A E-Redes — à qual está concessionada a rede de distribuição elétrica em Portugal Continental e que até há pouco mais de um ano era conhecida como EDP Distribuição — está a colaborar com a empresa Albatroz Engenharia para monitorizar a rede de alta e média tensão através de tecnologia que reduz custos e impactos ambientais, segundo os responsáveis. Aquela rede atinge 69 mil quilómetros de extensão, dos quais cerca de 30 mil atravessam mato e floresta. É nestas áreas que se verifica a colaboração entre as duas entidades.

No 13º episódio do programa “O Regresso da Indústria”, emitido a 8 de fevereiro pela Rádio Observador, Ricardo Messias, diretor da Gestão da Vegetação da E-Redes, explicou que a parceria com a Albatroz consiste em garantir a integridade dos cabos e postes elétricos e, ao mesmo tempo, a coabitação saudável entre infraestruturas e espaços verdes que eles atravessam. “Temos de monitorizar muito bem a infraestrutura. Primeiramente, para salvaguardar a segurança de pessoas e bens, e sem segundo plano para garantir a continuidade do serviço” de fornecimento de energia, disse o convidado.

Para contextualizar, Ricardo Messias explicou que a E-Redes adota meios inovadores na gestão da rede, nomeadamente voos de helicóptero que recorrem a diferentes tecnologias (termografia, ultravioleta ou laser) para monitorizar a rede elétrica e detetar por antecipação potenciais problemas. Estas inspeções contínuas implicam 20 mil quilómetros anuais de voo de helicóptero e originam relatórios a partir dos quais se decide enviar equipas técnicas para intervirem em locais concretos.

Com recurso às soluções técnicas da Albatroz Engenharia, nomeadamente machine learning (aprendizagem automática), a E-Redes tem estado a cruzar dados de que já dispõe, transformando-os agoras em nova informação legível. Pretende-se conhecer tão bem o enquadramento da rede que se saiba quando é preciso intervir num local, mesmo sem ter havido prévio sobrevoo. Ricardo Messias sublinhou que a parceria está “numa fase inicial” e incide por enquanto em quatro distritos considerados prioritários, com a intenção de ser alargada a toda a rede elétrica em espaço florestal.

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“Manter os custos comprimidos”

O outro convidado do programa, João Gomes Mota, cofundador da Albatroz Engenharia — empresa com escritórios em Lisboa e Castelo Branco, que atua nas áreas da robótica, aeronáutica, software, mecânica e eletrónica — explicou que, a partir dos dados em bruto já disponíveis, se consegue “agarrar numa nuvem de pontos, chamada vegetação, e separar todas as árvores, uma a uma”. Separar as árvores no que diz respeito à informação visual. A partir daí, faz-se a identificação das árvores e depois das espécies (pinheiro-bravo e eucalipto, por exemplo) presentes em espaços atravessados por cabos e postes elétricos. A breve prazo, será viável calcular a taxa de crescimento de cada elemento da vegetação cujas dimensões interfiram na infraestrutura.

João Gomes Mota fez notar que o projeto é replicável noutros contextos e organizações e acrescentou que “o grande desafio é fazer isto a partir de dados pré-existentes, e não novos, de forma muito automatizada, para manter os custos comprimidos”. O mesmo responsável sublinhou: “Quando olhamos a linha como parte de um ecossistema, temos de pensar nos interesses dos bombeiros, das pessoas que vivem à volta, de quem faz passeios na natureza, dos pastores e dos donos dos terrenos sobre os quais a E-Redes tem direito de passagem.”

No mesmo sentido, Ricardo Messias defendeu que estas soluções de machine learning têm efeitos benéficos no meio ambiente, desde logo reduzindo a quantidade de voos de helicóptero, que emitem dióxido de carbono. Além disso, “este tipo de conhecimento fino do que está no enquadramento da linha permite-nos assegurar uma melhor interação com a biodiversidade local”.

O Regresso da Indústria é uma série de programas que resulta de uma parceria entre a Rádio Observador e a COTEC Portugal – Associação Empresarial para a Inovação, num projecto co-financiado pelo COMPETE 2020, Portugal 2020 e União Europeia, através do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional. Cada episódio é transmitido de 15 em 15 dias, às quartas-feiras, na Rádio Observador (nas frequências 93.7 e 98.7 em Lisboa, 98.4 no Porto e 88.1 em Aveiro) e pode depois ser escutado como podcast. Também às terças-feiras é publicado quinzenalmente um artigo no Observador com o essencial do programa da semana anterior.