Utentes, colaboradores e direção do Centro Social Paroquial dos Pousos, no concelho de Leiria, querem estar com o Papa Francisco no Vaticano, num encontro em que, conforme a escolha do pontífice, haja chá ou vinho.

O desejo é manifestado numa carta enviada à Santa Sé, assinada por cerca de 30 pessoas, que depois de apresentado o projeto ao administrador apostólico da diocese de Leiria-Fátima, cardeal António Marto, vai seguir “em mãos para entrega direta aos assessores do Papa Francisco”, segundo informação disponibilizada hoje na página da diocese na Internet.

“Se não fosse gostarmos tanto de si, e porque nos dá a entender que gosta também muito de todos nós, não teríamos a ousadia de lhe escrever esta carta”, começa o texto dirigido a Francisco, no qual os utentes daquela instituição de solidariedade social manifestam a vontade de alcançar os seus desejos “importantes”.

“Sentimos também que na nossa idade, já é muito adiantada como a do Senhor Santo Padre, devemos resolver e realizar as coisas importantes e, se alguma existir sem que tenha sido realizada, tentamos alcançá-la com a ajuda daqueles que, neste momento, nos são mais próximos e cuidam de nós”, escrevem, acrescentando que ainda são capazes “de fazer almofadas à mão para os jovens da (…) Diocese poderem rezar mais confortavelmente, como (…) de inventar doces para ir oferecer ao Bispo (…) Dom António Marto, às senhoras e senhores da Polícia, dos Hospitais, da Câmara Municipal e aos Bombeiros”.

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E, sem hesitarem, dirigem ao Papa o pedido para um encontro no Vaticano.

“O Senhor Santo Padre tem certamente uma agenda que é diferente da nossa e que, sem dúvida, é muito angustiante, intensa e preenchida. Mas, quem sabe, talvez nos possa doar um bocadinho da sua vida para nos encontrarmos aí, na sua casa!”, escrevem, acrescentando: “Perdoe novamente a ousadia, mas se o Senhor Santo Padre entender por bem, iríamos ao seu encontro, dentro de uns meses, durante este ano de 2022, e gostávamos mesmo era de ir a sua casa ou ao seu jardim para sermos recebido por si, para que pudesse falar connosco um minutinho e depois nos deixasse a brindar um vinho (alguns de nós ainda gostamos desse sabor) ou um chazinho, com o aroma que, na sua opinião, mais iríamos apreciar”.

“Se houver acolhimento e disponibilidade para o “minutinho” que lhe solicitamos, iríamos um grupo de dez idosos, em cadeiras de rodas, acompanhados pelos nossos cuidadores. De preferência, gostaríamos de o fazer em período de temperaturas mais amenas. O frio atormenta-nos e poderíamos também desfrutar das belas partes do Vaticano”, explicam, por fim, mandando ao Papa “um abraço fraterno, de todos os idosos e colaboradores, do tamanho daqui até aí”.

Alexandra Neves, secretária da direção do Centro Social Paroquial dos Pousos, explicou à agência Lusa que o projeto se enquadra na missão do “Clube dos Sonhos” que a instituição tem desde há cinco anos e que pauta a sua ação pela ousadia.

“Com este clube queremos que a experiência da terceira e da quarta idades seja positiva para os nossos idosos, tentando cumprir os seus sonhos que não tiveram oportunidade de realizar até então“, disse Alexandre Neves à agência Lusa, acrescentando que “andar a cavalo, de bicicleta, ter batismo de voo ou, coisas mais íntimas, como fazer as pazes com um amigo ou familiar”, têm sido sonhos que a instituição tem ajudado a concretizar.

Para o projeto de ida ao Vaticano, o Centro Social — que tem 48 utentes em lar, 20 em centro de dia e 40 em apoio domiciliário, além dos cerca de 80 alunos da academia sénior — conta com o apoio do cardeal António Marto, até à passada sexta-feira bispo de Leiria-Fátima e agora administrador apostólico da diocese, que atestou a autenticidade da carta escrita por utentes (todos com mais de 90 anos) e funcionários e que chegará à Santa Sé.

E como é que a ideia surgiu? Alexandra Neves recorda o dia 05 de maio de 2021, quando António Marto esteve no Centro Social para dialogar com os idosos na iniciativa “À Conversa com…”.

No final, uma idosa dirigiu-se a elementos da direção é disse: “Agora falta vir o Papa. Nem que ele venha de helicóptero. Desce aqui um bocadinho, dizemos adeus e pronto…”

A carta já foi escrita e a expectativa é grande quanto à resposta. O que a direção do Centro gostaria que acontecesse era um programa de três dias — um para ir, um para estar e outro para regressar —, proporcionando aos dez idosos selecionados a possibilidade de, além de estarem com o Papa, viajarem de avião, estarem numa capital europeia, visitarem um pouco do Vaticano e ficarem num hotel.

Caso se concretize, os dez idosos irão acompanhados por dez funcionários, que “tratarão deles dia e noite”, assegura Alexandra Neves, admitindo que, caso o Papa Francisco não tenha um vinho italiano para brindar com os utentes do Centro Social, eles levarão dos Pousos o seu vinho solidário “Reserva dos Amigos” —produzido pela Vidigal Wines.