Mal André Ventura pôs um pé fora do carro já dava para ver a bandeira de Portugal que trazia na mão. Durante duas semanas de campanha, André Ventura dispensou as bandeiras brancas, os cachecóis quase de claque que os militantes colocam ao pescoço e as gravatas azuis com o símbolo do Chega, mas estava prestes a começar uma arruada especial, uma das mais tradicionais das campanhas eleitorais — no Porto falhou o passeio pela Rua Augusta.

O derradeiro esforço do Chega estava depositado na calçada que ia ser pisada entre o Largo de Camões e os Restauradores, na quantidade de pessoas que iria fazer o percurso atrás do líder do Chega, no barulho e na comparação com quem ali tinha estado minutos antes, o PSD. Mas foi praticamente tudo para as câmaras e para os microfones. O número de pessoas que conseguiram chegar perto do presidente do Chega conta-se pelos dedos, não houve discurso final (ao contrário do aconteceu nas restantes arruadas) e as conversas com jornalistas foram acontecendo a conta-gotas. As paragens tiveram apenas três motivos: tirar fotografias, cantar o hino e mostrar quem estava a passar.

Ao contrário de todos os outros dias da campanha, desta vez André Ventura teve a companhia da mulher, Dina Nunes. Nas eleições Presidenciais acompanhou o líder do Chega para todo o lado, mas nesta campanha só marcou presença no último dia. Por falar em relações, pelas ruas do Chiado, havia uma questão inadiável para um último dia de campanha e, essa, tinha a ver com anéis, alianças e casamentos — tudo depois de André Ventura, o enamorado, ter dedicado a música “Paixão”, de Rui Veloso, a Rui Rio.

No dia seguinte ao pedido de casamento e já depois de o presidente do PSD ter recusado o anel de Ventura, o líder do Chega voltava a abrir a porta a uma maioria de direita (em que todos lhe têm fechado a porta): “É esta força [das ruas] que levamos para qualquer relação, seja conjugal ou extraconjugal, agora os outros partidos é que terão de decidir”, disse, frisando que é preciso ver “se [Rio] também não quer os portugueses no domingo”. E reiterou: “Espero que o Rio perceba a força do povo português que quer o Chega como solução.”

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André Ventura considera que a mobilização de pessoas na rua mostrou que “é possível [um partido] ser antissistema e ter um bom resultado em Portugal”. Apesar de só domingo serem conhecidos esses resultados, o líder do Chega está certo de que “as pessoas perceberam a mensagem” que o partido transmitiu durante a campanha eleitoral, em que levantou as bandeiras da corrupção, do IVA da eletricidade e do fim das portagens.

O almoço do apelo ao não-voto útil

Desde que a campanha eleitoral começou que o líder do Chega e a comitiva mais próxima não tinham estado em Lisboa, nem mesmo Rui Paulo Sousa e Rita Matias, segundo e terceiro lugares por Lisboa, que fizeram a volta nacional com o presidente do partido. A caravana chegou esta sexta-feira a Cascais para um almoço-comício com mais de 200 pessoas, seguiu para a arruada e fecha a campanha com um jantar no Barreiro.

Olhos nos olhos com os militantes do círculo eleitoral onde o Chega espera os melhores resultados, Ventura pediu que os eleitores “não se deixem enganar pelo voto útil no PSD e no PS”, ao referir que o Chega ter estado vários meses em terceiro nas sondagens e isso não se refletir nas urnas “não vale de nada”.

Aliás, para André Ventura nem chega que o país queira mudar de Governo: “Não basta dizer ‘que ganhe a direita’, temos de perceber que direita é que queremos que ganhe”, alertou, frisando que é preciso decidir se o país quer “a direita sozinha do PSD ou direita que obrigue a devolver dignidade aos portugueses.” Aquela direita a que chamou, durante toda a campanha, “a nova direita”.

O líder do Chega insistiu na ideia de que o partido foi o centro da narrativa política da campanha, dizendo que houve uma “tentativa de isolar” o Chega. Mas não se mostrou preocupado: “Sozinhos já nós estávamos há muito tempo e termos ficado sozinhos ainda nos deu mais orgulho.”

As principais críticas do último dia tinham como alvo um socialista. “A palavra que mais ouvi do primeiro-ministro mais disse nestas eleições não foi PSD, nem crise, nem Covid. A palavra que mais repetiu foi Chega, Chega, Chega e Chega”, sublinhou André Ventura, enquanto concluiu: “Se incomodamos tanto um primeiro-ministro que tem empobrecido Portugal, que não sai do epicentro de escândalos de corrupção e de destruição do dinheiro público, é porque alguma coisa estamos a fazer bem.”

E caso no dia a seguir às eleições haja um governo de bloco central, André Ventura até considera que isso pode ser benéfico para o Chega. “O Chega aí será líder da oposição porque será a terceira força política. Isso era… mãe do céu… era uma dádiva dos céus.”

“Se PS e PSD se entenderem por não conseguirem estar de acordo com as bandeiras do Chega, por nós ótimo, vamos liderar a oposição e o Governo vai ter mesmo oposição, não vai ser como aqui”, argumentou, dando o exemplo do que “aconteceu em Espanha, [em que] o Vox está com 20% das sondagens”.