“O Rapaz do Pijama às Riscas” (livro e filme) pode “perpetuar um número perigoso de imprecisões e de falácias” quando usado para ensinar os jovens sobre o Holocausto. É esta a conclusão de um estudo do Centro de Educação sobre o Holocausto da Universidade College London.

O trabalho, que será publicado em breve, diz que após leitura da obra ou visualização do filme, os alunos de escolas secundárias do Reino Unido chegaram a conclusões que “contribuíram significativamente para um dos mais poderosos e problemáticos equívocos desta história”: o de que os “alemães comuns” eram “completamente ignorantes” sobre as atrocidades cometidas nos campos de concentração, não passando de uma “lavagem cerebral”.

Em Inglaterra, mais de um terço dos professores — cerca de 35% — usa aquela narrativa para complementar as aulas sobre o genocídio nazi. Ressalva-se, contudo, que os professores de teatro e de inglês são mais propensos a utilizá-la do que os de história.

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Os dados são “preocupantes”, principalmente “numa era de notícias falsas e de teorias da conspiração”, considera o diretor do centro, Stuart Foster, não culpando o autor do livro, John Boyne, por este fenómeno.

A investigação analisou um estudo realizado há cinco anos entre alunos de escolas secundárias que descobriu que “O Rapaz do Pijama às Riscas” provocava regularmente empatia pelos nazis.

Embora a maioria dos jovens que participou no estudo tenha reconhecido a narrativa como uma obra de ficção e muitos tenham sido capazes de identificar e criticar o seu lado implausível e as imprecisões históricas, caraterizam-na, no entanto, esmagadoramente como realista e/ou verdadeira”, lê-se no estudo, citado pelo The Guardian.

Recordando que o livro é “deliberadamente sub-intitulado ‘Uma fábula’” e que “nenhuma obra de ficção é impecável”, o escritor Boyne defende-se, sublinhando que o propósito sempre foi “inspirar os jovens a começar o seu próprio estudo sobre o Holocausto”, ao mesmo jornal. No caso do autor, começou essa pesquisa aos 15 anos.

Como romancista, acredito que a ficção pode desempenhar um papel valioso na introdução de assuntos difíceis para os jovens leitores, mas é função do professor ensinar aos alunos de que existe um espaço legítimo entre a imaginação e a realidade. Ao relacionar-se com os protagonistas, preocupando-se com eles e não querendo que nada de mal lhes aconteça, o jovem leitor pode aprender o que é empatia e bondade”, reforça.

“O Rapaz do Pijama às Riscas” aborda a amizade entre um judeu preso no campo de concentração de Auschwitz e o filho de um comandante nazi. Foi publicado em 2006, e mais de 11 milhões de exemplares foram vendidos desde aí, e dois anos depois, em 2008, foi adaptado para filme.