleitores não têm direito a saber que aspetos programáticos a IL não deixará de exigir numa negociação à direita, Cotrim Figueiredo respondeu: “Gostava que acontecessem 25 coisas nessas negociações. Posso dizer que a linha vermelha é conseguir pelo menos 10. Não sei é quais são, depende, pode haver trocas. Satisfaz?”