João Almeida conhecia bem aquela subida, Tadej Pogacar ainda mais, Adam Yates também. Outros, mesmo já tendo passado por lá, ficaram sobretudo a conhecer, sem andar nos lugares da frente como Filippo Gana ou Stefan Bissegger. A Volta aos Emirados chegava à sua etapa rainha com chegada a Jebel Jais, a primeira de duas tiradas com chegadas a subir até sábado, e com os mesmos protagonistas de 2021 no top 10 da geral tendo outros nomes na altura ausentes da prova ou não tão fortes como Aleksandr Vlasov, Tom Dumoulin, Stefan de Bod ou Neilson Powless. Com uma nuance: Almeida e Pogacar estão hoje na mesma equipa.

O contrarrelógio era curto, a ambição nem por isso: João Almeida faz quinto lugar antes da etapa rainha da Volta aos Emirados

A condição física do bicampeão do Tour ainda chegou a levantar dúvidas após ter contraído Covid-19 mas a resposta que deu no curto contrarrelógio em Ajman dissipou qualquer incógnita, com o esloveno a mostrar-se ao pelotão para tentar renovar o título conquistado “em casa” no ano passado à frente de Adam Yates da Ineos e de João Almeida então na Deceuninck Quick-Step. No entanto, também o português esteve em bom plano, apenas a quatro segundos do líder da Team Emirates e com um quinto lugar que permitiu subir à sexta posição da classificação geral. Assim como a EF Education, com Bissegger e Powless (além de Rúben Guerreiro), e a Ineos, com Ganna e Yates, colocava dois corredores nos postos cimeiros antes da subida.

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“Uma coisa é o João, outra é o João em corrida. Não diria que fico uma besta mas ligo o race mode e é desafiar o corpo até ao limite”

Mesmo havendo um traçado diferente ao longo de pouco mais de 1.000 quilómetros com uma chegada a subir na última etapa (Jebel Hafeet), era aqui que as equipas colocavam grande parte das fichas. E tudo o que tinha sido pensado pela Team Emirates foi cumprido, com Tadej Pogacar a conseguir ganhar a tirada e João Almeida a festejar de braços no ar a conquista do líder da nova equipa entre uma grande corrida de Rúben Guerreiro, o melhor da EF Education que fez o último ataque antes de o esloveno “disparar”. Ainda assim, o português acabou em quarto a etapa, apenas atrás de Pogacar, Vlasov e Yates (a três segundos). Já João Almeida ficou na 18.ª posição da tirada, a 14 segundos do companheiro da Team Emirates.

Como era esperado, e depois de a fuga do dia ter sido anulada a 17 quilómetros da meta, a etapa tornou-se sobretudo uma batalha tática entre várias equipas a colocarem as suas peças na frente a trabalharem depois para a vitória dos respetivos líderes, com Rúben Guerreiro a ser o primeiro destaque nacional a ir atrás do grupo que descolou a menos de seis quilómetros, quando Stefan Bissegger e Dumoulin já tinham saído da luta deixando a camisola vermelha à mercê dos primeiros classificados da etapa. Jan Hirt, vencedor da Volta ao Omã, foi o fator desequilibrador e partiu de vez o grupo, levando consigo Pogacar, Adam Yates ou Vlasov enquanto João Almeida tentava num segundo grupo manter-se não muito distante, tanto que a 800 metros foi ele que se posicionou na frente para marcar o ritmo sem poupanças para a ponta final onde Tadej Pogacar voltou a ser o melhor tendo respondido bem a um último ataque de Rúben Guerreiro.

Com estes resultados, o esloveno assumiu a liderança da camisola vermelha, tendo agora dois segundos de vantagem em relação a Filippo Ganna, outra das surpresas do dia. Aleksandr Vlasov (13s) e Adam Yates (15s) surgem como os principais adversários do bicampeão do Tour, sendo que Neilson Powless ficou como o melhor da EF Education a 23 segundos. João Almeida mantém o sexto lugar da geral a 28 segundos do seu companheiro de equipa, seguido de Pello Bilbao (35s), Óscar Rodríguez (38s) e Rúben Guerreiro, o outro português na prova que com o quarto lugar da etapa chegou a nono classificado da geral a 40 segundos.

De recordar que esta é a primeira prova que João Almeida faz pela Team Emirates, equipa pela qual assinou no final do último ano após ter brilhado pela Deceuninck Quick-Step – e depois de ter recebido propostas de quase todas as formações do World Tour, algumas até mais vantajosas no plano financeiro. Após o brilhante Giro de 2020, onde acabou em quarto após ter liderado a prova durante duas semanas, o corredor de A-dos-Francos teve em 2021 um ano de confirmação, conseguindo, entre outros resultados, a vitória nas Voltas à Polónia e ao Luxemburgo (além do contrarrelógio nacional), o segundo posto no Giro dell’Emilia, o terceiro na Milão-Turim ou os sextos lugares no Giro e na Tirreno-Adriático. Em paralelo, foi na Volta aos Emirados, no início da época, que tinha conseguido aquele que foi o primeiro pódio no World Tour.

Apanhou dois sustos mas fez história: João Almeida consegue primeiro pódio da carreira numa corrida do World Tour