A equipa feminina de curling da Coreia do Sul, que participa nos Jogos Olímpicos de Inverno em Pequim, é uma das favoritas na corrido pelo ouro, tendo ficado em segundo lugar no Jogos de 2018.

Mas não é só a pontuação de há quatro anos que torna esta equipa de atletas especial. Em 2018, nove meses depois dos Jogos de Inverno, as “Raparigas de Alho” — alcunha que lhes foi atribuída em função do produto principal da região onde nasceram — convocaram uma conferência de imprensa onde acusaram dois dos seus treinadores e o pai de um deles de abusos verbais e psicológicos.

As cinco atletas explicaram na altura, conta o New York Times, que estes as insultavam, puniam-nas se interagissem com outros colegas, proibiam-nas de utilizar redes sociais e ficaram com o dinheiro referente ao prémio dos Jogos Olímpicos de Inverno. Além disso, os treinadores terão tentado afastar a capitã da equipa — Kim Eun-jung — quando esta revelou querer começar uma família.

A conferência de imprensa dada pelas atletas reacendeu um debate na Coreia do Sul em relação ao tratamento dado aos atletas por parte dos treinadores. Em 2008, a Comissão Nacional dos Direitos Humanos do governo sul-coreano concluiu que 80% dos estudantes atletas até ao ensino secundário tinham sido sujeitos a abusos verbais e físicos perpetrados pelos seus treinadores e colegas de equipa mais velhos.

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Em fevereiro de 2019, uma investigação realizada pelo governo concluiu que as acusações das “Raparigas de Alho” eram verdadeiras, e os treinadores acabaram banidos do desporto de forma permanente.

Os técnicos que se seguiram, em conjunto com o já treinador canadiano Peter Gallant, formaram pela primeira vez um trio composto por técnicos estrangeiros à frente das equipas de curling feminino, masculino e misto.

Depois dos abusos terem sido conhecidos, Peter Gallant — que ajudou a equipa a alcançar a prata em 2018 — apoiou publicamente as suas atletas, e é ele quem vai orientar a equipa nos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim, o que pode colocar as “Raparigas de Alho” ainda mais perto do título de campeãs.

Quatro das cinco raparigas vêm de uma cidade localizada numa zona rural conhecida pela sua produção de alhos, motivo pelo qual as atletas receberam esta alcunha. Mas não é o único pseudónimo utilizado pelas atletas.

Tendo todas o mesmo apelido, Kim, as colegas de equipa distuinguem-se utilizando o nome das suas comidas favoritas. Assim, Kim Eun-Jung é “Annie“, uma marca de iogurte; Kim Yeong-mi é “Panqueca“; a sua irmã e colega de equipa, Kim Kyeong-ae é “Bife“; Kim Cho-hi é “ChoCho“, referência a bolachas de chocolate; e Kim Seon-yeong é “Sunny“, uma referência aos ovos estrelados.