O presidente da Ryanair apelou diretamente ao primeiro-ministro, António Costa, para antecipar a cedência de slots por parte da TAP no aeroporto de Lisboa. Numa conferência de imprensa realizada esta quarta-feira em Lisboa, Michael O’Leary defendeu que a cedência de 18 slots imposta pela Comissão Europeia à TAP para autorizar a ajuda pública é insuficiente em dimensão e sobretudo vem muito tarde, já depois do verão, para o qual se antecipa uma grande retoma do setor da aviação.

O gestor não compreende porque é que a TAP não entrega já os slots que, segundo Michael O’Leary, não vai usar, e escreveu uma carta ao primeiro-ministro em que avisa que pode ser forçada a reduzir o número de aviões baseados em Lisboa de sete para quatro, o que representa a perda de 20 rotas para a capital numa altura em que essa oferta seria importante para a retoma do turismo, sublinha.

A carta seguiu para António Costa e não para Pedro Nuno Santos com quem Michael O’Leary já entrou em conflito de forma pública no passado. Isto porque o Costa vai ser primeiro-ministro e ainda ninguém sabe quem vai ser o ministro com a pasta da aviação.

A entrega aos concorrentes de 18 reservas de tempo para voar no aeroporto de Lisboa foi o principal compromisso assumido por Portugal para garantir o sim da Comissão Europeia à ajuda de 3 mil milhões de euros à TAP. No entanto, esse processo terá de ser feito por concurso público acompanhado por um auditor independente e com regras definidas pelos serviços da concorrência europeus, como explicou já o Observador.

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TAP pode ter a última palavra na escolha do concorrente que ficará com os slots no aeroporto de Lisboa

“A Ryanair apela ao Governo português, pela última vez, que force a TAP a libertar slots não utilizados de forma a promover a concorrência, o crescimento e a salvaguardar rotas e empregos em Lisboa”. Segundo números divulgados pelo gestor, “o bloqueio da utilização de slots pela concorrência — como a Ryanair — tem um impacto negativo nos cidadãos portugueses e visitantes com uma perda potencial de mais de 250 milhões de dólares em receitas de turismo para o país”.

Para evitar esse cenário, a decisão de entregar à concorrência os slots teria de ser tomada nas próximas semanas, de forma a permitir um recuo no corte previsto do número de voos.

O gestor considerou “incompreensível” a decisão da Comissão Europeia de aceitar a cedência de apenas 2% dos slots da TAP quando a empresa vai reduzir a sua frota em 20%. E sobretudo contesta que Bruxelas permita que essa cedência só aconteça em novembro e não já. E considera que a decisão de atribuir à TAP o poder para escolher a proposta em caso de empate dos concorrentes aos slots “não faz sentido”.

A Ryanair prossegue a sua luta no Tribunal Europeu contra as ajudas públicas a companhias aéreas como a TAP, mas agora o seu CEO suavizou o discurso contra esse apoio. “Compreendemos que a TAP precisa da ajuda pública, porque se não estaria falida. Mas consideramos que essas ajudas não têm compensações suficientes do ponto de vista do impacto na concorrência e chegam demasiado tarde para ser úteis”.

“É mais um erro da Comissão Europeia que não é do interesse dos consumidores”.