O Banco Central do Brasil expressou esta terça-feira receio de que o aumento de gastos defendido pelo Governo e pelo Congresso agrave o défice das contas públicas e pressione a inflação, que em 2021 foi a mais alta em seis anos.

O órgão emissor admitiu que, temendo que as eleições tenham um efeito negativo sobre a inflação, terá que manter por mais algum tempo a sua atual política fiscal restritiva, com taxas de juros no nível mais alto em quase cinco anos, para conter o aumento dos preços.

O Banco Central brasileiro expressou os seus receios numa ata divulgada esta terça-feira sobre a última reunião de seu Comité de Política Monetária (Copom), que elevou a taxa básica de juros no Brasil em 1,5 ponto percentual, para 10,75% ao ano, o nível mais alto desde abril de 2017.

O Brasil realizará eleições presidenciais, legislativas e regionais em outubro de 2022, nas quais o Presidente do país, Jair Bolsonaro, e vários parlamentares tentarão a reeleição.

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Nos últimos meses, tanto o executivo quanto membros do legislativo aprovaram aumentos significativos nos gastos públicos, inclusive para financiar um ambicioso plano de subsídios aos mais pobres que ameaçam piorar a situação fiscal do país. Na ata divulgada nesta terça-feira, o Banco Central brasileiro informou que, face a este risco, pode elevar a taxa básica de juros em mais 1,5 ponto percentual na próxima reunião do Copom e continuar a aumentar o custo do dinheiro no resto do ano.

“Um novo reajuste de 1,5 ponto percentual, seguido de reajustes adicionais a uma taxa menor nas próximas reuniões, parece a estratégia mais adequada para atingir a restrição monetária suficiente e garantir a convergência da inflação para as metas impostas“, afirmou o documento.

Brasil encerrou 2021 com mais de 70% das famílias endividadas

De acordo com o órgão emissor, as novas ameaças de subida da inflação, inclusive a gerada por riscos fiscais em ano eleitoral, justificam a sua decisão de que o atual ciclo de aperto monetário “avance significativamente em território contracionista”.

Analistas e economistas estão a subir as projeções para a inflação no Brasil em 2022 justamente pela expectativa de que o Governo aumente os gastos no ano eleitoral. Da mesma forma, diante das previsões de que a inflação continuará alta e que o custo do dinheiro continuará caro, os economistas também vêm a reduzir a sua projeção para o crescimento da economia brasileira em 2022, que agora colocam em 0,3%.

Algumas instituições financeiras, como o Banco Itaú, chegam a prever que o Brasil sofrerá uma contração neste ano. A economia brasileira encolheu 3,9% em 2020 como resultado da crise gerada pela pandemia do novo coronavírus e, de acordo com as últimas projeções, saltou 4,5% em 2021 graças a uma recuperação que não deve manter-se em 2022.