Do nada, o jogo mudou. Dentro e fora de campo. Onde estavam adeptos do Benfica no alto do topo norte de pé a cantar passaram a estar adeptos do Boavista nas três restantes bancadas à espera de mais um golo. Onde se via um ambiente descontraído no banco dos encarnados passou a estar Grimaldo de cabeça baixa a passar a mão na cabeça – ainda mais quando viu aos 90′ um livre mesmo à medida do seu pé esquerdo mas já não estava em campo. Onde estavam os sorrisos nas camisolas vermelhas passaram a estar rostos desolados e um em particular, o de João Mário, que não parecia sequer acreditar no que tinha acontecido. Até pouco mais de um quarto de hora do final, os visitantes tinham a vitória; a partir daí, arriscaram-se mesmo a perder.

Taarabt e a diferença entre caçar ou ser caçado (a crónica do Boavista-Benfica)

Pela segunda vez na presente temporada o Benfica conseguiu chegar ao 2-0 à meia hora, pela segunda vez também consentiu o empate no segundo tempo depois do 3-3 em Guimarães para a Taça da Liga. Com isso, aquilo que parecia ser um inédito terceiro triunfo consecutivo de Nelson Veríssimo tornou-se a igualdade que pode deixar o FC Porto de novo com 12 pontos de avanço e o Sporting a seis, em caso de triunfo nos jogos de domingo que irão realizar contra Moreirense e Estoril. Tudo antes de uma receção ao Ajax, com essa agravante de ter sido apenas a terceira vez nos últimos dois anos em que os encarnados não conseguiram segurar uma vantagem de dois golos num encontro (a outra tinha sido no Algarve com o Portimonense).

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Naquela que foi já a sexta partida consecutiva a sofrer golos, algo que aconteceu em 80% das partidas com Nelson Veríssimo no comando da equipa, o Benfica perdeu mais dois pontos nesta segunda volta, num total de sete que eram os mesmos que Jorge Jesus tinha perdido em 15 encontros. E as contas são fáceis de fazer nos jogos com o antigo técnico da equipa B no comando: em menos de metade dos compromissos (15-8), perdeu já mais três pontos do que o antecessor (10-7). E Petit quebrou o “enguiço” 13 jogos depois, com um empate que no final o próprio Adel Taarabt, o melhor em campo dos encarnados, não conseguia explicar.

“Na primeira parte destruímos. Podíamos ter feito o 3-0 e matávamos o jogo. Não o fizemos e acho que na segunda parte não jogámos tão bem como na primeira parte mas tivemos chances claras para fazer o 3-0. Não o fizemos e terminou desta maneira. É de doidos porque a primeira parte foi toda do Benfica…”, referiu na zona de entrevistas rápidas da SportTV. “Mais importante do que marcar foi dar a vantagem à minha equipa. Para mim, entre marcar e terminar assim… Preferia não marcar e que a equipa ganhasse”, frisou.

“O treinador disse para jogarmos no segundo tempo como jogámos no primeiro. E tivemos chances claras, com o Rafa e o Ramos, mas depois… Assobios no final? É normal. Quando jogamos por este clube é sempre para ganhar. É um momento difícil para nós”, salientou o internacional marroquino, que foi depois secundado pelo treinador Nelson Veríssimo no demérito que o Benfica teve ao consentir o empate.

“Se as substituições não resultaram? Sim, quando fazemos as substituições… O Everton e o Taarabt, em especial os 70 minutos do Adel, foram com intensidade. A lógica foi refrescar com a entrada do João Mário para dar mais capacidade à equipa de ter bola que não estava a ter. A do Radonjic foi de fazer um ataque mais efetivo à profundidade que estava a ser dado à equipa do Boavista. Não foram só as substituições, a equipa como um todo não funcionou. Obviamente, a responsabilidade cabe ao treinador. É algo que temos de ver. Tivemos uma primeira parte muito boa mas havendo mérito do Boavista também houve demérito nosso e isso tem de nos fazer refletir. A equipa segue com a certeza que tem de ser competitiva do início ao fim. Agora é olhar para aquilo que se aproxima. Temos de recuperar os jogadores fisicamente e mentalmente para o jogo com o Ajax que vai ter um grau de dificuldade elevado”, assumiu o técnico.

“Na primeira parte e no início do segundo tempo tivemos situações que poderiam ter dado o terceiro golo e aí teríamos resolvido o jogo a nosso favor. Depois, o Boavista foi-nos empurrando cada vez mais para trás e nós sem capacidade para ter bola. Chegando ao 2-1, a emoção e a crença deles deu-lhes capacidade de o fazer [o empate a dois] e não tivemos capacidade de suster esse ímpeto. Há que dar mérito ao Boavista e houve demérito da nossa segunda parte. A primeira parte foi boa e o início da segunda parte também. Houve mérito do Boavista e muito demérito nosso, obviamente”, resumiu Nelson Veríssimo.