A coordenadora do programa africano da organização não-governamental (ONG) Comité para a Proteção de Jornalistas acusou terça-feira o Governo da Guiné-Bissau de permitir ataques a jornalistas, ao não responsabilizar os atacantes, e criticou as “tentativas de censura” no país.

“Quando vemos esta estação de rádio a ser atacada pela segunda vez nos últimos 18 meses, isso mostra claramente que, de alguma maneira, a impunidade dá aos rufias armados a licença para atuar da forma que fazem, destruindo equipamento e obrigando a rádio a sair do ar”, disse Angela Quintal.

Em entrevista à Lusa a partir de Nova Iorque, a antiga jornalista na África do Sul criticou o Governo, considerando que devia fazer muito mais, não só pela proteção dos jornalistas, mas também na investigação aos ataques.

“Se o Governo realmente quisesse acabar com os ataques aos jornalistas, precisaria de fazer muito mais do que uma investigação que dura um dia ou dois, ou meter um segurança à porta, e tem de tentar garantir realmente que os culpados são responsabilizados”, afirmou Quintal.

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Cinco pessoas, entre jornalistas, técnicos e pessoal administrativo, ficaram com ferimentos na sequência do ataque às instalações da Rádio Capital FM na Guiné-Bissau, disseram à Lusa fontes da direção da estação.

Rádio Capital atacada por grupo de homens armados na Guiné-Bissau

Os feridos são três jornalistas, um técnico de apoio à emissão e um administrador da Leste FM, sucursal da Capital FM, em Gabú, no leste da Guiné-Bissau.

Os ferimentos resultaram da tentativa daqueles elementos em fugir do local na altura em que homens armados encapuzados entraram nas instalações e começaram a destruir os equipamentos a tiro.

A Rádio Capital FM, criada pelo jornalista Lassana Cassamá, também correspondente da Voz da América na Guiné-Bissau, foi vandalizada em 26 de julho de 2020, também na altura por “homens armados encapuzados”.

“O que aconteceu aos casos, os atacantes foram encontrados e condenados, ou presos? Não, não foram, e o que quero dizer é que com esta impunidade, os jornalistas estão praticamente sob cerco na Guiné-Bissau”, vincou Angela Quintal.

O ataque à estação Rádio Capital “é alarmante e estamos muito preocupados”, acrescentou a responsável do Comité para a Proteção de Jornalistas, apontando: “O Governo tem de fazer mais do que simplesmente falar, tem de garantir que os jornalistas não são atacados, garantir a sua segurança e que não são censurados, mas o que vemos é uma tentativa de censura”.

Para a antiga jornalista na África do Sul, e que dirige o programa africano da ONG, “não havendo pluralidade, são os guineenses que são sonegados de informação, não pode haver só informação na linha do Governo”, afirmou.

Questionada sobre se considera que a situação vai melhorar ou piorar a curto prazo, Angela Quintal respondeu: “Tenho sempre esperança que melhore, mas se o Governo apoiasse os meios de comunicação social em vez de os reprimir e prender jornalistas, como fez a um jornalista acusado de difamação criminal, e se encontrassem realmente os culpados, então teria mesmo esperança de que as coisas vão melhorar, mas se isso não acontecer, então dá-se uma licença a quem ataca jornalistas para continuar, sabendo que não será responsabilizado”.