A administração da Galp Energia anunciou esta terça-feira uma mudança na estratégia de remuneração aos acionistas. A par da tradicional distribuição de dividendos, a empresa vai iniciar uma política de recompra de ações, uma operação que beneficia os acionistas porque tem um impacto positivo na procura e no preço em bolsa da Galp.

O presidente executivo Andy Brown explicou que esta opção — que em 2022 se vai traduzir em compras no valor de 150 milhões de euros — resultou das conversas que teve com os acionistas, a maioria dos quais manifestou essa preferência. A compra de ações próprias pela Galp vai ser definida ano a ano, e em função dos resultados do ano anterior, e poderá representar 3% a 4% do valor diário das transações realizadas na bolsa.

Em respostas aos analistas, após a apresentação dos resultados de 2021, o presidente executivo da Galp considerou ainda que as ações da empresa estão subavaliadas. Os investidores estavam habituados a uma crescimento muito agressivo do upstream (as atividades de exploração e produção de petróleo e gás), mas com o adiamento do investimento no projeto de gás natural de Moçambique, a Galp teve de travar.

Por outro lado, o CEO — que completou o primeiro ano à frente da petrolífera — considerou que os investidores “ainda não perceberam a escala dos novos investimentos em renováveis”, nem o retorno elevado que esses investimentos vão gerar na segunda metade da década. No dia em anunciou a recompra de ações, para além de um dividendo de 50 cêntimos por ação, os títulos da empresa desvalorizaram 2,94% na bolsa de Lisboa.

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Para acelerar a transição energética, a Galp anunciou a paragem na atividade de pesquisa de petróleo (vai explorar apenas as posições que já tem) e tem anunciado vários investimentos em produção a partir de fontes renováveis, nomeadamente em Espanha e Brasil. Para Portugal, a empresa está envolvida num projeto de hidrogénio verde para descarbonizar a refinaria de Sines e fez uma parceria para desenvolver a fileira do lítio com a componente industrial.

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“Não vamos mudar de estratégia”, avisou ainda Andy Brown. Apesar do foco nas renováveis, a Galp ainda está envolvida em vários projetos de produção de petróleo e gás natural no Brasil e tornou-se no ano passado comercializador de gás neste país. A empresa está a desenvolver vários projetos de crescimento orgânico nas renováveis, mas não afasta aquisições.

A Galp Energia anunciou lucros de 457 milhões de euros no ano passado, um resultado que contrasta com prejuízos de 42 milhões de euros em 2020. Esta evolução é explicada sobretudo pelos resultados na produção de petróleo e gás, ajudados pela retoma da procura e pelos preços. No entanto, as perturbações no mercado do gás natural, que incluíram falhas nas entregas, tiveram um impacto negativo nas contas da empresa da ordem dos 600 milhões de euros. Impacto que o administrador financeiro da Galp, Filipe Silva, espera seja ultrapassado este ano.

Galp teve lucros de 457 milhões de euros em 2021

Apesar da recuperação nas vendas de produtos petrolíferos, nomeadamente ao nível dos combustíveis rodoviários, marítimos e jet para a aviação, a procura ainda não voltou ao nível de 2019, ano anterior à pandemia.