A confusão e a incompreensão reinavam esta segunda-feira em Gatuna, posto fronteiriço entre o Ruanda e o Uganda, onde os ruandeses foram impedidos de atravessar a fronteira, apesar do anúncio da sua reabertura oficial após três anos de espera.
O principal ponto de passagem entre os dois países vizinhos da África Central – conhecido como Katuna no Uganda – reabriu oficialmente às 00h00 desta segunda-feira, como anunciado pelas autoridades ruandesas na passada sexta-feira, formalizando um descongelamento nas relações entre os dois países.
O filho do Presidente ugandês, Yoweri Museveni, general Muhoozi Kainerugaba, que visitou Kigali em 22 de janeiro, saudou na rede social Twitter a “abertura completa (das) fronteiras”, considerando-a “um magnífico sucesso”.
I thank our great leaders, President @KagutaMuseveni and @PaulKagame for fully opening our borders! This is a wonderful achievement. Now our people can freely move, trade and interact as Almighty God always intended! God bless East Africa! pic.twitter.com/Tbm9YqIzU3
— Muhoozi Kainerugaba (@mkainerugaba) January 31, 2022
“Agora o nosso povo pode mover-se livremente, negociar e interagir como deus todo-poderoso sempre quis”, afirmou.
Esta segunda-feira de manhã, porém, os ruandeses que tentaram atravessar a fronteira, apesar da chuva torrencial, na esperança de viajarem para o Uganda, ficaram surpreendidos por lhe ser negada a passagem.
“Foi-me dito que a fronteira estava aberta, vim com a intenção de atravessar para o Uganda e comprar coisas. Mas os funcionários da imigração ruandesa disseram-me que eu não podia atravessar até novo aviso. É bastante confuso”, afirmou um comerciante ruandês, citado pela agência France-Presse (AFP).
De igual forma, uma mulher afirmou à agência francesa que um funcionário na fronteira lhe disse que “não é possível atravessar neste momento”.
As autoridades de ambos os países explicaram esta segunda-feira ao início da tarde que, devido às restrições impostas na prevenção da propagação da Covid-19, o acesso é limitado aos cidadãos ou residentes que regressam aos respetivos países, bem como aos camiões que transportem mercadorias.
“Camiões, cidadãos ruandeses/residentes de regresso ao Ruanda estão a atravessar para o Ruanda em Gatuna, bem como em outros postos de fronteira, de acordo com os protocolos anti-covid”, anunciou a porta-voz do governo ruandês, Yolande Makolo.
“Funcionários de saúde ruandeses e ugandeses estão a trabalhar em protocolos conjuntos de combate à Covid, que permitirão a todos atravessar, de ambos os lados”, acrescentou.
No lado ugandês, os camionistas relataram atrasos pela manhã devido a procedimentos burocráticos, mas não referiram a existência de bloqueios.
O comissário da Imigração ugandês, Marcelino Besigye, disse à AFP que foi “acordado” com os homólogos ruandeses que será dada “prioridade aos camiões com carga”.
“Devido à Covid-19, as viagens de não-residentes não são encorajadas”, como é o caso “em todas as fronteiras, em conformidade com os protocolos de saúde de combate à Covid-19 na África Oriental”, acrescentou.
O Ruanda fechou repentinamente a sua fronteira com o seu vizinho do norte em fevereiro de 2019, cortando uma importante rota comercial, num corolário de elevadas tensões políticas entre Kigali e Kampala.
Kigali acusou o Uganda de raptar os seus nacionais e de apoiar os rebeldes que procuravam derrubar o Presidente Paul Kagame.
Kampala acusou, em contrapartida o Ruanda de espionagem e de matar dois homens durante uma incursão no seu território em maio de 2019, acusação que Kigali contestou.
Paul Kagame e Yoweri Museveni foram aliados próximos durante os anos 1980 e 1990 na luta pelo poder nos respetivos países, antes de se tornarem rivais.
A reabertura da fronteira terrestre entre os dois países deverá permitir o regresso dos produtos ugandeses ao mercado ruandês.
Em 2018, as exportações ugandesas para o Ruanda – incluindo cimento e alimentos – ascenderam a mais de 211 milhões (188 milhões de euros ao câmbio atual), de acordo com o Banco Mundial. O Ruanda exportou bens no valor de 13 milhões de dólares (11,5 milhões de euros) para o Uganda.
Estes números caíram significativamente a partir de 2019, agravados ainda mais pela crise da Covid-19.