A hibernação de astronautas pode ser a melhor forma de economizar custos de uma missão a Marte, reduzir o tamanho da nave e manter a tripulação saudável durante a longa viagem até ao planeta, defendem cientistas.

Num estudo liderado pela Agência Espacial Europeia (ESA), que esta segunda-feira divulgou as suas conclusões em comunicado, uma equipa de investigadores sugere que a hibernação humana (induzida por medicação com ação sedativa para reduzir o metabolismo) pode vir a ser uma “técnica revolucionária para as viagens espaciais”.

Segundo a ESA, reduzir a taxa metabólica de uma tripulação a caminho de Marte para 25% do seu estado normal permitiria diminuir o tamanho da nave e a sua carga útil (comida, água, oxigénio), tornando a viagem de ida e volta de dois anos “mais viável”.

Alguns animais, como os morcegos, hibernam durante o inverno, baixando a sua temperatura corporal e metabolismo geral até ao limiar da sobrevivência, usando reservas alimentares. A hibernação define-se por um estado de entorpecimento ou letargo (semelhante ao sono profundo).

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Os cientistas propõem a construção de cápsulas para astronautas com configurações ajustadas a uma “hibernação suave”: ambiente silencioso com pouca luz, baixa temperatura – menos de 10°C – e humidade elevada.

Os astronautas mover-se-iam muito pouco e usariam roupas que evitassem sobreaquecimento. Sensores mediriam a sua temperatura, postura e frequência cardíaca. Antes de adormecer, a tripulação deve ganhar gordura corporal extra.

Cada cápsula deverá ser envolvida por recipientes de água que funcionarão como um escudo contra a radiação cósmica.

“A hibernação realmente ajudará a proteger as pessoas dos efeitos nocivos da radiação durante as viagens espaciais profundas. Longe do campo magnético da Terra, os danos causados por partículas de alta energia podem resultar em morte celular ou cancro”, disse, citado no comunicado da ESA, um dos autores do estudo, Alexander Choukér, da Universidade Ludwig Maximilians, em Munique, na Alemanha.

De acordo com Alexander Choukér, investigador, professor e anestesista, a hibernação previne, ainda, a atrofia muscular e óssea e lesões nos tecidos.

Segundo a coordenadora do estudo, Jennifer Ngo-Anh, que trabalha na Direcção de Programas de Exploração Humana e Robótica da ESA, a hibernação “minimizaria os níveis de tédio, solidão e agressividade ligados ao confinamento numa nave”.

Com a tripulação em repouso por longos períodos, sistemas assistidos por inteligência artificial entrariam em ação durante anomalias e emergências.

Além de monitorizar o consumo de energia e as operações autónomas, os computadores a bordo manterão o desempenho ideal da nave até que a tripulação possa ser acordada”, sustentou Alexander Choukér.