Os estudantes devem parar de dizer “senhor” ou “senhora” quando falam com o professor, chamando-o apenas como “teacher” (em inglês, a palavra professor não tem flexão em género) seguido do sobrenome. Já do lado do educador, devem ser dispensados termos como “rapazes”, “raparigas”, “filho” e “mãe”, substituindo-os por “estudantes”, “criança” ou “progenitor”.

Quem o diz é a diretora executiva da associação Educar & Celebrar do Reino Unido, Elly Barnes, nas palestras intituladas “Obter a Linguagem Certa para 2022”, que são financiadas pela União Nacional de Educação (NEU, na sigla inglesa).

Em vídeos vistos pelo The Telegraph, Barnes sugere a remoção das categorias de “masculino” e “feminino” dos formulários de matrícula nas escolas, “deixando em aberto” esse parâmetro. Mostrou ainda um “código de conduta” que as escolas deveriam ter durante o acolhimento. Encorajado pela própria, a diretora da associação considerou que, caso as pessoas não concordassem, não deveriam ser autorizadas a entrar nas instalações.

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Após a adaptação à linguagem neutra, o próximo passo é ponderar a introdução de uniformes sem caraterísticas tipicamente femininas ou masculinas.

A Educacar & Celebrar, que já recebeu financiamento do Departamento de Educação britânico (DfE) e tem contratos com o governo, enfrentou anteriormente críticas por alertar os professores que é permitido não contar aos pais caso um aluno se declare transgénero.

O NEU não respondeu a um pedido de comentário do The Telegraph sobre quantas sessões já foram realizadas pela associação.

De acordo com o site, contudo, uma sessão para sindicatos custa 400 libras (cerca de 478 euros), e mencionam ainda um “prémio de orgulho pela equidade, diversidade e inclusão” para o qual “milhares de creches, escolas primárias, escolas secundárias, faculdades e empresas” já se inscreveram.

Adotar linguagem neutra nas escolas é “minar” a segurança das crianças

As sugestões de linguagem inclusiva não agradam a todos os que participam nas sessões. Um professor que não quis ser identificado criticou a NEU por financiar uma instituição de solidariedade que “mina” a segurança das crianças e “apaga” a existência das mulheres.

Foi propaganda para ativistas trans e totalmente contra as diretrizes do DfE, mas eles [associação] estavam a apresentar [as regras de linguagem neutra] como um facto. Os professores vão aceitar o que essa mulher diz como facto, porque a formação foi organizado pelo NEU e eles não vão questionar o próprio sindicato”, afirmou ao mesmo jornal.

O participante garantiu ainda que Barnes incentivou os professores a perguntar aos alunos os pronomes com os quais gostariam de ser tratados, e disse que a instituição trabalha com crianças trans a partir dos três anos.

Em resposta, um porta-voz da NEU assumiu que “a União não acredita que as escolas possam ou devam adotar uma linguagem neutra em termos de género transversalmente”, salvaguardando que vai “rever o conteúdo [das formações] para garantir que é consistente com as políticas defendidas”. Relembra, contudo, que “um número crescente de jovens está a identificar-se como não binário, e a educação precisa responder a isso”.

A Educar & Celebrar não respondeu a um pedido de comentário do jornal britânico, porém horas depois da publicação da notícia emitiu um comunicado a recusar as críticas da “única pessoa do webinar a levantar uma objeção”, revelando saber a identidade do professor que deu as declarações. “As escolas e as organizações que trabalham connosco consideram as nossas sessões úteis, acolhedoras e informativas”, atirou, salientando que o objetivo primordial é dar “confiança” aos trabalhadores das escolas na abordagem aos estudantes.