Líderes da comunidade portuguesa nos Estados Unidos defenderam que as autoridades portuguesas devem reforçar o apoio às associações luso-americanas que promovem as tradições e a língua portuguesa neste país.

“Uma das formas de apoiar as associações é abrir mais a comunicação, para que tenham mais acesso a informações, a recursos que estão lá para elas irem buscar”, disse Katherine Soares, vice-presidente do Conselho de Liderança Luso-Americano (PALCUS) em Nova Iorque.

“O Governo não tem a obrigação de andar a passar cheques”, considerou, “tem no mínimo a obrigação de comunicar com as associações, porque são estas que acabam por divulgar a cultura, a mensagem e a portugalidade pelo mundo fora”.

O movimento associativo e os seus atuais desafios foram o tema da sessão inaugural do projeto online “As Nossas Vozes”, uma parceria do PALCUS com o Instituto Português Além-Fronteiras da Universidade Estadual da Califórnia — Fresno, que aconteceu esta madrugada e foi totalmente falado em português.

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“Portugal deve apoiar”, afirmou Eduardo Eusébio, responsável da San Pablo Holy Ghost Association, frisando o papel que tem sido desempenhado pela Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) neste sentido.

“Quanto mais se valoriza a língua portuguesa, mais se valoriza a economia portuguesa”, disse. “Portugal só tem a ganhar com a perceção do valor da nossa cultura, dos nossos emigrantes, das nossas ciências”.

Também Francisco Viveiros, presidente da Casa dos Açores de Nova Inglaterra, considerou que o apoio às associações é importante. “Sendo Portugal um país pequeno, a sua dimensão quando aliada à nossa diáspora agiganta-o”, referiu. “Penso que é de todo o interesse e obrigatoriedade acarinhar as nossas associações, sob pena de ficar um país ainda mais pequeno e pobre”.

A discussão em torno do movimento associativo acontece numa altura em que há receios sobre a sua continuidade. Os intervenientes frisaram a necessidade de atrair as novas gerações de lusodescendentes para os clubes, salões e associações portuguesas, que têm perdido influência entre os mais jovens.

“O grande problema que estamos a viver é o quase desaparecimento de algumas associações”, disse Francisco Viveiros. “Os mais velhos vão desaparecendo e como grande parte da cultura açoriana assenta na religiosidade, isto faz com que a juventude se afaste das associações e deixe de viver as tradições que foram trazidas pelos pais e pelos avós”. Embora seja “um problema transversal à comunidade”, a de origem açoriana está a senti-lo de forma premente, considerou.

A contrariar essa tendência, a Casa dos Açores de Nova Inglaterra tem tido sucesso com o Fabric Arts Festival, em Fall River, que divulga a cultura contemporânea que se faz em Portugal e a mistura com artistas locais. O evento atrai as gerações mais jovens, para quem já não bastam as festas e os ranchos folclóricos. 

“O papel das associações na comunidade tem vindo a mudar”, salientou Katherine Soares, notando que estas já estavam a sofrer com falta de participação antes da pandemia de Covid-19. “É preciso que as organizações se continuem a reinventar. Voltar ao que era antes também não dá”, disse, falando dessa geração mais nova que quer ver coisas atualizadas.

No entanto, em estados como a Florida o problema é que são poucos os jovens lusodescendentes. Eduarda Vassal, presidente do clube português de Palm Beach, explicou que a maioria dos luso-americanos da área são reformados, o que põe em causa a continuidade das tradições.

“Não temos jovens para entregar os clubes”, afirmou. “Quando já não pudermos trabalhar, as portas vão-se fechar e é triste”, lamentou Vassal.

Outro problema identificado no debate foi a fragmentação. “Há um movimento fragmentado. É um movimento bairrista e até individualista das nossas associações”, indicou Eduardo Eusébio. O responsável deu o exemplo de uma cidade na Califórnia onde há três bandas filarmónicas, três associações de futebol e duas do Espírito Santo. Katherine Soares deu outro exemplo: “em Newark há três ou quatro clubes do Minho”.

A solução pode passar pela fusão de algumas associações e clubes, além da reinvenção para atrair novas gerações e o esforço para tornar as tradições atrativas de uma forma contemporânea.

“Somos um país pequenino, mas com uma cultura muito bonita”, apontou Eduarda Vassal. “E é bonito termos vaidade na nossa cultura”.