Um dos mais conhecidos jornalistas de Caxemira foi detido na sexta-feira pela polícia indiana acusado de publicar “conteúdo antinacional”, numa altura que cresce a repressão contra os meios de comunicação social naquela área, notíciou no sábado a Associated Press (AP).

Segundo a AP, Fahad Shah, fundador e editor do portal de notícias Kashmir Walla, foi interrogado numa esquadra da polícia no sul da cidade de Pulwama, tendo sido mais tarde detido.

Numa declaração, a polícia explicou que Shad foi identificado entre “alguns utilizadores do Facebook” que tinham publicado “conteúdo antinacional”, com “intenção criminosa de criar medo entre (o) público” e “provocar a perturbação da lei e ordem”, considerando que aquele conteúdo é “equivalente a glorificar as atividades terroristas”.

As autoridades consideram que o jornalista frequentemente glorificava “o terrorismo”, espalhava “notícias falsas” e instigava as pessoas a perturbar a lei e ordem em Caxemira.

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A AP explica que o portal Kashmir Walla publicou várias notícias após um tiroteio entre rebeldes presos dentro de uma casa civil e tropas indianas em Pulwama, em 30 de janeiro, no qual um rebelde de Caxemira foi morto, assim como um militante paquistanês e adolescente, que as autoridades apelidaram de “híbrido”, termo que as autoridades começaram a utilizar no ano passado para alegados militantes sem registo policial e que operam como civis.

Numa dessas publicações está um vídeo em que são citados membros da família do adolescente assassinado que refutavam a alegação da polícia e um outro vídeo em que era citada a irmã do rapaz, contradizendo uma declaração anterior da família.

Apesar das crescentes pressões e ameaças por parte das autoridades, os jornalistas continuaram a cobrir supostos abusos de direitos humanos cometidos pelos militares em Caxemira, avança o jornal The Guardian.

O advogado de Fahad Shah, Umair Ronga, considera que a prisão é “chocante” e o “fim do Estado de Direito”, pedindo assim a libertação do jornalista através do pagamento de fiança.

Ele é um jornalista condecorado e um firme crente na majestade da lei. A sua prisão é injustificada”, disse Ronga no Twitter.

Entretanto, o Comité de Proteção dos Jornalistas de Nova Iorque pediu às autoridades indianas para “imediata e incondicionalmente” libertarem Shah, “abandonarem qualquer investigação sobre o seu trabalho e cessar a detenção de membros da imprensa”.

A prisão de Shah ocorre na sequência de uma repressão agressiva a jornalistas independentes em Caxemira, que é disputada entre a Índia e o Paquistão.

A Índia e o Paquistão reivindicam Caxemira na íntegra, sendo o local um dos mais fortemente militarizados do mundo.