Sete baloiços, sete atores e sete histórias para descobrir. Assim se faz o novo espetáculo de Diana Sá, atriz e encenadora, que se juntou à companhia famalicense Cão Danado, naquela que é a segunda criação onde explora a proximidade entre o público e o ator.
“No primeiro espetáculo fi-lo através telefones, neste tentei trabalhar um formato de maior proximidade. Esta pandemia levou-me a pensar na partilha, não de uma forma coletiva, mas de uma maneira mais individual. Sinto que fomos bombardeados com números e gráficos, uma comunicação muito homogénea, onde se fala em massa e para massas. Senti necessidade e vontade de criar um elo mais intimista e um espaço cénico que propõe um jogo em que o público também faz parte desse jogo e de toda a narrativa”, explica a encenadora ao Observador.
Em “Descanso na tua voz”, o espectador é convidado a subir ao palco do Rivoli e a sentar-se num dos sete baloiços de madeira disponíveis, rodeados por focos de luzes coloridas, emoldurados por uma estrutura metálica que balança entre a prisão de uma jaula ou uma gaiola e a intimidade ou o secretismo de um confessionário. À sua frente estará um ator, também ele sentado, que lhe contará uma história.
“Os textos são do Eduardo Brito e são bastante flexíveis, há espaço para promover o diálogo e qualquer tipo de interação. Não é obrigatório, mas existe uma margem para que isso aconteça”, esclarece Diana Sá, acrescentando que a escolha de usar baloiços em palco não foi por acaso. “Os baloiços dão ritmo à conversa, podem parar ou seguirem mais agitados. Qualquer movimento se reflete na pessoa que está a ouvir, há uma contaminação física no corpo do outro sem existir qualquer tipo de toque e isso interessou-me.”
Os vários tipos de queijo, o relato de um jantar que não correu como esperado, uma enumeração de hábitos e rotinas ou a explicação detalhada do novo conceito de “outrificação”, onde o preconceito, o racismo e a intolerância são pilares, são alguns temas que mergulham nestes monólogos. “Não há um fio condutor ou uma coerência entre eles, o que os liga é o espaço cénico que é comum aquelas figuras e aquelas vozes. Não são relatos biográficos, partem de ideias e de experiências dos próprios atores, que foram debatidas em cima da mesa num trabalho colaborativo.”
O elenco tem idades e nacionalidade diferentes, não se trata de uma estratégia pensada ou um manifesto de representatividade, apenas de uma vontade artística de usar vários universos e referências em palco. Os sete atores — Célia Fechas, Flávio Catelli, Gonçalo Fonseca, José Ribeiro, Maria Inês Peixoto, Sara Costa, Valdemar Santos — estão despidos de maquilhagem, adereços, tiques ou qualquer tipo de caracterização. “Gosto da ideia do público vir falar com uma pessoa e não com um personagem, aliás, não há construção de personagem”, sublinha a encenadora.
Durante 45 minutos, a liberdade e a autonomia do espectador é total, pode escolher percorrer todos os baloiços e ouvir todas as histórias, permanecer apenas num e ouvir várias vezes o mesmo texto, não se sentar em nenhum e observar a cena na lateral do palco ou abandonar a sala quando quiser. “Mais do que vierem assistir a um espetáculo, vêm visitar um espaço cénico sem imposições, ao mesmo tempo que se apropriam deste objeto artístico.”
Além de trabalhar a proximidade, num tempo em que ela é quase proibida, Diana Sá pretende parar o tempo e dar prioridade ao verbo escutar. “É importante termos tempo para ouvir o outro, mesmo que não nos identifiquemos com nada do que ele diz, neste exercício de escuta também ganhamos alguma coisa como pessoas. Hoje estamos demasiado presos a nós próprios e às nossas ideologias, o que é bom por um lado, mas por outro há que ter disponibilidade para o outro, porque a diversidade ensina-nos sempre qualquer coisa.”