A EDP registou lucros de 657 milhões de euros no ano passado, uma queda de 18% face ao ano de 2020. Esta evolução é explicada pela empresa com efeitos não recorrentes, incluindo imparidades relacionadas com as centrais de gás natural na Península Ibérica. Sem esse efeito, o lucro consolidado recorrente da EDP subiu 6% para 826 milhões de euros.

Para os lucros da elétrica contribuíram positivamente a integração da Viesgo em Espanha e o crescimento das operações de redes no Brasil. A penalizar o lucro da EDP esteve a subida dos preços da energia nos mercados grossistas e a queda dos recursos hídricos em Portugal. A empresa teve ainda que provisionar 48 milhões de euros para pagar multa de Autoridade da Concorrência por abuso de posição dominante no mercado de serviços de sistema. Mas a maior penalização veio das imparidades relacionadas com as centrais de ciclo combinado no valor de 164 milhões de euros.

O presidente executivo da EDP, Miguel Stilwell de Andrade, destacou a instabilidade dos preços grossistas no mercado ibérico (Mibel), mas deixou a garantia:  “A EDP não beneficiou destas subidas porque esteve sempre do lado do cliente. Absorveu o impacto dos preços altos”. As empresas e os 4,2 milhões de clientes domésticos não sentiram o aumento dos preços no ano passado. Durante a apresentação dos resultados, o gestor afirmou que o “nosso propósito é proteger os clientes e isso não vai mudar em 2022. Continuamos com a política de estabilidade”.

EDP nega produção excessiva nas barragens. “Temos feito uma exploração responsável e estamos aqui para fazer parte da solução”

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A falta de chuva e a queda da produção hídrica, e a circunstância de a EDP vender mais eletricidade do que a que produz obrigam a empresa a cobrir esse delta com compras no mercado que, sobretudo no último trimestre, “tiveram impacto bastante negativo nos nossos resultados”, afirmou o administrador financeiro, Rui Teixeira. Não obstante, e ainda assim, os “resultados são bons” e a elétrica vai propor um dividendos em linha com o plano apresentado há um ano de 19 cêntimos por ação.

EDP aconselha empresas a fazerem contratos a longo prazo para baixar preços

Os resultados da unidade de negócio de produção e comercialização na Península Ibérica desceram 330 milhões de euros face ao ano de 2020, precisou o gestor durante a conferência de imprensa. Não obstante, o presidente executivo admitiu que esta política não é sustentável no médio e longo prazo, quando questionado sobre o impacto da alta do preço de gás natural causada pela tensão na Ucrânia.

Já para os clientes empresariais a EDP diz que é preciso outra dinâmica. Ou seja, terá de atualizar os preços. A empresa está a aconselhar os clientes empresariais a contratarem a prazos mais longos, a 12 e 18 meses e até a cinco anos para baixar os preços. Não era uma prática da Europa, mas isso está a mudar, sinalizou Rui Teixeira.

Outro fator que penalizou os resultados da EDP foi o reconhecimento de uma perda contabilística no valor das centrais a gás natural de 232 milhões de euros, porque a empresa considera que os ativos térmicos vão desvalorizar mais no quadro da transição energética. No entanto, para já, não há planos para vender estas centrais. A EDP comprometeu-se a ter apenas produção renovável até 2030. A capacidade instalada das renováveis representa 81% e, segundo a empresa, é o principal fator responsável pelo crescimento dos resultados.

O gestor foi ainda questionado sobre a razão de a EDP Renováveis ter ficado em último lugar na classificação do concurso para a reconversão da central do Pego. Stilwell de Andrade não quis dar grandes detalhes, mas defendeu que a proposta apresentada foi “agressiva e realista”. A Endesa ficou em primeiro lugar neste concurso cuja decisão final ainda não foi anunciada.

2022 ainda está a ser afetado pelo contexto pandémico com muita imprevisibilidade na cadeia de valor que levou a uma inflação no preço dos painéis solares e das turbinas e nos prazos de entrega, situação que entretanto estabilizou. O gestor defendeu ainda a necessidade de um contexto mais célere do licenciamento de investimentos na rede elétrica. “Existem objetivos ambiciosos do lado político, mas é preciso transformá-los em projetos concretos”. A EDP investiu
400 milhões de euros na rede na Península Ibérica, valores muito focados na eficiência a na digitalização.

Stilwell de Andrade começou por destacar o cumprimento dos objetivos do plano estratégico ao nível de metas de potência renovável, venda de ativos e com a dívida mais baixa dos últimos 14 anos. O investimento consolidado cresceu 20% para 3,5 mil milhões de euros em 2021. O investimento em expansão da EDP aumentou 22% para 2,9 mil milhões de euros, representando 84% do investimento total consolidado.