Mais de 50 artistas portugueses, cabo-verdianos, guineenses e angolanos juntam-se em palco, este sábado, em Grândola (Setúbal), num espetáculo que conta a história dos nacionalistas africanos encarcerados no Campo do Tarrafal, em Cabo Verde.

Intitulado “O Campo de Chão Bom”, o espetáculo, da autoria da jornalista Paula Torres de Carvalho e com direção artística de Pascoal Furtado, tem estreia marcada para às 21h00, no Parque de Feiras e Exposições da vila, com o apoio da Câmara de Grândola e da Direção Regional de Cultura do Alentejo.

“A ideia de fazer este espetáculo começou a ser construída com o anúncio da candidatura do Tarrafal a Património da Humanidade, proposta por Portugal e Cabo Verde”, explicou sexta-feira à agência Lusa Paula Torres de Carvalho.

O texto é inspirado no livro “O Diabo foi meu Padeiro”, do escritor, músico e ex-ministro da Cultura de Cabo Verde Mário Lúcio, que vai estar em Grândola, no litoral alentejano, para uma participação especial na peça.

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A jornalista, que trabalha há cerca de seis anos “com um grupo intergeracional de cabo-verdianos da diáspora, luso-cabo-verdianos e portugueses amantes da cultura de Cabo Verde”, tem “construído outros espetáculos” mantendo o foco na “preocupação histórico social”.

“Temos feito um caminho na construção destes eventos culturais, no sentido de transmitir às gerações mais novas a memória da sua história”, frisou.

O espetáculo multidisciplinar a apresentar em Grândola retrata a história dos nacionalistas africanos encarcerados no Campo do Tarrafal, na Ilha de Santiago, em Cabo Verde, por se oporem ao regime colonialista e à ditadura do Estado Novo.

Segundo a autora, a peça centra-se na “segunda fase” da história do Campo do Tarrafal que reabriu em 1961, com o nome de “Campo de Trabalho de Chão Bom”, para “enclausurar nacionalistas africanos que lutavam pela independência” de Cabo Verde.

“Isto faz parte da memória histórica de Cabo Verde e de Portugal naquilo que respeitou à luta contra a ditadura e é um dever de memória relativamente a todos aqueles que estiveram presos e morreram” na antiga colónia penal portuguesa, sublinhou.

Para o trabalho de pesquisa sobre o também designado “campo da morte lenta”, a criadora contou com “o contributo” de um ex-prisioneiro do Tarrafal, que forneceu “o seu testemunho na recolha de informação”.

De acordo com a criadora, o Ministério da Cultura “já reconheceu o manifesto interesse cultural” do espetáculo.

A megaprodução junta em palco “um grupo intergeracional” de mais de 50 artistas cabo-verdianos, guineenses, angolanos e portugueses, profissionais e amadores, e inclui vários géneros artísticos, nomeadamente música ao vivo, dança, teatro, poesia, artes circenses e vídeo, indicou.

O espetáculo tem direção e participação musical de António Barbosa, com música ao vivo de Sofia Carvalho (voz), sobrinha-neta do poeta cabo-verdiano Ovídio Martins, e de António Lima, Armando Tito, Djone Santos, Lopes Blimundo e a participação do coro Voz Terra, dirigido por Heloísa Monteiro.

Depois de Grândola, no litoral alentejano, a peça será também apresentada, no próximo dia 9 de abril, no Centro Cultural de Carnide, em Lisboa.