A Amnistia Internacional condenou esta quarta-feira a crescente violência contra jornalistas e defensores dos direitos humanos no continente americano, após o assassínio de pelo menos 24 no mês de janeiro.

“O assassínio de 20 pessoas defensoras dos direitos humanos e de quatro jornalistas em apenas um mês é alarmante e mostra um cenário aterrador do que pode ser este ano para aqueles que erguem a voz em defesa dos direitos humanos nas Américas”, disse a diretora da Amnistia Internacional (AI) para o continente americano, Erika Guevara Rosas, num comunicado.

Por essa razão, a responsável instou à “construção de um futuro” em que defender os direitos humanos “não signifique arriscar a vida”. “É imperioso que os Estados tomem medidas urgentes para garantir um espaço seguro e propício à defesa dos direitos humanos e ao jornalismo independente na região e que estas deixem de ser atividades letais”, sustentou.

Os assassínios ocorreram precisamente nos países considerados mais perigosos para a defesa dos direitos humanos em anos anteriores: 13 na Colômbia, três no Brasil e três nas Honduras, ao passo que uma ativista e quatro jornalistas foram assassinados no México, o país mais mortífero do continente para exercer o jornalismo.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Os Estados têm a obrigação de investigar os assassínios de forma célere, exaustiva, independente e imparcial, e com uma linha de investigação principal que considere o trabalho de defesa dos direitos humanos ou a atividade jornalística. Eliminar a impunidade nestes casos é fundamental”, acrescentou Guevara Rosas.

Os jornalistas José Luis Gamboa Arenas, Lourdes Maldonado, Alfonso Margarito Martínez Esquivel e Roberto Toledo foram assassinados em janeiro no México.

“O Governo mexicano deve tomar medidas concretas, rápidas e eficazes para garantir a vida e a segurança das pessoas que exercem o jornalismo no México, bem como investigar estes assassínios”, refere a AI no comunicado.

Também foi assassinada no país, em Temixco, Morelos, a 27 de janeiro, a ativista Ana Luisa Garduño, que lutava por justiça pelo homicídio da sua filha.

Na Colômbia, de acordo com o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento e a Paz, foram assassinados em janeiro 13 ativistas dos direitos humanos, todos ligados à defesa da terra, do território e do ambiente. Além disso, o instituto documentou também 13 massacres que tiveram como resultado a morte de 40 pessoas residentes em zonas rurais do país, segundo o comunicado da AI.

Uma das ativistas assassinadas foi Luz Marina Arteaga, que contava com medidas de proteção.

A Amnistia Internacional denunciou as políticas falhadas de prevenção e proteção que contribuem para um ambiente inseguro para a proteção de pessoas defensoras dos direitos humanos na Colômbia”, lê-se no documento.

No Brasil, a 9 de janeiro, foram encontrados os corpos de três pessoas da mesma família, conhecida por libertar crias de tartarugas e pela defesa da terra em São Francisco do Xingú, no Estado do Pará. A 14 de janeiro, o Ministério Público Federal afirmou que os factos ocorreram num contexto de “reiterados ataques a ecologistas e defensores de direitos humanos no país”.

Nas Honduras, a 9 de janeiro, dois homens assassinaram Pablo Isabel Hernández, líder indígena, jornalista e defensor dos direitos humanos e ambientais. “Pablo tinha sido vítima de múltiplas ameaças devido ao seu trabalho de defesa dos direitos humanos, em particular pelas suas denúncias na rádio comunitária onde trabalhava”, indicou a Amnistia.

No dia seguinte, Thalía Rodriguez, defensora transsexual de direitos humanos, foi assassinada em Tegucigalpa.

Depois, o gabinete do Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos informou que, a 22 de janeiro, Melvin Geovany Mejía, indígena tolupan e defensor do território, foi encontrado morto com ferimentos de arma de fogo.