Vira o disco e toca o mesmo. O evento-comício desta quinta-feira, em Setúbal, foi acrescentado na agenda da caravana do PAN apenas na véspera, deixando transparecer uma clara posição: o partido quer fazer tudo por tudo para não deixar fugir no próximo domingo um deputado que conseguiu eleger em 2019. Mas a narrativa foi exatamente a mesma, bem como as críticas ao bloco central.

Vamos por partes. Sobre Setúbal, é assumidamente um objetivo para o PAN. Inês Sousa Real tem repetido que é preciso “resgatar” o lugar que “perdeu” no Parlamento, com a saída de Cristina Rodrigues, dissisdente do PAN, em 2019. E foi mesmo isso que reforçou na noite desta quinta-feira.

Cristina Rodrigues, o nome que Sousa Real foi obrigada a pronunciar (e como um golfinho pode virar tubarão)

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“Este distrito é absolutamente prioritário” para o PAN, começou por assegurar. “Queremos resgatar nas urnas aquilo que por agenda pessoal nos foi retirado”, acusou, em clara referência a Cristina Rodrigues. Já na reta final do discurso, voltou a lembrar esse mesmo objetivo. O PAN quer eleger Vítor Pinto no próximo domingo para “resgatar aquilo que foi retirado” ao partido.

Já o cabeça de lista do PAN pelo distrito de Setúbal, e que discursou antes da porta-voz, preferiu lembrar as causas e aquilo que é preciso mudar no dia 30 de janeiro. “O PAN dispensa eleitoralismos e põe o dedo na ferida”, afirmou, para acrescentar logo a seguir que “não podemos permitir que os mesmos de sempre continuem a vender o país a retalho”, apontou Vítor Pinto.

Quanto à porta-voz do PAN, o discurso não variou muito daquelas que têm sido as declarações proferidas nas últimas duas semanas e até do discurso que fez no Porto, junto a Bebiana Cunha, cabeça de lista pelo distrito. Apontou críticas ao bloco central, defendeu que o “voto útil é no PAN” e que “o país tem estado refém entre a austeridade e cativações”, numa referência a PSD e PS. “O dinheiro está a ir para alguns dos mesmos interesses, como a banca ou as parcerias público-privadas”, notou.

Não só o bloco central foi alvo de críticas, como também partidos mais à direita. Inês Sousa Real visou a Iniciativa Liberal (“aqueles que de forma neoliberal dizem que querem uma liberdade económica, esquecendo-se de que sem um estado, SNS e educação forte nunca iremos reparar o elevador social”), mas também o Chega (alertando para o “crescimento do populismo antidemocrático” e que não será “tolerante com os intolerantes”).

Mas também apontou aquela que tem sido uma das narrativas do PAN nos últimos meses: os partidos da esquerda foram “irresponsáveis” ao terem permitido o chumbo do Orçamento do Estado. “O que é que fizeram as demais forças políticas? Não foi sequer tão pouco atirar a toalha ao chão. Foi estender a passadeira vermelha ao populismo antidemocrático”, atirou, lembrando que o PAN “foi o único” partido que votou para levar o orçamento à discussão na especialidade.

Inês Sousa Real lembrou também a tauromaquia, para garantir que esta prática tem, para o PAN, “os dias contados”. E pede que o Código Penal seja “alargado a todos os animais e não só a animais de companhia”. Porque “para o PAN, tanta dignidade tem um cavalo, como um cão, um gato ou até mesmo uma vaca”, afirma.

Também a Saúde foi apontada como prioridade para o partido, destacando Inês Sousa Real a “pressão” que esta causou no Serviço Nacional de Saúde, por exemplo com “sucessivas consultas adiadas”.