Jennifer Brady em Melbourne. Barbora Krejcikova e Anastasia Pavlyuchenkova em Paris. Emma Raducanu
e Leylah Fernandez em Nova Iorque – todas em 2021. E ainda Sofia Kenin em Melbourne, Iga Swiatek em Paris, Viktoria Azarenka em Nova Iorque, neste caso em 2020. Ao contrário do que se passa nas finais dos Grand Slams masculinos, onde os escolhidos andam sempre à volta dos Três Mosqueteiros e de uma nova geração agora liderada por Daniil Medvedev, o quadro feminino tem promovido sempre pelo menos uma surpresa no encontro decisivo. Este ano, o Open da Austrália não foi exceção. Com tudo aquilo que isso depois significava em termos de contexto de jogo e gestão de emoções já elevadas de uma final.

Como descrevia o The Guardian na antecâmara das decisões, Danielle Collins era “a última americana a florescer de forma tardia à beira da glória”. Nascida na Flórida e profissional desde 2016, a jogadora de 28 anos contava apenas com dois títulos na carreira (no Open de Palermo e no Silicon Valley Classic, ambos em 2021), e apenas por duas vezes tinha chegado a uma segunda semana de Grand Slam, nas meias de 2019 do Open da Austrália e nos quartos de Roland Garros em 2020. Até pelo seguimento cronológico, percebia-se que era uma jogadora em crescendo, cada vez mais confiante nas suas capacidades e a mostrar que a idade não é o propriamente o fator mais importante quando se encontra o equilíbrio certo.

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“Houve uma altura da minha carreira em que não conseguia mais lidar com tudo isto em termos físicos e mentais. Assim que consegui o diagnóstico adequado e fiz uma cirurgia, sinto que isso me ajudou muito – não apenas do ponto de vista físico, mas do ponto de vista mental”, salientara antes da final, depois de uma triunfo convincente diante da polaca Iga Swiatek, vencedora da última edição de Roland Garros.

Do outro lado, a número 1 do mundo, a grande favorita ao triunfo no torneio e até mesmo a australiana (já lá vamos mas também conta) Ashleigh Barty. Aos 25 anos, tentava juntar o Open da Austrália a Roland Garros (2019) e Wimbledon (2021), reforçando a sua posição num quadro WTA marcado pelas constantes alterações entre as primeiras classificadas. Mas a jogadora tinha mais do que vontade de ganhar, como comprovou o percurso até à final onde curiosamente eliminou outras três americanas de forma seguida: Amanda Anisimova, Jessica Pegula e Madison Keys. Seguia-se Collins e um encontro com a história.

Ao longo dos seis encontros até à final, Barty perdeu apenas 21 jogos, algo que acontecera apenas este século duas vezes com Serena Williams (16 no US Open de 2013 e 19 no US Open de 2012) e uma com a irmã, Venus (20 no Wimbledon de 2009). Tão ou mais importante, chegava com apenas uma derrota nos seus jogos de serviço, sendo que nos últimos seis anos apenas uma jogadora se tinha aproximado desse registo e mesmo assim atrás, com os três jogos perdidos por Serena Williams no US Open de 2019. E foi exatamente neste ponto que Danielle Collins voltou a conseguir surpreender em Melbourne.

A história do primeiro set mostrou o equilíbrio que se iria registar ao longo do triunfo com a experiência a fazer a diferença na hora da verdade: depois de quatro jogos fáceis de segurar o serviço, Barty conseguiu contrariar um break de Collins para 3-2 mas Collins não conseguiu inverter o contra no seu serviço de 4-2, que abriu a possibilidade à australiana de fechar com 6-3. Depois, e apenas num set, aconteceu aquilo que não acontecera ao longo de seis partidas até à final: a americana quebrou duas vezes o serviço de Barty. No entanto, a australiana foi a tempo de fazer o mesmo, levar as decisões para tie break e fechar com 7-2.

Estava assim quebrado um dos maiores e mais improváveis jejuns da história do ténis, ou não se fosse o palco da final a Rod Laver Arena em homenagem a um dos melhores jogadores de sempre: 44 anos depois, Barty tornava-se a primeira australiana a ganhar em Melbourne, sucedendo a Chris O’Neill nos femininos (1978) e a Mark Edmonson nos masculinos (1976). Pelo meio, houve o triunfo de Evonne Goolagong em 1977 e também aqui há uma ligação ao feito da atual número 1 do mundo: o orgulho nas raízes que tem na população indígena, silenciada e marginalizada até há bem pouco tempo, como recordava o La Vanguardia. “É uma honra e uma maneira de estar ligada à terra e poder fazer uma homenagem aos primeiros povos da Austrália”, referiu a tenista de Queensland  com raízes na tribo Ngaragu.