O CDS encerrou esta sexta-feira a campanha eleitoral com a maior mobilização humana destas duas semanas: uma arruada pelas ruas da Baixa de Lisboa (cujo arranque ainda se cruzou com os militantes do PSD, que desmobilizavam depois do comício de Rio no Terreiro do Paço) e um comício final em frente à sede do partido, no Largo do Caldas.

À cabeça do desfile, Francisco Rodrigues dos Santos foi acompanhado por dois ex-presidentes do CDS: José Ribeiro e Castro (número 2 por Lisboa) e Manuel Monteiro. O líder dos centristas aproveitou a presença das duas figuras para reiterar a importância histórica do CDS para a democracia portuguesa e para sustentar os seus argumentos contra o Chega e a Iniciativa Liberal — partidos que disputam grande parte do eleitorado tradicional do CDS e que Francisco Rodrigues dos Santos acusa de serem “cópias” do CDS.

Foi, aliás, esse o grande mote do discurso de encerramento da campanha, já no Caldas. “Somos indispensáveis a Portugal”, afirmou Rodrigues dos Santos, assegurando que “o CDS de hoje é o mesmo que esteve sob cerco no Palácio de Cristal há 47 anos”. Sublinhando que “sempre foi difícil ser do CDS”, o líder dos centristas não se absteve de classificar os valores do seu partido como “conservadores”.

“Os valores são antigos, mas são bons”, disse, sublinhando que “se não fossem bons não tinham resistido” ao longo das décadas.

Rodrigues dos Santos disparou diretamente contra a IL e o Chega, colocando-os no mesmo saco e acusando os liberais de votarem “a favor da esquerda” em assuntos que mexem com “valores dos democratas-cristãos”. Contra o Chega, Rodrigues dos Santos lembrou que o CDS “sempre foi a fronteira” que impediu que em Portugal se cruzassem “linhas azuis” para o “populismo”.

Francisco Rodrigues dos Santos durante a arruada na Baixa de Lisboa

No segmento mais apoteótico do seu discurso final, Rodrigues dos Santos perguntou aos presentes “quem foi o partido que sempre defendeu” um conjunto de valores, incluindo a defesa do mundo rural, da vida, das touradas, da autoridade das forças de segurança ou da liberdade económica — e recebeu consecutivas respostas no mesmo sentido: “O CDS!”

“Foi o Chega? Foi a IL? Vota CDS”, rematou Francisco Rodrigues dos Santos. “Aqueles que procuram o CDS fora do CDS estão a comprar gato por lebre.”

O líder dos centristas repetiu, no discurso final, outro dos argumentos centrais que tem usado ao longo da campanha: além de tentar impedir a fuga de eleitores para o Chega e a IL, o CDS quer também atrair os eleitores do PSD que não querem dar oportunidades a Rui Rio para fazer um “frete” a António Costa. O CDS, reiterou Rodrigues dos Santos, será o único partido a obrigar o PSD a governar à direita sem entendimentos com o PS.

Antes de Francisco Rodrigues dos Santos falou Ribeiro e Castro, que além de atacar o Chega, sublinhando que o CDS não abdicará de defender os direitos humanos, também se atirou às sondagens, prometeu que o partido seria a surpresa da noite eleitoral e elogiou a “bravura, a coragem e o ânimo” do atual líder do CDS — afirmando, logo a abrir o discurso, que Rodrigues dos Santos deu “um baile” a Ricardo Araújo Pereira no programa da SIC, superando uma das provas “mais difíceis” para um político na televisão portuguesa.

A arruada com que Francisco Rodrigues dos Santos encerrou a campanha eleitoral partiu da Rua Augusta, na Baixa de Lisboa, e contou com algumas centenas de apoiantes, que rumaram à sede do partido, numa disrupção com a tradição de descer o Chiado. Aliás, Ribeiro e Castro afirmou-o no seu discurso: “Como é que um partido fundado há 48 anos nunca se lembrou de fazer isto? Como é que precisamos de descer o Chiado quando podemos subir a [rua da] Madalena?”

“Perguntaram a António Costa se tem José Sócrates ao lado dele? Ou a Rui Rio se tem Santana Lopes ao lado dele?”

Durante a manhã, Francisco Rodrigues dos Santos tinha estado no mercado de Alvalade, na capital, ao lado do antigo presidente dos centristas José Ribeiro e Castro (que ocupa o segundo lugar na lista por Lisboa), onde se irritou com as sondagens e com as perguntas sobre o clima de divisão interna que se vive no partido.

Sobre as sondagens, que têm colocado o CDS a oscilar entre o 1% e os 2% (e em risco de desaparecer do Parlamento ou de se ver reduzido a um partido de deputado único), Rodrigues dos Santos classificou-as como “partidas de Carnaval antecipadas” e “fabricações” a que os militantes centristas já estão imunes.

São sondagens fabricadas, de encomenda, para favorecerem os partidos do bloco central de interesses — e para, uma vez mais, como fizeram sempre ao longo da história, vaticinarem o fim do CDS. Mas nós, a nossa gente, já aprendeu a defender-se desses estudos de opinião e a proteger-se destas fabricações de conveniência”, disse o líder do CDS.

Rio rejeita o “anel” de Ventura (e a “cana rachada”) e elogia a posição “civilizada” de Augusto Santos Silva

Que é como quem diz: esperem pelas eleições e logo verão. Eu estou absolutamente certo de que o nosso eleitorado conservador e democrata-cristão, no dia 30, domingo, vai preferir a direita certa para Portugal, uma direita com quase 50 anos de história”, acrescentou.

Rodrigues dos Santos voltou à polémica de outubro, com a antecipação e subsequente adiamento do congresso do CDS para depois das legislativas, uma controvérsia que contribuiu para que várias figuras do partido se desvinculassem formalmente ou se afastassem de Rodrigues dos Santos, deixando o CDS profundamente dividido.

Mas o líder do CDS rejeita qualquer clima de divisão interna e irritou-se com os jornalistas devido às perguntas sobre o tema.

“Não vejo ninguém a perguntar ao líder do PSD ou ao líder do PS… Perguntaram a António Costa se tem José Sócrates ao lado dele? Ou António José Seguro? Se tem com ele outros históricos do PS a apoiá-lo? Perguntam ao Dr. Rui Rio se tem Santana Lopes ao lado dele?”, atirou Rodrigues dos Santos. (Santana Lopes viria, poucas horas depois, a aparecer mesmo na campanha de Rui Rio.)

“Quero ver todos aqueles que querem apoiar o CDS. Quando eu apresento nestas eleições José Ribeiro e Castro, Manuel Monteiro, Teresa Nogueira Pinto, Manuel Queiró, Adalberto Neiva de Oliveira, António Lobo Xavier — até Rui Moreira esteve —, tantos nomes vetustos da história do nosso partido a estarem presentes, porque é que o CDS está dividido? Não está dividido!”, continuou.

Questionado sobre se uma clarificação interna prévia teria permitido melhores resultados, Francisco Rodrigues dos Santos desvalorizou.

LUSA

“Há uma clarificação interna no partido. O CDS teve um congresso que me elegeu como presidente e eu estou a executar o meu mandato. O congresso do partido, o próximo, vai realizar-se no calendário normal. Mas eu sou presidente do partido, não ando a exercer a minha liderança ao desafio. Eu tenho um mandato dos militantes do partido e estou a cumpri-lo. Essa ideia é rigorosamente falsa de que o CDS se encontra dividido. Não está dividido. É óbvio que nunca se consegue garantir uma unidade de 100% em nenhum partido político em Portugal. Mas, de facto, eu fui o líder partidário que ao longo desta campanha levou constantemente com estas perguntas. Não perguntam isto aos outros líderes partidários”, disse.

Francisco Rodrigues dos Santos aproveitou a passagem pelo mercado de Alvalade para distribuir panfletos, canetas e autocolantes aos comerciantes — e para sintetizar as bandeiras da campanha.

“Forças armadas e forças de segurança, patriotismo, impostos baixos, defesa do mundo rural e das nossas tradições, moralização dos apoios sociais, defesa da família e apoios aos mais jovens em início de vida”, elencou. “Este é o CDS que todos nós precisamos de ter forte nas próximas eleições e o único capaz de influenciar verdadeiramente um Governo de direita. Todos os eleitores de direita que querem um Governo de direita devem concentrar os votos no CDS. Um voto no CDS não é um voto contra o PSD. É um voto que permite ao PSD governar, mas governar à direita, não se entender com António Costa e impedir um bloco central de interesses.”

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR