A Unicef deu esta terça-feira o alarme sobre a crise alimentar na Somália, onde a desnutrição aguda ameaça metade dos menores de 5 anos devido à seca que afeta este país no Corno de África.

Após três temporadas de chuvas fracas e uma quarta à vista, a Somália, devastada por décadas de guerra, precisa de apoio humanitário internacional urgente, alertou o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

“A desnutrição atingiu níveis de crise”, disse Victor Chinyama, diretor de comunicação da Unicef na Somália.

“A hora de agir é agora”, disse Chinyama à imprensa numa videoconferência, em que alertou: “Se se esperar até que a situação se deteriore ou a fome seja declarada, pode ser tarde demais”.

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A Somália é o país do Corno de África mais severamente afetado pela seca. Segundo a ONU, 4,1 milhões de pessoas – um quarto da população – precisam de ajuda alimentar de emergência.

As crianças menores de 5 anos são particularmente afetadas pela crise. Cerca de 1,4 milhão delas — mais ou menos metade – estão em risco de desnutrição aguda e, destes, 330.000 precisarão de tratamento para desnutrição aguda grave, disse ainda Chinyama.

A Unicef precisa urgentemente de 7 milhões de dólares (cerca de 6 milhões de euros) até março para encomendar alimentos terapêuticos prontos a distribuir e serem consumidos. Caso contrário, 100.000 crianças serão privadas de tratamento que as pode salvar.

A desnutrição aguda grave caracteriza-se por uma perda de peso muito significativa e a criança enfrenta um risco muito elevado de doença (diarreia, sarampo, entre outras doenças) e mortalidade.

Cerca de 7.500 casos de sarampo foram registados na Somália no ano passado, o dobro dos casos de 2019 e 2020 em conjunto.

A seca provoca igualmente uma crise migratória, destacou Chinyama.

Cerca de 500 mil pessoas deixaram as suas casas desde novembro em busca de comida, água e pasto. Esse número soma aos 2,9 milhões de pessoas já deslocadas internamente.

Seca e deslocamento também são sinónimos de insegurança para crianças na Somália, onde os rebeldes jihadistas do Al-Shabab controlam vastos territórios nas áreas rurais.

Em 2021, grupos armados recrutaram 1.200 crianças — incluindo 45 meninas — e sequestraram à força outras 1.000, segundo a Unicef.

No total, a Unicef ainda precisa de 38 milhões de dólares para atender este ano às necessidades humanitárias na Somália.