Um quarto dos transportes marítimos na Europa será movido a gás natural até 2030, um combustível fóssil que tem poucos benefícios para o clima e que se vai manter durante décadas, alerta um estudo divulgado esta quarta-feira.

O estudo, da Federação Europeia de Transportes e Ambiente (T&E, na sigla original), salienta que os 25% de transportes marítimos movidos a gás fóssil é fruto das “débeis metas de sustentabilidade da União Europeia (UE) que encorajam uma maior utilização de metano”, e defende antes o investimento em combustíveis como o hidrogénio verde.

A T&E, uma organização não ambiental de defesa de políticas sustentáveis para o setor dos transportes, alerta que o transporte marítimo é dos maiores poluidores do mundo e permanece “altamente dependente de combustíveis fósseis”.

“A velha narrativa do gás como combustível de transição já não é sustentável – já não podemos simplesmente mudar de um combustível fóssil para outro, pois isto não nos levará a atingir zero emissões líquidas até 2050. Ao colocarmos mais metano na atmosfera, estamos a aquecer dramaticamente o planeta“, diz a T&E citada num comunicado da organização ambientalista portuguesa Zero, que também faz parte da federação.

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O metano é um gás com efeito de estufa mais potente que o mais divulgado dióxido de carbono.

No comunicado, a Zero lembra que como parte do Objetivo 55, um pacote legislativo para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa em 55% até 2030 na União Europeia, a Comissão Europeia quer reduzir a pegada carbónica dos navios. Mas, acrescenta a Zero, encoraja que os navios movidos a fuelóleo sejam substituídos por outros movidos a gás fóssil.

O estudo da T&E, diz a Zero, mostra que o gás fóssil deve constituir 23% do total de energia utilizada nos transportes marítimos na União Europeia até 2030, “mais 6% do que atualmente, com custos mais baixos que as alternativas verdadeiramente limpas, mas com muitas emissões associadas”.

A proposta da Comissão Europeia, como está, implica que os navios terão “poucos ou nenhuns incentivos” para mudar para alternativas sustentáveis como o hidrogénio verde ou combustíveis baseados em hidrogénio, conhecidos como combustíveis sintéticos (e-fuels), diz-se no comunicado.

A federação sugere que a UE impulsione a procura de combustíveis à base de hidrogénio, e recomenda uma cota mínima de 6% para combustíveis sintéticos navais.

O regulamento dos combustíveis navais da UE está a ser discutido no Parlamento Europeu e no Conselho da UE. Um texto final deve ser conhecido no segundo semestre deste ano.

No comunicado a Zero propõe que Portugal não invista em abastecimento de gás natural liquefeito, porque tal investimento, acrescenta, vai no sentido oposto ao da descarbonização.